TIAGO FIGUEIREDO SILVA
Carlos Costa garante que as reservas são para
manter
|
As barras de ouro que estão guardadas nos cofres do
Banco de Portugal valem hoje menos 4 mil milhões de euros do que no início do
ano, quase tanto como o valor das medidas para a reforma do Estado.
As contas são simples de fazer. Portugal detém quase
383 toneladas de ouro, as quais, à cotação atual do metal amarelo de 1233
dólares a onça troy, valem 11,67 mil milhões de euros; no final do ano passado,
as mesmas reservas estavam avaliadas em 15,6 mil milhões de euros. Ou seja,
desde o arranque do ano, o valor das reservas de ouro do Banco de Portugal
baixou quase 25%. A razão é a queda a pique dos preços do metal amarelo nos
mercados internacionais.
A perda potencial de valor das reservas - caso o
Banco de Portugal vendesse parte das suas reservas - ganha ainda uma maior
dimensão se for calculada com base no "pico" do preço do ouro
atingido a 5 de setembro de 2011. Nessa altura, o ouro chegou ao máximo
histórico de 1898,99 dólares, o que avaliava as barras de ouro detidas por
Portugal em 16,6 mil milhões de euros, ou seja, a desvalorização atual seria
menos 30% ou menos 4,9 mil milhões.
Portugal figura entre os países com maiores reservas
de ouro do Mundo. De acordo com os dados mais recentes do World Gold Council,
relativos a junho, Portugal é o 15.0 no top mundial. Mas a realidade é que o
Banco de Portugal não compra nem vende ouro desde o terceiro trimestre de 2006.
As últimas vendas ocorreram em 2003 e 2006 ao abrigo de um acordo com outros
bancos centrais, que limita as vendas deste ativo (ver caixa).
Reservas são para manter
O governador do Banco de Portugal, Carlos Costa,
garantiu recentemente que as reservas vão manter-se em volume e apenas variar
consoante a valorização do metal precioso. "Não esperamos que as reservas
diminuam, já que constituem um capital credível muito importante e parte do
capital que o Banco de Portugal utiliza para fazer face ao seu balanço",
afirmou Carlos Costa, rejeitando seguir a intenção do Governo de Chipre, que
pretende vender reservas de ouro no valor de 400 milhões de euros para ajudar a
financiar o seu resgate.
Venda condicionada
No atual quadro legal da União Monetária Europeia,
os governos não podem dispor livremente das reservas de ouro que são geridas
pelos bancos centrais. O resultado das vendas efetuadas fica retido nesses
bancos e não pode servir para amortizar a dívida do país. Os bancos centrais
estão proibidos de financiar diretamente os Estados.
Considerado um ativo de refúgio pelos investidores
em tempos de crise, o ouro entrou em queda acentuada, depois de Ben Bernanke, o
presidente da Reserva Federal dos EUA (FED) ter anunciado que vai começar a
desmantelar a política de estímulos à maior economia do Mundo. Na semana
passada, o metal amarelo chegou a negociar abaixo da barreira psicológica dos
1200 dólares a onça troy, acumulando uma queda de 11% em junho, a maior desde
outubro de 2008, um mês depois da mítica falência do banco Lehman Brothers.
Perdas históricas
Mas o saldo dos últimos três meses é ainda mais
histórico. O tombo de 23% arrecadado no segundo trimestre é o maior desde 1920.
Se continuar por este caminho, o ouro atreve-se a fechar o ano com o primeiro
saldo negativo, depois de 12 anos de ganhos. Desde o início do ano, o ouro
acumula já perdas de 26%, as maiores desde 1981.
Jornal de Notícias, 1 de Julho de 2013