Instalação constituída pela projecção de dois filmes: um deles apresenta os relatos de quatro pessoas envolvidas nos processos de emigração clandestina por motivos políticos, entre 1971 e 1975. O outro transmite a experiência subjectiva da passagem de um afluente do rio Minho que, no último século, foi palco de várias actividades clandestinas de fronteira.Com esta mostra inicia-se uma nova linha de programação do Art Centre que, através de Project Rooms, apresentará, individualmente, obras recentes ou inéditas de artistas da colecção.
Informações pelo tel.: 214691806 ou info@ellipsefoundation.com.
Entrada: pagamento facultativo de 5 euros, revertendo para a Escola Profissional de Teatro de Cascais.
Ellipse Foundation Alcoitão De 6ª feira a domingo das 11h às 18h00
Organização: Ellipse Foundation
Inauguração: Dia 5 de Julho, às 19H00, patente até 14 de Setembro
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A Lusa em nota de 4.7.08, dizia:
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«"Le Passeur", de Filipa César, mostra as memórias da clandestinidade que atravessava um rio
Os relatos de um grupo envolvido na emigração clandestina nos anos 70 e o rio atravessado na época para fugir à ditadura são os personagens centrais da instalação "Le Passeur", de Filipa César, que se inaugura sábado na Fundação Ellipse.
Com esta obra - hoje apresentada aos jornalistas pela artista e pelo curador, Pedro Lapa - Filipa César inicia este ano um programa da Fundação que "irá convidar anualmente dois artistas emergentes" a apresentar projectos recentes ou inéditos naquela entidade, com sede em Alcoitão (Cascais).
"A ideia é dar a possibilidade aos artistas de produzir especialmente para este espaço, fazendo trabalhos mais arrojados", explicou Pedro Lapa, que também é director do Museu do Chiado - Museu de Arte Contemporânea.
Em "Le Passeur" (O Passador) - obra criada durante o primeiro semestre deste ano - Filipa César projecta em simultâneo dois filmes da sua autoria num grande écrã suspenso no centro de uma sala: de um lado, com as imagens de um afluente do rio Minho, do outro, com imagens do grupo de passadores, entrevistados pela artista, acompanhadas pelos seus testemunhos.
São quatro pessoas - um juiz, um advogado, um médico e uma professora - que, entre 1971 e 1975, em Melgaço, ajudaram desertores e activistas políticos a fugir do país, atravessando o rio, em direcção a França.
No filme, recordam o passado, as situações de risco de vida, a cumplicidade para ajudar outros a fugir a um regime político que os perseguia ou a fugir à guerra colonial.
Filipa César explicou à Lusa que começou a fazer as entrevistas em Fevereiro deste ano, individualmente e em grupo, e depois trabalhou todo o material, decidindo mostrar não apenas as personagens a falar, mas o rosto de cada um enquanto os outros falam.
"Foi uma opção com o objectivo de mostrar que eles não estão só a recordar, mas também a reflectir sobre todo aquele período, o impacto do relato de cada um nos outros, as tensões entre eles", indicou.
Laurinda - a única mulher deste grupo - era uma das importantes ligações da rede de passadores. Filha de um contrabandista e da proprietária de uma pensão, ali recebia os clandestinos até que surgisse a oportunidade para a passagem.
A dado momento da entrevista recorda que muitas vezes passava por uma mulher de bicicleta que ao vê-la fechava os olhos: "Ela sabia o que eu fazia, mas preferia não ver. Fechava os olhos. E eu fechava os olhos também", lembra a professora, sobre a conivência de alguns habitantes.
"É um trabalho complexo, que tem vários níveis. Eu não queria fazer só uma obra documental", explicou, por seu turno, a artista, nascida em 1975, no Porto, e que vive e trabalha em Berlim desde 2001.
Com trabalhos expostos anteriormente na Culturgest e em Serralves, também em Viena e em Londres, Filipa César apresenta-se pela primeira vez na Fundação Ellipse com "Le Passeur", que será inaugurada sábado na entidade e estará patente até Setembro.
"É um trabalho sobre os limites, sobre a revelação de algo que está por detrás, sobre o uso de um território específico e também a ideia de passagem como conceito geral", acrescenta Filipa César.
A artista tem vindo a explorar os aspectos ficcionais do género documental, tendo já produzido trabalhos como "F for Fake" e "Rapport", que se situam na ténue fronteira entre a crónica e o contar de estórias.»
Com esta obra - hoje apresentada aos jornalistas pela artista e pelo curador, Pedro Lapa - Filipa César inicia este ano um programa da Fundação que "irá convidar anualmente dois artistas emergentes" a apresentar projectos recentes ou inéditos naquela entidade, com sede em Alcoitão (Cascais).
"A ideia é dar a possibilidade aos artistas de produzir especialmente para este espaço, fazendo trabalhos mais arrojados", explicou Pedro Lapa, que também é director do Museu do Chiado - Museu de Arte Contemporânea.
Em "Le Passeur" (O Passador) - obra criada durante o primeiro semestre deste ano - Filipa César projecta em simultâneo dois filmes da sua autoria num grande écrã suspenso no centro de uma sala: de um lado, com as imagens de um afluente do rio Minho, do outro, com imagens do grupo de passadores, entrevistados pela artista, acompanhadas pelos seus testemunhos.
São quatro pessoas - um juiz, um advogado, um médico e uma professora - que, entre 1971 e 1975, em Melgaço, ajudaram desertores e activistas políticos a fugir do país, atravessando o rio, em direcção a França.
No filme, recordam o passado, as situações de risco de vida, a cumplicidade para ajudar outros a fugir a um regime político que os perseguia ou a fugir à guerra colonial.
Filipa César explicou à Lusa que começou a fazer as entrevistas em Fevereiro deste ano, individualmente e em grupo, e depois trabalhou todo o material, decidindo mostrar não apenas as personagens a falar, mas o rosto de cada um enquanto os outros falam.
"Foi uma opção com o objectivo de mostrar que eles não estão só a recordar, mas também a reflectir sobre todo aquele período, o impacto do relato de cada um nos outros, as tensões entre eles", indicou.
Laurinda - a única mulher deste grupo - era uma das importantes ligações da rede de passadores. Filha de um contrabandista e da proprietária de uma pensão, ali recebia os clandestinos até que surgisse a oportunidade para a passagem.
A dado momento da entrevista recorda que muitas vezes passava por uma mulher de bicicleta que ao vê-la fechava os olhos: "Ela sabia o que eu fazia, mas preferia não ver. Fechava os olhos. E eu fechava os olhos também", lembra a professora, sobre a conivência de alguns habitantes.
"É um trabalho complexo, que tem vários níveis. Eu não queria fazer só uma obra documental", explicou, por seu turno, a artista, nascida em 1975, no Porto, e que vive e trabalha em Berlim desde 2001.
Com trabalhos expostos anteriormente na Culturgest e em Serralves, também em Viena e em Londres, Filipa César apresenta-se pela primeira vez na Fundação Ellipse com "Le Passeur", que será inaugurada sábado na entidade e estará patente até Setembro.
"É um trabalho sobre os limites, sobre a revelação de algo que está por detrás, sobre o uso de um território específico e também a ideia de passagem como conceito geral", acrescenta Filipa César.
A artista tem vindo a explorar os aspectos ficcionais do género documental, tendo já produzido trabalhos como "F for Fake" e "Rapport", que se situam na ténue fronteira entre a crónica e o contar de estórias.»
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Integrei, com a minha mulher, esse grupo de passadores e "dei o corpo ao manifesto" nos diálogos e monólogos de que nasceu esta instalação, com a saudade e a suavidade que o tempo decorrido nos traz.