A
partir de 1 de Janeiro, será possível fazer rescisões por mútuo acordo no
Estado, prevê o diploma hoje publicado em Diário da República. As rescisões
amigáveis vão dar direito a uma compensação igual a 20 dias de salário por cada
ano de antiguidade, com o tecto máximo de 100 salários mínimos (48.500 euros).
Por outro lado, a compensação não pode ser superior aos salários que o
trabalhador receberia até à reforma.
O
diploma também corta, definitivamente, para metade, o valor das horas
extraordinárias devidas aos funcionários públicos, uma medida que já estava em
vigor em 2012 e que deveria manter-se apenas durante o programa de ajustamento.
No entanto, os cortes nas horas extra não vão ficar por aqui já que o Orçamento
do Estado também prevê uma redução dos montantes (novamente para metade)
aplicável aos trabalhadores com horário de 35 horas semanais.
A lei
hoje publicada em Diário da República também elimina os quatro feriados que já
foram cortados no Código do Trabalho (aplicável aos trabalhadores do sector
privado). Por outro lado, estabelece novas regras de mobilidade temporária
(entre as várias unidades orgânicas de um serviço), mobilidade geográfica e
bancos de horas.
Acumulação
de funções deve ser revista até Junho
A lei
que entra amanhã em vigor acaba com algumas excepções para a acumulação de
funções públicas remuneradas. Em causa estão funções por inerência, em
actividades de representação de serviços ou ministérios bem como outras de
carácter ocasional que possam ser consideradas complemento da função. O diploma
prevê 180 dias para rever estas situações e adaptá-las à nova lei.
As pensões
iniciadas a partir de amanhã terão um corte de 4,78%.
Esta
redução, já noticiada pelo Diário Económico, resulta do factor de
sustentabilidade, um mecanismo que liga o valor das novas pensões à esperança
média de vida apurada pelo Instituto Nacional de Estatística. De acordo com uma
portaria publicada hoje em Diário da República, o valor do factor de
sustentabilidade, em 2013, é de 0,9522, relacionando os dados de 2006 com os de
2012.
Quer
isto dizer que as pensões iniciadas em 2013 terão uma redução de 4,78%, que
abrange tanto o regime da Segurança Social como o regime convergente da Caixa
Geral de Aposentações.
Este
valor já tem em conta os resultados do Censos 2011, que actualizaram os valores
da esperança de vida aos 65 anos de anos anteriores. Ainda assim, esta revisão
não terá impacto nas pensões já atribuídas.
Para
compensar o corte do factor de sustentabilidade, é preciso descontar mais ao
longo da carreira activa para regimes complementares ou trabalhar mais tempo.
Em 2013, quem tem 65 anos de idade e conta com uma carreira de descontos
completa (40 e mais anos) terá de trabalhar mais cinco meses se não quiser ter
um corte no valor da reforma. Isto porque a lei prevê uma taxa de bonificação
mensal, nestes casos, de 1%.
O tempo
de trabalho aumenta à medida que descem os anos de contribuições. Quem descontou
entre 35 e 39 anos tem de trabalhar mais oito meses e quem conta entre 25 e 34
anos de contribuições, tem mais 10 meses pela frente. Mas quem só descontou
entre 15 e 24 anos terá de prolongar a carreira activa por mais 15 meses para
compensar a redução. Neste caso, só poderá abandonar o mercado de trabalho aos
66 anos e três meses.
Recorde-se
que o factor de sustentabilidade foi a alternativa encontrada (pelo então
ministro do Trabalho Vieira da Silva) ao aumento da idade legal da reforma. Os
cortes são progressivamente mais elevados, obrigando as pessoas a trabalhar
mais ou a receber menos. Em 2008, a quebra foi de 0,56%, aumentando para 1,32%
em 2009, 1,65% em 2010 e 3,14% em 2011. Em 2012, o corte voltou a crescer para
3,92% e em 2013 será de 4,78%.
Este
mecanismo também se aplica às pensões antecipadas mas, no caso da Segurança
Social, este regime está aberto apenas a desempregados de longa duração. Os
restantes trabalhadores estão impedidos de passar à reforma antes dos 65 anos.
Já a função pública continua a aceitar reformas antecipadas.
Um vigilante do Metro do Porto
salvou ontem uma mulher, que tentou atirar-se da Ponte D. Luís, no Porto, com
os dois filhos bebés ao colo. A mulher, imigrante do Bangladesh, tentou
suicidar-se com os menores, um com um ano e outro de um mês, depois de ter sido
agredida pelo marido.
O caso aconteceu às 02h30, numa
altura em que estavam dois vigilantes no local. Ao verem a mulher, de 25 anos,
a transpor o gradeamento da ponte, um dos seguranças foi de imediato salvá-la e
às duas crianças, agarrando-os e puxando-os para o meio da ponte.
As três vítimas foram
socorridas pelo INEM e levadas para o Hospital de São João, no Porto. A PSP
tomou conta da ocorrência.
O que hoje é afirmado, em nome do
Estado, nada vale amanhã, sobretudo se o que foi dito se referir a quem
trabalha ou está reformado
1. Nos últimos dias de Dezembro de
2012, por se ter reavivado uma antiga profecia maia, muito se falou do fim do
mundo.
Ninguém sabe ao certo a que “fim do
mundo” ela se referia, mas não podemos deixar de pensar que, de alguma maneira,
tal profecia se realizou entre nós. O mundo em que vamos viver no próximo ano
não será jamais o mesmo em que se viveu até agora.
Não me refiro ao empobrecimento geral,
que é já uma realidade, ou à miséria que alastra, nem tão-pouco à degradação da
cidadania e, consequentemente, dos níveis de dignidade que, neste século e nas
condições de de- senvolvimento do país, deveriam ser essenciais a qualquer
português: a qualquer homem.
Refiro-me a algo igualmente grave, isto
é, ao dano causado às condições de existência e sobrevivência de uma nação que
há oitocentos anos se uniu para erguer um Estado e fazer um país.
Refiro-me à gradual falência da
confiança que os cidadãos devem ter no Estado; o mesmo é dizer na sua palavra.
2. O ponto seguro, a palavra firme e
fiável que permite a sobrevivência política organizada da nação tem de ser a do
Estado.
Podem os negócios privados não correr
bem, podem os valores culturais que sedimentam a sociedade evoluir, podem
agudizar-se ao limite as contradições sociais ou, inclusive, a natureza
explodir em fenómenos inesperados e incontroláveis, que sempre a palavra do
Estado – em especial quando democrático – deve ser segura e verdadeira.
As obrigações que o Estado assumiu para
com os portugueses são para cumprir, pois essa norma enforma as condutas e os
valores que em regra permitem também a fiabilidade das relações sociais e
económicas que os cidadãos organizam e desenvolvem no país e fora dele.
A palavra do Estado é o valor-padrão, a
norma de conduta que orienta a sociedade, impedindo que nos momentos cruciais
esta se degrade e possa soçobrar. Não há Estado digno desse nome sem que a sua
palavra seja fiável.
3. Entre nós, o valor da palavra do
Estado está profundamente abalado, podendo dizer-se, sem risco de radicalismo,
que quase não existe a nível interno.
O único valor que lhe querem ainda
emprestar destina-se a uso externo e, mesmo nesse caso, só no sentido em que se
dirige aos interesses erigidos como prevalecentes e que verdadeiramente nos
governam.
No mais, no que se refere aos cidadãos
nacionais e aos interesses internos mais comuns, a palavra do Estado foi
praticamente despojada de todo o seu valor e fiabilidade.
O que hoje é afirmado em nome do Estado
nada vale amanhã, sobretudo se o que foi dito se referir a quem trabalha ou
está reformado.
Por isso a nossa sociedade vive em
estado de stresse permanente, pois não garantindo o Estado – ou os que falam em
seu nome – a sua palavra, muitos são também aqueles portugueses que,
dolorosamente, a não podem já honrar também.
O princípio (constitucional) da
confiança como orientador da actividade pública do Estado e da sociedade está
em crise e, por isso entraram em erosão a credibilidade e a certeza de todas as
relações sociais, mas também económicas, que se desenvolvem no país.
4. A justiça destina-se, entre outras
coisas, a proteger a confiança que garante a paz e também o comércio entre os
homens. Se a não conseguir assegurar e apenas ajudar a fingir que vivemos num
Estado de direito – de nada serve e pouco hão-de resultar os esforços sérios
para a reformar.
Então o mundo em que nascemos e fomos
criados terá de facto acabado.