PÚBLICO e AGÊNCIAS
O movimento Tamarrod, criado para
exigir o afastamento do Presidente Mohamed Morsi, fez um ultimato ao chefe de
Estado do Egipto – para deixar o poder até terça-feira – e ameaça lançar uma
acção de “desobediência civil”.
“Damos a Mohamed Morsi até terça-feira 2 de Julho às
17h [16h em Lisboa] para deixar o poder e permitir às instituições do Estado
que preparem uma eleição presidencial antecipada”, afirma um comunicado
publicado no site do movimento. Caso o Presidente rejeite o
ultimato, será lançada uma “campanha de desobediência civil total”, promete.
No domingo, cerca de meio milhão de pessoas
concentraram-se na Praça Tahrir e uma multidão semelhante reuniu-se em
Alexandria, a segunda cidade do país. As manifestações tiveram uma dimensão sem
precedentes desde a revolta que levou à queda de Hosni Mubarak, no início de
2011.
Segundo o balanço feito nesta segunda-feira por um
responsável do Ministério da Saúde, seis pessoas foram mortas em confrontos
entre partidários e adversários do chefe de Estado. Mas informações divulgadas
pela Reuters referem, pelo menos, sete mortos
desde domingo.
Manifestantes atacaram domingo à noite com pedras,
tiros e cocktails molotov a sede do Partido da Liberdade e da
Justiça, braço político da Irmandade Muçulmana, a que Morsi pertence. Imagens
televisivas mostram chamas no edifício.
Partidários da Irmandade ripostaram com disparos de
armas de chumbo grosso, segundo o testemunho de um repórter da AFP. Mais tarde,
segundo a agência, foram ouvidos tiros de armas automáticas nas imediações do
edifício. Fontes hospitalares citadas pela Reuters disseram que foram mortas
duas pessoas e feridas 45. Líderes da Irmandade acusaram a polícia de falhar na
protecção do edifício.
Na manhã desta segunda-feira, um jornalista da
Reuters viu dois jovens serem atingidos a tiro, no exterior do edifício. Fontes
médicas citadas pela agência referem pelo menos seis feridos.
Centenas de manifestantes passaram a noite na Praça
Tahrir e frente ao palácio presidencial. A situação estava calma ao início da
manhã desta segunda-feira. Segundo a Reuters, apenas ali se mantinham
concentradas algumas centenas de pessoas. Situação semelhante verificava-se um
pouco por todo o resto do país.
O Tamarrod (Rebelião, em árabe), apoiado por
personalidades e movimentos da oposição laica, diz ter recolhido mais de 22
milhões de assinaturas a favor da realização de eleições presidenciais
antecipadas. Esse número é superior ao de eleitores que votaram em Morsi em
Junho de 2012 (mais de 13 milhões).
Foi o Tamarrod que apelou às manifestações
gigantescas de domingo, por ocasião do aniversário da tomada de posse de Morsi,
o primeiro Presidente civil do Egipto. No seu comunicado, o movimento apela ao
Exército, à polícia e ao sistema de justiça para “se posicionarem claramente do
lado da vontade popular representada pelas multidões” de manifestantes de
domingo.
O movimento rejeitou um apelo ao diálogo feito no
domingo por Morsi. “Impossível aceitar meias-medidas. Não há outra alternativa
que o fim pacífico do poder da Irmandade Muçulmana e o seu representante,
Mohamed Morsi”, afirma.
O Egipto está profundamente dividido entre os
adversários de Morsi, que denunciam uma deriva autoritária do poder com vista à
instauração de uma regime dominado por islamistas, e os partidários do
Presidente, que invocam a legitimidade do triunfo na primeira eleição livre na
história do país.
Público, 1 de Julho de 2013
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