23 de Setembro, 2012
Não haverá reforço de poderes do PGR, em detrimento do Conselho
Superior do MP. A sucessão de Pinto Monteiro continua a ser discutida.
Há uma pergunta
que todos fazem por estes dias: quem vai ser o próximo procurador-geral da
República (PGR)?
Essa é uma matéria
inter-institucional (Governo e Presidente da República) e mal fora que uma
matéria dessas fosse discutida na praça pública. O Governo proporá seguramente
alguém que compreenda o Ministério Público (MP) e com vontade de reforçar a sua
autonomia. Alguém que reponha não só as funções reais do MP como a sua própria
dignificação e retire de uma vez por todas a ideia de politização desta
magistratura. Espero que, também depois de revisto o estatuto do MP, essa
contaminação que tem ensombrado nos últimos anos a vida do MP não possa sequer
ser posta em causa.
Essa
contaminação tem que ver com o desempenho do actual PGR?
Não vou
personalizar. Creio que teve a ver com um circunstancialismo que levou à
tentativa, muitas vezes por via legislativa, de funcionalização do MP. Nós só
seremos uma sociedade madura em termos de justiça quando as autonomias, as
independências e também as responsabilidades forem apuradas.
O actual clima
de divergências entre PSD e CDS e com o próprio PS pode prejudicar o
entendimento?
Estamos no âmbito
de um programa de assistência financeira e ou há responsabilidade ou há
irresponsabilidade. Todos têm que ser responsáveis nesta matéria. Se
estivéssemos numa situação normal, é óbvio que se poderiam equacionar várias
situações. Neste momento, não. Tem que se olhar para o país e ver o que
significa a repercussão de uma situação que poderia ser de instabilidade e
apelar a todos os portugueses, mais do que às coligações. Tem que se fazer um
apelo a todos nós pelo que podemos fazer pelo país. A responsabilidade de cada
um de nós é tremenda. Não é só do Governo. Mas entendo que há um discurso a
fazer de explicação, não só do que está para trás como da forma de sair deste
buraco rapidamente. Ninguém quer cá a troika.
Pinto Monteiro
defende há muito um reforço dos poderes do PGR, retirando-os ao Conselho
Superior do MP. Reconhece essa necessidade?
É sabido que tenho
opinião contrária. Eu não gosto de concentrações autocráticas. O actual PGR foi
o que mais poderes teve na nossa história democrática, mercê das sucessivas
alterações estatutárias, e não vejo nenhuma necessidade disso. Vejo toda a
vantagem é em ter um órgão de legitimação que mantenha os actuais poderes,
assim como vejo toda a vantagem em que cada magistrado veja reforçada a sua autonomia,
como recomenda o Conselho da Europa.
Em muitas
investigações importantes – como o Furacão, o Monte Branco e a Madeira -, o MP
tem recorrido cada vez mais à GNR e à PSP, pondo de lado a Polícia Judiciária
(PJ). O que pensa disto?
A PJ não está afastada
das grandes operações, como se vê pelas investigações conhecidas: as fraudes ao
SNS e à Segurança Social, o Face Oculta, etc.. Basta ver todas as acções
desenvolvidas pela PJ este ano, para ver que nunca como hoje a PJ tem feito
tanto trabalho no combate à grande criminalidade. Se me perguntar se a lei pode
ser mais clarificadora, eu não penso que a PJ esteja vocacionada para a
criminalidade de menor impacto, pelo contrário. Devemos estar todos orgulhosos
da PJ que temos. A nossa polícia é elogiada e medalhada no estrangeiro, mas não
é reconhecida muitas vezes entre nós.
Julgar um
homicídio em 60 dias, como se prevê no futuro Código de Processo Penal, não é
‘justiça a quente’, como dizem os juízes?
Não. Se alguém for
apanhado em flagrante delito a matar alguém, o processo sumário pode ir até 90
dias e penso que não será difícil. De todo o modo, quer as partes quer o juiz
podem pedir que seja convertido em processo comum. Tudo está acautelado
paula.azevedo@sol.pt e helena.pereira@sol.pt