«A proliferação de suspeitos antes da existência de qualquer prova ou mesmo indício, e a sua apresentação na comunicação social, é qualquer coisa que só beneficia os verdadeiramente implicados.
E a ideia de que pode satisfazer algum interesse corporativo acaba por ser contrariada pela extensão da suspeita à própria corporação. Parece estar a passar-se esta situação, hoje, em Portugal. Mas era importante que se percebesse que, a confirmar-se esta suspeita, é a própria justiça (e os seus actores) que vai pagar mais caro.
Os culpados, os verdadeiros culpados, esses sairão satisfeitos e sorridentes de todo este processo. Porque sairão inocentados por um sistema que fez ruir a sua própria credibilidade. Um sistema que se autoconsumiu.Os juros a aplicar a esta taxa, a taxa da suspeição generalizada, em breve ficarão fora do controlo. E não haverá família portuguesa que queira comprar esta justiça.
Com uma justiça sem crédito, em quem vão confiar os cidadãos? O que passa a querer dizer "culpado ou inocente"? E o que significam as pias manifestações de que é preciso acreditar na justiça?
Entretanto, é mesmo preciso continuar a acreditar na justiça, mesmo que ela mostre que não acredita em nós»
Paulo Cunha e Silva, DN, 03Dez05
Paulo Cunha e Silva, DN, 03Dez05
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Escolhemos para título a expressão mais impressiva do texto crítico: a de que é preciso continuar a acreditar na justiça.
Essa é a questão fundamental no momento actual e implica-nos todos nós, na restauração da credibilidade da justiça tão rapida e gratuitamente posta em crise, muitas vezes, por quem tem o dever institucional de a garantir.
A restituição da credibilidade e do respeito não é tarefa fácil ao alcance de alguns. Implica um grande esforço de todos, na reflexão sobre os factores que desencaderam a a crise actual e na acção concertada, cada um no seu domínio.