sábado, 20 de abril de 2013

Cronologia dos principais acontecimentos desde as explosões na maratona


Principais acontecimentos ocorridos desde o atentado no final da maratona na cidade de Boston, EUA, que na segunda-feira fez três mortos e cerca de 180 feridos:
15 de abril
- Duas bombas explodem perto da linha da meta da maratona de Boston, matando três pessoas e ferindo cerca de 180.
- O Presidente dos EUA, Barack Obama, diz que não sabe quem está por trás dos ataques e ordena às autoridades fazer o que for necessário para descobrir os autores.
16 de abril
- Os médicos dizem que as vítimas dos atentados foram feridas por balas, estilhaços e pregos. O FBI afirma que não houve reivindicações do ataque e os investigadores estudam vários suspeitos.
- Obama considera os ataques como um ato terrorista "hediondo e cobarde".
- O FBI confirma que a carta dirigida a Obama continha uma substância venenosa, mas não é estabelecida uma relação com os ataques de Boston.
17 de abril
- A polícia confirma ter vídeos de um suspeito e ainda imagens tiradas no momento das explosões, na linha da meta da maratona.
18 abril
- Obama participa numa cerimónia especial inter-religiosa numa catedral em Boston com vítimas, médicos e líderes da cidade e do Estado. O Presidente promete um a caça implacável àqueles que mataram Martin Richard, 8 anos, Krystie Campbell, 29, e Lu Lingzi, um cidadão chinês de 23, e diz: "Vamos encontrá-lo."
- O FBI divulga fotos e vídeos de dois suspeitos dos ataques, apelando à população para ajudar a identificá-los.
- À noite, um polícia é morto com tiros no prestigiado Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) num tiroteio com supostos autores dos ataques. Outro agente é ferido.
19 de abril
- Um dos dois suspeitos morre no hospital após um tiroteio com a polícia, no bairro Watertown, perto do centro de Boston. É identificado com o Tamerlan Tsarnaev, 26 anos, de origem chechena.
- Uma grande caça ao homem é lançada para encontrar o seu irmão, Dzehekhar Tsarnaev, 19 anos, durante a qual todos os transportes públicos em Boston foram paralisados, as escolas fechadas e os moradores instruídos para manterem as portas encerradas.
- Os dois suspeitos viviam legalmente nos subúrbios de Boston.
20 de abril
- Este sábado, ainda noite de sexta-feira em Boston, a polícia anuncia a detenção de Dzhokhar Tsarnaev, o segundo suspeito do atentado pelas autoridades norte-americanas num bairro da cidade.

Público, 20-4-2013

Portugal criticado por abuso de força policial e violência contra mulheres


LUSA 
O relatório anual sobre direitos humanos, referente a 2012 e divulgado em Washington pelo secretário de Estado norte-americano John Kerry, volta a apontar a Portugal praticamente os mesmos problemas do ano anterior.
"Os principais problemas de direitos humanos [em Portugal] incluem uso de força excessivo e abuso sobre detidos e prisioneiros pela polícia e guardas prisionais, más condições e insalubridade nas prisões", assim como o encarceramento de jovens juntamente com adultos, de detidos preventivos com "criminosos condenados", refere o relatório.
O documento analisa a situação dos direitos humanos em quase 50 países, de todas as regiões do mundo, especificando vários dados estatísticos referentes, por exemplo, à acção das autoridades policiais, segurança, julgamentos, violência doméstica, liberdade religiosa e de expressão, corrupção e direitos civis e laborais.
Apesar do relatório se reportar a 2012, no caso de Portugal alguns dados estatísticos remetem para 2011 e 2010, estando desactualizados em certos pontos.
Citando dados da Direcção-Geral dos Serviços Prisionais, o relatório indica que em 2012 as prisões tinham 13.504 reclusos, o número mais alto dos últimos oito anos, com o sistema prisional a funcionar a 112 por cento da capacidade.
Apesar de terem sido denunciados casos de abuso de força das autoridades policiais, em particular nos cenários de manifestações civis ao longo de 2012, o relatório norte-americano reporta-se a dados de 2010, com a Inspecção-Geral da Administração Interna a receber 649 queixas contra a PSP e a GNR.
O documento alerta ainda para o sistema de prisões preventivas, que continua a ter casos de demasiado longas detenções - a média é de oito meses.
"A violência contra mulheres, incluindo violência doméstica, continua a ser um problema", sublinham os Estados Unidos, recorrendo a dados de 2011 da Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV), que dão conta de 15.724 crimes reportados.
No entanto, dados da APAV de 2012 indicam um aumento para 16.970 crimes denunciados.
Ao longo do documento é várias vezes citada a situação da comunidade romena em Portugal, nomeadamente sobre casos de adultos que recorrem a crianças para mendigar nas ruas e sobre a "discriminação social" que ainda persiste.
Portugal também é criticado por "ainda não ter aplicado efectivamente as leis" relativas ao trabalho forçado, denunciando a existência de casos de mulheres, crianças e homens ilegalmente recrutados, em particular prostituição infantil.
 
Público, 20-4-2013

Seguro propõe "nova coligação" para devolver "esperança" a Portugal


GRAÇA BARBOSA RIBEIRO  “Temos aqui o líder”, diz Soares no almoço com Seguro Soares almoça com Seguro no Palácio Praia para comemorar os 40 anos do PSO líder do PS, António José Seguro, aproveitou nesta sexta-feira a festa do 40º aniversário do seu partido, em Coimbra, para falar para fora do partido, propondo “a construção de uma nova aliança, de uma nova coligação, que junte os democrata-cristãos, os humanistas, os sociais-democratas e todos os progressistas”, para, “todos juntos”, devolver a “esperança e o orgulho a Portugal”.Arrancando aplausos aos cerca de mil militantes que jantaram no Pavilhão dos Olivais, em Coimbra, Seguro fez aquele apelo à união depois de defender a luta contra “a destruição do Estado Social" e a recuperação “dos valores da liberdade, da fraternidade e da solidariedade”. “Não deixaremos nenhum português para trás”, repetiu, como um slogan, ao longo de um discurso em que acusou o Governo de estar a fazer “experimentalismo social”.Antes já se demarcara da actual situação do país e sugerira que, se o PS tivesse sido ouvido há ano e meio, “os portugueses teriam sido poupados a muito sofrimento”. “Não tinha de ser assim”, insistiu, referindo-se “à espiral recessiva”, “ao desemprego”, “às injustiças”, à “desigualdade”, e depois, longamente e pormenorizadamente, “aos portugueses que não têm dinheiro para pagar a comida, a renda da casa, o gás, a luz, os transportes”.O líder socialista lamentou ainda que nesta altura Portugal já não dependa apenas de si próprio, e admitiu que “já não basta mudar de Gverno” , para defender a necessidade de  lutar por “mudanças na União Europeia”.Um dos momentos de maior emoção no jantar foi provocado por Mário Soares, que esteve presente através de uma mensagem gravada em vídeo e projectada em dois ecrãs gigantes. O "militante nº1 do PS" disse-se "muito preocupado com Portugal" e apelou a todos os socialistas para que "se batam contra a troika e contra os mercados e a favor das pessoas". "Este gente só pensa em dinheiro, não pensa nas pessoas - com ela não vamos a lado nenhum", insistiu.Público, 20-4-2013

A minha carta à "troika"


por JOSÉ MANUEL PUREZA
Caros senhores, junto-me à inesperada troca de correspondência que vos tem tido como destinatários, convicto de que, enquanto altos funcionários de instituições que juntam Estados democráticos, vos interessa, mais que tudo, saber o que pensam sobre o vosso desempenho os cidadãos dos países que mantêm vivas as vossas organizações, vos dão emprego e vos pagam. Aqui fica a minha, em três pontos.
Primeiro, acho que a vossa incompetência é confrangedora. Não há uma previsão vossa sobre o meu país que esteja certa e não há uma política por vós advogada que não agrave os problemas. Francamente não tenho dúvidas de que, se vos fossem aplicados a vós os critérios que quereis aplicar à grande maioria dos meus concidadãos, seríeis despedidos num ápice por inadaptação ao rigor exigido pelos vossos postos de trabalho. Permitam-me aliás que chame a vossa atenção para que, nos partidos que formam a coligação de governo que é vossa representante em Portugal, é muito forte a ideia de criminalizar os decisores de políticas que endividam brutalmente o país. Logo se verá se defendem isso para os membros do atual governo mas, estando a vossa incompetência a gerar um adicional mensal de dívida de muitas centenas de milhares de milhões de euros, deveis temer vir a ser atirados para os calabouços por estes vossos apaniguados.
Em segundo lugar, acho que sois responsáveis pelo maior ataque à democracia em Portugal desde 1974. Sei que isso não vos incomoda, desde logo porque o vosso trabalho é governar países sem a legitimação do voto. Governais no mais autocrático dos registos porque não prestais contas a ninguém a não ser aos manipuladores de gigantescos fluxos de dinheiro para ganhos especulativos. Essa vossa cultura não democrática está a matar a democracia em Portugal. E não, não é um efeito colateral das políticas por vós impostas, é mesmo o efeito central. Porque ao degradardes até ao limite as vidas de quem pouco ou nada tem e ao impordes a continuação deste caminho por décadas à nossa frente, tendes plena consciência de que tirais o direito a ter direitos a milhões de compatriotas meus. E ao quererdes amarrar às vossas políticas áreas da oposição ao vosso governo estais a dizer-nos que isto de ser governo ou ser oposição é a mesma coisa, só muda o pormenor ou o estilo. Pois que a democracia seja para vós um pormenor é suficiente para que um país democrático vos considere companhias indesejáveis.
Em terceiro lugar, acho que estais a destruir o meu país. Nada que não tenhais feito um pouco por todo o mundo antes. Os que contrariaram corajosamente os vossos delírios sobreviveram e cresceram. Foi assim na Argentina, na Malásia, na Islândia. Agora é a nossa vez. A vossa receita é a dos físicos medievais que sangravam o doente supostamente para lhe dar mais força mas que de tanto o sangrarem o matavam. As vossas imposições de despedimentos baratos de milhões de pessoas, de salários miseráveis para a maioria, de tratamento desapiedado dos desempregados, dos velhos e dos doentes, da condenação dos jovens mais talentosos à precariedade e de extinção dos serviços públicos de saúde, de educação ou de segurança social são as sangrias deste tempo. O país exangue que estais a criar é evidentemente incapaz de pagar uma dívida que, às vossas mãos, fica cada dia mais sufocante. A vossa estratégia é pois a da nossa destruição.
Deixai que, com a mesma franqueza com que vos dei a minha opinião sobre o vosso desempenho, acrescente apenas uma nota. A vossa política incompetente e irresponsável quer-nos roubar a democracia e destruir-nos. Resistiremos. Porque somos daqueles a quem nem isto nos tira a força anímica. E sobretudo não nos tira o sentido da dignidade como povo e como país.
Diário de Notícias, 20-4-2013

Mais três detidos relacionados com o atentado


por Texto da Lusa, publicado por Lina Santos
As autoridades norte-americanas detiveram na sexta-feira outras três pessoas alegadamente relacionadas com Dzhokhar Tsarnaev, um dos suspeitos do atentado de segunda-feira durante a Maratona de Boston.
O tenente Robert Richard, da polícia de New Bedford, a sul de Boston, indicou que o seu departamento colaborou com o FBI numa operação numa casa da localidade, a 10 minutos do campus da Universidade de Massachusetts, onde estudava Dzhokhar Tsarnaev, o suspeito do atentado de Boston detido na sexta-feira.
Nesta operação foram detidos dois homens e uma mulher alegadamente "companheiros da universidade ou de casa" de Dzhokhar que se encontravam no imóvel onde foram realizadas buscas.
De acordo com o jornal Boston Globe, Dzhokhar teria tido "algum tipo de relação" com a casa onde foram efetuadas buscas, podendo "ter aí vivido ou visitado" a mesma.
Dzhokhar, de 19 anos e origem chechena, é suspeito do atentado de Boston, bem como o irmão, Tamerlan, de 26 anos, que morreu num tiroteio com a polícia na madrugada de quinta para sexta-feira.
Diário de Notícias, 20-4-2013

O cerco ao PS e a Seguro


por JOÃO MARCELINO
1. O Governo mudou esta semana.
Seja porque a troika "aconselhou", seja porque o défice já ultrapassa os 126% do PIB, seja porque apenas passou (com o ministro Poiares Maduro) a ter inteligência e pensamento estratégico onde antes só havia voluntarismo e um dia vivido atrás do outro, o Governo de Pedro Passos Coelho fez o que já devia ter feito há largos meses: reconhecer que sem o PS, sem entendimento com António José Seguro, não é possível levar a cabo reformas duradouras e socialmente aceites pela maioria dos portugueses.
O Governo alterou radicalmente o discurso.
Até já está marcado um Conselho de Ministros extraordinário para a próxima terça-feira apenas dedicado a analisar medidas de crescimento económico.
Começam, portanto, os problemas para o líder do PS.
2. A derrota do anterior caminho do Governo, que não queria nem mais tempo nem mais dinheiro, e que agora, já com mais tempo, está à beira de precisar de mais dinheiro - ou seja, de um segundo resgate - é, simultaneamente, uma boa e uma má notícia para o PS. A boa é que tinha razão. A má é que fica sem pretexto para ficar de fora do que vem a seguir.
O tempo da arrogância de Gaspar sempre sancionada por Passos Coelho evaporou-se face à dura realidade de um país cuja dívida não para de crescer. E isso aconteceu porque o défice não foi domesticado, e esse teria sempre de ser o resultado de reformas estruturais adiadas e de uma economia destruída pela austeridade.
3. Pronto: Poiares Maduro anuncia, doze vezes durante uma conferência de imprensa, que quer "consenso".
O Governo deixa em aberto, para poder "dialogar", o concreto das medidas extraordinárias que vão substituir as "chumbadas" pelo Tribunal Constitucional.
Passos conversa com Seguro.
A troika foi ao Rato.
Está montado o cerco ao PS.
Esta estratégia simples, que até pode ser convicção, que seguramente será uma necessidade, que provavelmente foi ditada, ou aplaudida, pela troika, não poderia nunca ser determinada por uma cabeça viciada no negócio da política. Está aqui, bem visível, a distância que vai da inteligência política à esperteza saloia sempre muito aplaudida nas manjedouras da capital.
4. António José Seguro tem agora um problema. Se o Governo estiver disponível para aceitar as suas razões, para equacionar algumas das suas medidas - se, sobretudo, houver nesta alteração de palavras a verdadeira intenção de mudar de políticas e de trocar a arrogância do "é assim porque eu quero" pelo "que tal ser assim porque nós precisamos" -, não será tão fácil ao secretário-geral do PS capitalizar o descontentamento como estava a fazer com habilidade nos últimos meses, desde que Pedro Passos Coelho lhe deu o necessário pretexto hostilizando o maior partido da oposição, deixando-o à margem da decisões, ignorando-o nas consultas.
Repare-se ainda: tudo isto parece mérito da última remodelação e da ascensão de Poiares Maduro. Mas provavelmente nada estaria a mudar se Nuno Crato não tivesse desempenhado o seu papel com notável independência no caso da eventual licenciatura de Relvas e se Gaspar, o alto representante da troika em Lisboa, não tivesse entendido que o Tribunal Constitucional estava suspenso pela crise.
O que o País precisaria é que o Governo tivesse, sinceramente, percebido o erro das suas políticas e as quisesse emendar. Se não for assim, Seguro há de acabar por sair deste colete de forças em que está metido.
A crítica de Passos Coelho à falta de financiamento da banca à economia, levou a reações de alguns dos líderes dos bancos, cada qual no seu estilo. Ulrich impetuoso. Ricardo Salgado mais profundo. Realmente, "a austeridade é violenta e está a chegar a limite". Por outras palavras: que cada um faça o que tem a fazer e que, já agora, os bons exemplos venham de cima...
Diário de Notícias, 20-4-2013

Polícia prende segundo suspeito de atentado de Boston


por A.C.M., A.M. e R.S.F

Uma ambulância deixa o local pouco depois de ser capturado o segundo suspeito do atentadoFotografia © Reuters
O segundo suspeito do ataque à bomba de segunda-feira na maratona de Boston foi detido com vida esta madrugada. A captura foi anunciada pela polícia de Boston com uma mensagem no Twitter dizendo "Capturado!!!" e recebida com aplausos pela população que saiu às ruas.
O suspeito estava escondido no interior de uma embarcação quando foi capturado pela polícia. Estava "vivo e consciente", segundo informações oficiais, mas a necessitar de apoio médico.
Dzhokar Tsarnaev foi levado do local de ambulância. À passagem das viaturas policiais ouviram-se aplausos e gritos de alegria das pessoas que permaneciam junto do perímetro de segurança.
Anteriormente, a polícia conseguira cercar o suspeito, mas estava a proceder com extrema precaução, temendo que Dzhokar Tsarnaev estivesse a usar um colete armadilhado. Mas, como notaram alguns comentadores nas televisões americanas, este estava encurralado e sem hipóteses de fuga.
Antes da sua captura, a polícia estaria a incitá-lo a render-se, "sem mais resistência" e nos seus próprios termos, com mensagens feitas através de megafones.
A operação de captura iniciou-se quando o suspeito foi detetado na área de Franklin Street, em Watertown. Pouco depois, os moradores disseram a vários media que o suspeito estaria coberto de sangue. Uma informação fornecida, segundo os moradores, por agentes que estão a participar na operação.
A informação de que se tratava do segundo suspeito foi confirmada pelo 'mayor' de Boston ao canal de TV WBZ: "Um homem que se acredita ser o suspeito está cercado pela polícia no interior de um barco nas traseiras de uma casa de Watertown". Pouco depois do início da operação, os moradores da Franklin Street, em Watertown, descreviam o cenário como sendo um verdadeiro pandemónio, segundo o Boston Globe. A AP avançava que veículos militares e de emergência atravessavam a cidade de Watertown, convergindo para o local onde viria a ser detido Dzhokar Tsarnaev.
Diário de Notícias, 20-4-2013

As leis fundamentais da estupidez humana


por ANSELMO BORGES
Este - "as leis fundamentais da estupidez humana" - é o título de um livrinho famoso, publicado há muitos anos, mas sempre actual. Apareceu em inglês, depois em italiano. Acabo de lê-lo em francês. O seu autor, Carlo M. Cipolla (1922-2000), historiador da economia, foi professor na Universidade de Berkeley e na Escola Normal Superior de Pisa.
Para estabelecer as leis fundamentais da estupidez, é preciso, primeiro, definir quem é o estúpido. Para isso, ajudará a comparação com outros tipos de gente. Diz o autor que, quando temos um indivíduo que faz algo que nos causa uma perda, mas lhe traz um ganho a ele, estamos a lidar com um bandido. Se alguém realiza uma acção que lhe causa uma perda a ele e um ganho a nós, temos um imbecil. Quando alguém age de tal maneira que todos os interessados são beneficiados, estamos em presença de uma pessoa inteligente. Ora, o nosso quotidiano está cheio de incidentes que nos fazem "perder dinheiro, e/ou tempo, e/ou energia, e/ou o nosso apetite, a nossa alegria e a nossa saúde", por causa de uma criatura ridícula que "nada tem a ganhar e que realmente nada ganha em causar-nos embaraços, dificuldades e mal". Ninguém percebe por que razão alguém procede assim. "Na verdade, não há explicação ou, melhor, há só uma explicação: o indivíduo em questão é estúpido."
Lá está a primeira lei: "Cada um subestima sempre inevitavelmente o número de indivíduos estúpidos que existem no mundo." Já a Bíblia constata: "Stultorum infinitus est numerus" (o seu número é infinito) - evidentemente, sendo o número das pessoas finito, trata-se de um exagero.
Os estúpidos estão em todos os grupos, pois "a probabilidade de tal indivíduo ser estúpido é independente de todas as outras características desse indivíduo": segunda lei.
A terceira lei corresponde à própria definição do estúpido: "É estúpido aquele que desencadeia uma perda para outro indivíduo ou para um grupo de outros indivíduos, embora não tire ele mesmo nenhum benefício e eventualmente até inflija perdas a si próprio." A maioria dos estúpidos persevera na sua vontade de causar males e perdas aos outros, sem tirar daí nenhum proveito. Mas há aqueles que não só não tiram ganho como, desse modo, se prejudicam a si próprios: são atingidos pela "super-estupidez".
É desastroso associar-se aos estúpidos. A quarta lei diz: "Os não estúpidos subestimam sempre o poder destruidor dos estúpidos. Em concreto, os não estúpidos esquecem incessantemente que em todos os tempos, em todos os lugares e em todas as circunstâncias tratar com e/ou associar-se com gente estúpida se revela inevitavelmente um erro custoso." A situação é perigosa e temível, porque quem é racional e razoável tem dificuldade em imaginar e compreender comportamentos irracionais como os do estúpido. Schiller escreveu: "Contra a estupidez mesmo os deuses lutam em vão."
Como consequência, temos a quinta lei: "O indivíduo estúpido é o tipo de indivíduo mais perigoso." O corolário desta lei é: "O indivíduo estúpido é mais perigoso do que o bandido." De facto, se a sociedade fosse constituída por bandidos, apenas estagnaria: a economia limitar-se--ia a enormes transferências de riquezas e de bem-estar a favor dos que assim agem, mas de tal modo que, se todos os membros da sociedade agissem dessa maneira, a sociedade no seu conjunto e os indivíduos encontrar-se-iam numa "situação perfeitamente estável, excluindo toda a mudança". Porém, quando entram em jogo os estúpidos, tudo muda: uma vez que causam perdas aos outros, sem ganhos pessoais, "a sociedade no seu conjunto empobrece".
A capacidade devastadora do estúpido está ligada, evidentemente, à posição de poder que ocupa. "Entre os burocratas, os generais, os políticos e os chefes de Estado, é fácil encontrar exemplos impressionantes de indivíduos fundamentalmente estúpidos, cuja capacidade de prejudicar é ou se tornou muito mais temível devido à posição de poder que ocupam ou ocupavam. E também se não deve esquecer os altos dignitários da Igreja."
É assim o mundo.
Diário de Notícias, 20-4-2013