Público - 19/04/2013 - 00:00
Conselho Superior de Magistratura alerta para a complexidade do processo eleitoral DANIEL ROCHA
Sindicato considera que situação poderá ser "caótica" e atrasar processo eleitoral. Conselho Superior da Magistratura sublinha necessidade de garantir suficiência de juízes por causa da polémica que se avizinha
Sindicato considera que situação poderá ser "caótica" e atrasar processo eleitoral. Conselho Superior da Magistratura sublinha necessidade de garantir suficiência de juízes por causa da polémica que se avizinha
Os funcionários judiciais ponderam fazer greve às horas
extraordinárias durante o período da apresentação nos tribunais das
candidaturas às eleições autárquicas deste ano. O Sindicato dos Funcionários
Judiciais (SFJ) acredita que as impugnações aos candidatos com três mandatos se
venham a multiplicar e que "a solução venha a ser a escravização dos
funcionários com mais horas extra até de madrugada para se conseguir decidir os
processos", disse ao PÚBLICO o presidente do SFJ, Fernando Jorge. O
dirigente, que lembra que faltam 1500 funcionários nos tribunais, alerta que a
situação poderá ser "imprevisível, preocupante e mesmo caótica" face
à escassez de recursos, agravada pelo facto de a apresentação coincidir com o
período de férias judiciais entre Julho e Agosto. O sindicalista admite que o
diferimento de alguns processos pode "sofrer atrasos".
"O que está em causa
não são apenas as eleições autárquicas. O que está em causa é toda a Justiça
portuguesa. Há serviços do Ministério Público sem funcionários. Se a solução,
como já me fizeram saber, for, nessa altura, paralisar os tribunais e ir buscar
funcionários para trabalhar noite dentro, iremos ponderar greve às horas
extra", sublinhou Fernando Jorge. A verificação das candidaturas
eleitorais, atribuída aos tribunais cíveis ou de competência genérica, é de
natureza urgente, com prazos de decisão de dois dias.
A preocupação é partilhada
pelo Conselho Superior da Magistratura (CSM), que, num despacho recente, ao
qual o PÚBLICO teve acesso, reconhece que o processo eleitoral deste ano, que
deverá ser designado para "Setembro ou Outubro", pode ser "mais
complexo" do que o último em 2009, devido às impugnações. "É
previsível um trabalho acrescido na eventualidade de impugnação de algumas
candidaturas face à lei de limitação dos mandatos e à circunstância de essa
questão nunca ter sido apreciada pelo Tribunal Constitucional. É razoável
prever que o processo eleitoral poderá ser mais complexo", diz o CSM, que
decidiu atribuir "poderes reforçados" aos presidentes dos Tribunais
de Relação para que assegurem a suficiência de juízes e funcionários no
contexto da organização dos serviços de turno. O CSM recorda ainda a
reorganização administrativa das freguesias como outro ponto que irá contribuir
para a maior complexidade do processo e admite, em caso de necessidade, o recurso
a juízes escalados como suplentes e de férias.
A Associação Sindical dos
Juízes Portugueses (ASJP) subscreve a preocupação do CSM, mas acredita que
"tudo será resolvido". "É uma questão normal de gestão. Julgo
que não se verificarão problemas processuais", disse o presidente da ASJP,
Mouraz Lopes. O juiz rejeita, contudo, que os tribunais "venham a ser
culpados por algo que os políticos já há muito deviam ter resolvido".
Mouraz Lopes, que admite que tribunais diferentes venham a tomar "decisões
contraditórias", sublinha que a lei de limitação dos mandatos "é
dúbia" e deveria ser solucionada na Assembleia da República (AR) e não nos
tribunais. "Os políticos já deveriam ter resolvido isto na AR",
afirmou também o presidente do SFJ.
A impugnação de várias
candidaturas tem marcado a agenda política, com Fernando Seara (PSD), candidato
a Lisboa, e Luís Filipe Menezes (PSD), candidato ao Porto, a serem impedidos
pelos tribunais de se candidatarem, no seguimento de providências cautelares do
Movimento Revolução Branca (MRB). Até agora, o MRB já apresentou oito acções.
Uma delas foi suspensa, por o candidato do PSD a Beja ter desistido. As
restantes, que os tribunais não aceitaram, foram apresentadas contra os
candidatos do PSD de Castro Marim, Tavira, Loures, Estremoz e contra o
candidato do PCP a Beja. "Iremos avançar com mais acções contra as
candidaturas do PCP em Alcácer do Sal e Santiago do Cacém, a do PS em Beja e
duas do PSD na Guarda e Aveiro", explicou ao PÚBLICO o presidente do MRB,
Paulo Romeira.
Também a Associação
Transparência e Integridade considerou "correcta" a decisão judicial
de impedir a candidatura de Menezes. Paulo Morais, vice-presidente da
organização, lembra que a associação avançou em Fevereiro com acções e já
garantiu que irá voltar a fazê-lo se surgirem mais candidaturas
"ilegais".
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