segunda-feira, 1 de julho de 2013

Desvalorização das reservas de ouro

TIAGO FIGUEIREDO SILVA

Carlos Costa garante que as reservas são para manter

As barras de ouro que estão guardadas nos cofres do Banco de Portugal valem hoje menos 4 mil milhões de euros do que no início do ano, quase tanto como o valor das medidas para a reforma do Estado.

As contas são simples de fazer. Portugal detém quase 383 toneladas de ouro, as quais, à cotação atual do metal amarelo de 1233 dólares a onça troy, valem 11,67 mil milhões de euros; no final do ano passado, as mesmas reservas estavam avaliadas em 15,6 mil milhões de euros. Ou seja, desde o arranque do ano, o valor das reservas de ouro do Banco de Portugal baixou quase 25%. A razão é a queda a pique dos preços do metal amarelo nos mercados internacionais.

A perda potencial de valor das reservas - caso o Banco de Portugal vendesse parte das suas reservas - ganha ainda uma maior dimensão se for calculada com base no "pico" do preço do ouro atingido a 5 de setembro de 2011. Nessa altura, o ouro chegou ao máximo histórico de 1898,99 dólares, o que avaliava as barras de ouro detidas por Portugal em 16,6 mil milhões de euros, ou seja, a desvalorização atual seria menos 30% ou menos 4,9 mil milhões.

Portugal figura entre os países com maiores reservas de ouro do Mundo. De acordo com os dados mais recentes do World Gold Council, relativos a junho, Portugal é o 15.0 no top mundial. Mas a realidade é que o Banco de Portugal não compra nem vende ouro desde o terceiro trimestre de 2006. As últimas vendas ocorreram em 2003 e 2006 ao abrigo de um acordo com outros bancos centrais, que limita as vendas deste ativo (ver caixa).

Reservas são para manter
O governador do Banco de Portugal, Carlos Costa, garantiu recentemente que as reservas vão manter-se em volume e apenas variar consoante a valorização do metal precioso. "Não esperamos que as reservas diminuam, já que constituem um capital credível muito importante e parte do capital que o Banco de Portugal utiliza para fazer face ao seu balanço", afirmou Carlos Costa, rejeitando seguir a intenção do Governo de Chipre, que pretende vender reservas de ouro no valor de 400 milhões de euros para ajudar a financiar o seu resgate.

Venda condicionada
No atual quadro legal da União Monetária Europeia, os governos não podem dispor livremente das reservas de ouro que são geridas pelos bancos centrais. O resultado das vendas efetuadas fica retido nesses bancos e não pode servir para amortizar a dívida do país. Os bancos centrais estão proibidos de financiar diretamente os Estados.

Considerado um ativo de refúgio pelos investidores em tempos de crise, o ouro entrou em queda acentuada, depois de Ben Bernanke, o presidente da Reserva Federal dos EUA (FED) ter anunciado que vai começar a desmantelar a política de estímulos à maior economia do Mundo. Na semana passada, o metal amarelo chegou a negociar abaixo da barreira psicológica dos 1200 dólares a onça troy, acumulando uma queda de 11% em junho, a maior desde outubro de 2008, um mês depois da mítica falência do banco Lehman Brothers.

Perdas históricas
Mas o saldo dos últimos três meses é ainda mais histórico. O tombo de 23% arrecadado no segundo trimestre é o maior desde 1920. Se continuar por este caminho, o ouro atreve-se a fechar o ano com o primeiro saldo negativo, depois de 12 anos de ganhos. Desde o início do ano, o ouro acumula já perdas de 26%, as maiores desde 1981.


Jornal de Notícias, 1 de Julho de 2013

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