sexta-feira, 21 de julho de 2023

<>Educação?

Ricardo Cabral 

21 de Julho de 2014, 18:20

Por

Outra preciosa citação, desta vez de John Maynard Keynes, proferida alegadamente durante uma das suas aulas na Universidade de Cambridge nos anos 30. Como no caso da citação do post de ontem, de acordo com a wiki-quotes, esta sobrevive ao tempo graças a uma referência num artigo publicado em 1962 na revista Jewish Frontiers (vol. 29), por alguém que se lembrava de a ouvir dos seus tempos em Cambridge.

Apreciem a astúcia desta frase, que faz pensar, e notem todas as palavras a começar em “in”:

“Education is the inculcation of the incomprehensible into the indifferent by the incompetent.”

Será que Keynes se referia só ao ensino superior na Inglaterra dos anos 30, ou é mais universal e intemporal? 

E já agora, que pensar da seguinte frase de Albert Einstein?

“Education is what remains after one has forgotten what one has learned in schools”

E porque é que estes dois génios disseram isto?

<>O fiel do armazém e o guarda noturno

Francisco Louçã 

21 de Julho de 2014, 12:45

Por

Das lonjuras da Coreia do Sul, o Presidente Cavaco Silva elogiou o Governador do Banco de Portugal, Carlos Costa, pelo seu desempenho na crise do BES. É o que o Presidente tem a dizer sobre o assunto: está tudo bem entregue.

Estranha forma de vida, pois Costa evitou durante quase um ano qualquer consequência da informação que tinha em mãos: Queiroz Pereira dera-lhe um dossier escaldante sobre Ricardo Salgado e o contabilista da operação do Grupo no Luxemburgo prestara depoimento garantindo que desde 2008 as contas não batiam certo. Mais, há dois anos que se sabia da comissão angolana que Salgado se esqueceu de declarar no IRS (não era isso bastante para a ação da supervisão?). Foi preciso o colapso dos pagamentos e a zanga da família para que o Governador afastasse a administração e declarasse agora que nem renovaria a licença bancária a Salgado – pelos factos de que tem conhecimento há um ano.

Carlos Costa, escolhido para o Banco de Portugal por Sócrates, tem um passado ilustre na banca, que conhece como ninguém: foi diretor geral do BCP, responsável pela área internacional (2000-2004), precisamente quando se dançava o tango das offshores. Testemunha nesse processo judicial, Costa não respondeu ao Ministério Público quando lhe foi perguntado se não tinha sabido de nada ou se era como um fiel de armazém, que se limitava a assinar a encomenda. Agora, como guarda-noturno da banca, também não viu o crime e, quando ouviu o alarme, tardou em agir.

É essa forma de competência que merece o elogio de Cavaco Silva. O fiel de armazém e o guarda noturno fizeram o seu papel e por isso chegamos aqui onde estamos: a maior crise bancária europeia de 2014.

<>Tempo

António Bagão Félix 

21 de Julho de 2014, 10:03

Por

Choveu num destes dias de Verão. Ou de Estio, como os antigos chamavam a esta estação do ano. Sou “climaticamente” incorrecto. Não gosto de calor e prefiro o Outono. Não só por razões de clima, mas também porque é o período do ano em que a policromia que as árvores e a natureza nos proporcionam é insuperável. No fundo, uma serena síntese de tempo (clima) e tempo (sequências de horas e dias) para um amante da botânica (ou “scientia amabilis” como lhe chamou o botanista sueco Lineu). Para mim, esta é a forma perfeita de dar tempo ao tempo. Dantes havia tempo para tudo, até para o matar. Agora é o tempo que nos mata. O proclamado tempo útil que, não raro, é inútil e o tempo não útil que, quase sempre, é vida.

<>Há uma semana, o samba regressou ao barracão

Francisco Louçã 

21 de Julho de 2014, 08:00

Por

samba“Hoje é dia de Carnaval/É o esplendor/(…) Vamos viver os desenganos por que passamos/Viver a alegria que sonhamos/durante o ano/(…) Mas depois a ilusão/Coitado/Negro volta ao humilde barracão”.

António Candeia Filho, que escreveu este “Dia de Graça”, era um negro nascido no samba, polícia de profissão, que foi baleado numa discussão de trânsito e ficou preso numa cadeira de rodas. Passou a dedicar-se completamente à música, até acabar a vida aos 43 anos. Candeia foi cometa na cultura brasileira, chamou à sua produtora Quilombo, foi inventor de samba enredo.

E como ele conhecia a sua gente: acabado o campeonato há uma semana, diria – negro voltou ao humilde barracão, com as suas feridas imensas, umas alemãs, outras holandesas, umas do futebol, outras de toda a sua vida arrastada.