segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Por: Rui Cardoso, Presidente do Sindicato dos Magistrados do Ministério Público
O último dia do ano é propício a reflectir sobre o passado e a perspectivar o futuro.
Obviamente, não é irrelevante nem um, nem outro, mas o mais importante é atentar no presente, pois a verdadeira generosidade para com o futuro consiste em dar tudo ao presente (Camus).
Na Justiça, está--se permanentemente com os olhos no futuro, pois há sempre uma multiplicidade de reformas em preparação, onde, mais com fé do que com trabalho, se deposita a esperança da resolução dos seus problemas. Tais reformas, entenda-se, novas leis, raramente alcançam os objectivos prometidos pelos seus autores, pois habitualmente se descura a preparação da sua implementação, quer ao nível das condições materiais e financeiras, quer ao nível da formação dos seus aplicadores, indispensável a que, antecipadamente, se suscitem e resolvam grande parte das questões jurídicas que qualquer nova lei traz.
Neste momento, além da nova organização judiciária, perspectivam-se alterações importantes nos Códigos de Processo Civil e de Processo Penal, todas pretendendo alcançar uma Justiça com maior qualidade e celeridade. Que 2013 seja um bom ano de preparação, não se repetindo os erros do passado.

domingo, 30 de dezembro de 2012

Tutela da inveja

Por: Fernanda Palma, Professora Catedrática de Direito Penal

Há um argumento que o Tribunal Constitucional sempre rejeitou em matéria de igualdade: a chamada "tutela da inveja". Assim, sempre se entendeu que a circunstância de uma pessoa ter obtido um benefício que outra pessoa, em condições idênticas, não possui não implica, necessariamente, a extinção desse benefício em nome do princípio da igualdade.

A igualdade implica o tratamento igualitário de situações similares e, é claro, o tratamento diferenciado de situações distintas, na perspetiva do seu merecimento. Uma discriminação injustificada (por exemplo, uma remuneração diferente em função do sexo) deve ser corrigida, positivamente, através da atribuição da regalia que foi denegada às pessoas discriminadas.

Esta ideia vale em matéria de direitos, liberdades e garantias, mas também quanto aos direitos económicos, sociais e culturais. Assim, o direito à assistência no desemprego implica que o subsídio seja atribuído quer a trabalhadores do setor privado quer a trabalhadores da Função Pública, sendo inadmissível a discriminação negativa de quaisquer deles.

Precisamente neste sentido, o Tribunal Constitucional deu por verificado o não cumprimento da Constituição por ausência de subsídio de desemprego para os trabalhadores da Função Pública, através do Acórdão nº 474/2002. Antes, só os trabalhadores do setor privado tinham direito ao subsídio e foi uma iniciativa do Provedor que suscitou esta decisão.

Por outro lado, o Tribunal Constitucional sempre teve presente que a igualdade não é diacrónica, ou seja, não podemos comparar situações verificadas em diferentes épocas e contextos sociais. Assim, as posições alcançadas pelos reformados num certo momento histórico, de acordo com a lei e à luz da conceção de segurança social então vigentes, vinculam o Estado.

Nos dias que correm, igualdade e inveja são confundidas em benefício da exploração política. Mas é preciso que a sensibilidade e o bom senso prevaleçam.

Os compromissos assumidos perante os reformados não podem valer menos do que os vínculos contraídos com credores que cobram juros desproporcionados num mercado financeiro sem regras ou limites. Quem faça o discurso de honrar os compromissos não pode sustentar a invalidade retroativa dos compromissos assumidos perante os cidadãos mais velhos e com menor poder negocial. E os argumentos "económicos" que consideram natural a colocação de capitais em offshores não têm nenhuma legitimidade para condenar uma parte da população a uma existência miserável.

sábado, 29 de dezembro de 2012

Magistrados autorizados a residir fora da comarca beneficiam de transporte

 
29/12/2012 - 00:00
Conselho Superior do Ministério Público está a proceder a um levantamento de casos para preparar uma deliberação sobre a matéria. Há casos em que com a mudança de residência foi retirado o transporte

Por princípio, os magistrados são obrigados a residir na comarca onde exercem funções. Mas excepcionalmente podem ser autorizados a viver fora da sua área de intervenção. Apesar de isso se traduzir, na maioria das vezes, num benefício para os juízes e procuradores, que assim evitam despesas com uma outra habitação, tal permite aos visados beneficiar de transporte público gratuito entre a residência e o local de trabalho, o que sobrecarrega o Estado. Isto, apesar de continuarem a receber um subsídio que visa compensá-los pelos gastos com habitação.
Nos últimos anos, esta questão tem sido discutida e o Conselho Superior do Ministério Público (CSMP) já deu autorizações de residência fora da circunscrição da sede do tribunal, retirando aos visados o direito de transporte. Mesmo assim não tem sido sempre assim e falta definir critérios de aprovação ou reprovação dos pedidos. Depois de um requerimento apresentado por uma procuradora que exerce funções na Procuradoria-Geral Distrital de Lisboa e queria autorização para residir em Coimbra, o CSMP decidiu, no início deste mês, "mandatar os membros permanentes para realizar um levantamento das autorizações anteriormente concedidas e preparar um projecto de deliberação sobre a matéria em causa". Isto, além de ter recusado o pedido da magistrada.
As regras são iguais para os juízes e procuradores que exercem funções na primeira instância. O CSMP, explicou um dos seus membros ao PÚBLICO, até já tem critérios definidos para aprovar as autorizações de residência fora da comarca: a habitação tem que se localizar a menos de 100 quilómetros do tribunal e o tempo médio da deslocação não pode ser superior a uma hora. O mesmo não acontece, contudo, na segunda instância, ou seja, nos tribunais da relação, onde só os procuradores mantêm o dever do chamado "domicílio necessário" (os juízes dos tribunais superiores estão dispensados desta obrigação). O levantamento que está em curso pretende perceber quantos procuradores beneficiam deste tipo de autorização, em que condições e que despesas representam para o Estado.
"O pagamento de transportes é processado pela Direcção-Geral da Administração da Justiça relativamente a todos os magistrados em serviço nos tribunais da primeira instância", explica a Procuradoria-Geral da República numa resposta enviada por email. O PÚBLICO tentou obter o valor gasto no transporte dos magistrados junto do Ministério da Justiça, mas não obteve resposta em tempo útil. A Procuradoria-Geral da República admite que procede ao pagamento dos transportes relativos aos magistrados que lhe estão afectos, mas quanto a valores diz não ser "possível fornecer essa informação de imediato".
O presidente do Tribunal da Relação de Lisboa, Luís Vaz das Neves, paga as deslocações dos magistrados daquela instância, incluindo dois que vivem nas regiões autónomas e se deslocam de avião uma vez por semana para participar nas sessões que juntam os vários elementos dos colectivos. Ontem não estava na Relação e de cabeça preferiu não avançar números, mas deixou uma certeza : "É uma parte significativa do orçamento, que é superior a 18 milhões de euros."
O presidente da Associação Sindical dos Juízes Portugueses, Mouraz Lopes, lembra que os magistrados não podem recusar ir trabalhar para o local que lhes foi designado, através de concurso. "É o Estado que me manda para ali e, por isso, é o Estado que tem que assegurar a minha estadia e as deslocações", sustenta. Na Relação de Évora, como há muitos juízes que moram em Lisboa, o tribunal arranjou uma carrinha para transportar os magistrados.


REGRAS DESAJUSTADAS DA REALIDADE

O presidente do Sindicato dos Magistrados do Ministério Público, Rui Cardoso, considera que a obrigação de os magistrados residirem na comarca onde exercem funções já perdeu grande parte do sentido, face ao aumento da mobilidade no país. Relativamente aos magistrados dos tribunais superiores, Rui Cardoso lembra que a maioria dos edifícios não possui condições físicas para ali trabalharem, o que os obriga a fazê-lo em casa. José Manuel Duro, do Conselho Superior de Magistratura, acredita que este sistema "até sai mais barato para o Estado". Não paga renda, nem água, nem luz, gastando apenas na deslocação do magistrado uma vez por semana. Rui Cardoso realça que têm um conjunto de direitos e deveres que se equilibram e só faz sentido alterá-los numa revisão geral do estatuto dos magistrados, que espera que ocorra em 2013. "Não se pode esquecer que temos que estar sempre disponíveis e não nos podemos ausentar do serviço sem comunicar", sublinha.

Uma crise, vários caminhos


por JOÃO MARCELINO


O ano de 2012 vai ficar na memória dos portugueses como um tempo de grandes sacrifícios, e de empobrecimento generalizado. O combate ao défice e à dívida externa mexeu nas condições de vida da maior parte das famílias. O desemprego aumentou para números assustadores (16,3% em outubro, segundo o último Eurostat). O memorando que regula o empréstimo internacional serviu de pretexto ao Governo para mexer de forma violenta nas leis do trabalho, nos impostos. E vem aí agora uma reconfiguração do Estado social "decretada" por PSD e CDS e com a matriz de um plano meramente financeiro
Este foi o pano de fundo que determinou o convite do Diário de Notícias a Manuel Carvalho da Silva para dirigir a edição em que se comemoram os 148 de vida do nosso jornal. O desafio era fazer um balanço destes dias difíceis e, também, perceber o que podem ser aqueles que se vão seguir.
O ex-sindicalista aceitou o repto e partiu de ideias expressas no seu livro recentemente editado (Vencer o Medo) para guiar esta edição, que aborda os problemas de Portugal no contexto das duas linhas mais fortes que, segundo Carvalho da Silva, devem guiar a nossa diplomacia e a nossa economia: as relações com a Europa e com o hemisfério Sul, sendo este representado pelos países da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), mas, de uma forma mais geral, pela Ibero-América, um espaço onde há países em fase de crescimento.
Crescimento é, aliás, a palavra mágica, aquela que mais se ouviu na boca dos políticos portugueses neste final do ano, ganhando, a pulso, terreno a outras, que durante meses foram privilegiadas pela comunicação (e pela política) do Governo: consolidação orçamental, sacrifícios, empobrecimento.
Ainda não se percebe claramente se 2012 foi um ano de viragem e de dificuldades inevitáveis ou, apenas, um ano de erros acrescidos. Os nossos, modelo "custe o que custar", e os que nos são impostos agora por termos andado anos a gastar o que não devíamos. Privilegiámos o betão em vez de colocarmos o dinheiro vindo de fora ao serviço da economia e das empresas. Além do mais sobraram os escândalos, com o BPN à cabeça - o tal que nunca mereceu uma palavra, uma única, do Presidente da República.
Manuel Carvalho da Silva é um homem de esquerda, sindicalista, foi militante do Partido Comunista. As suas ideias são conhecidas há muito tempo em Portugal. Num momento de retrocesso das conquistas sociais e de um empobrecimento que também visou pagar desmandos nunca devidamente deslindados pela Justiça, e oriundos da ação de pessoas pertencentes às mesmas famílias políticas que agora os procuram resolver, foi um prazer colocar esta edição do DN nas mãos de um cidadão sério, socialmente interventivo e que advoga caminhos diferentes para a solução dos problemas nacionais.
Diário de Notícias, 29-12-2012

Em Penafiel: Árbitro detido por tentativa de extorsão de 700 eurosEm Penafiel: Árbitro detido por tentativa de extorsão de 700 euros


A GNR de Penafiel anunciou nesta sexta-feira a detenção de um árbitro de futebol suspeito do crime de extorsão, por alegadamente estar a exigir uma verba de 700 euros para não denunciar uma agressão de que fora vítima.
Segundo a autoridade policial, a denúncia foi feita pelo presidente do Futebol Clube de Paço de Sousa, colectividade do concelho de Penafiel.
O suspeito, residente em Paredes, terá exigido a entrega do dinheiro, na quinta-feira, junto a uma superfície comercial de Penafiel, para não apresentar queixa em tribunal da alegada agressão ocorrida no jogo entre as equipas do Pinheiro e Paço de Sousa, realizado no sábado.
A detenção do homem, realizada na quinta-feira à noite por militares do Núcleo de Investigação Criminal (NIC), ocorreu em flagrante, quando recebia o dinheiro.
Correio da Manhã, 29-12-2012

Estarreja: Ladrão agride mulher


Uma mulher de 64 anos sofreu ferimentos na cabeça após ser agredida por um assaltante que lhe roubou a carteira pelo método do esticão junto à Repsol, em Beduído, Estarreja. A vítima foi assistida pelos bombeiros de Estarreja e transportada ao Hospital de Aveiro. O ladrão está a monte. 
Correio da Manhã, 29-12-2012

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

GNR: Governo rejeita limitar poderes na PSP e reforçar na GNR


Márcia Galrão
Versão final do Conceito Estratégico de Defesa Nacional não adoptará esta proposta de alteração.
OGoverno não aceitou a proposta para limitar os poderes da PSP e reforçar as competências da GNR, proposto pela comissão de revisão do Conceito Estratégico de Defesa Nacional, e vai entregar na Assembleia da República uma versão final com outros moldes, apurou o Económico.

O novo conceito foi "analisado e consensualizado hoje [ontem] em Conselho de Ministros", confirmou fonte oficial do Ministério da Defesa, sendo agora necessário "alguns ajustes de redacção" que permitirão o envio "nos próximos dias" à Assembleia da República. O gabinete de Aguiar-Branco não quis adiantar quais os pressupostos que estão previstos neste novo Conceito Estratégico de Defesa, remetendo quaisquer novidades para a próxima semana, mas o Económico sabe que várias propostas feitas pela comissão não foram aceites. A mais polémica era mesmo a que defendia a limitação de competências da PSP para o simples policiamento de proximidade e passando o crime violento e terrorismo para a GNR. Mas de fora ficará também a proposta para renegociar a dívida com a União Europeia (

Económico, 28 Dezembro 2012

ORÇAMENTO 2013: PCP e BE querem fiscalização


Avança documento para o Tribunal Constitucional… e pode haver outros subscritores
O PCP e o Bloco de Esquerda preparam-se para entregar um requerimento para que haja uma fiscalização sucessiva da constitucionalidade do Orçamento do Estado para 2013. A mensagem foi passada pelo coordenador bloquista, João Semedo, assegurando tratar-se de um «projeto de dimensão política bastante importante de consequências futuras».
João Semedo partilhou esta ideia com a comunicação social, logo após uma reunião que manteve com Jerónimo Sousa, secretáriogeral do PCP. O texto em questão tem como alvos para assinaturas deputados de ambos os partidos, não estando fechado a outros que o desejem subscrever.
A Bola, 28 Dezembro 2012

DADOS DO INSTITUTO NACIONAL DE ESTATÍSTICA DE 2005 A 2011


Crime sobe 5,2 por cento
O aumento da criminalidade entre 2005 e 2011 foi de 5,2 por cento, anunciou ontem o Instituto Nacional de Estatística (INE). O pessoal a trabalhar nas polícias e nas entidades de apoio à investigação também subiu, mas menos: 1,59b.
Comparando os anos de 2010 e 2011, agravaram-se os crimes contra o património e o Estado. Mas há uma descida, de 2,1%, nos crimes registados pelas autoridades policiais, devido à diminuição dos crimes contra as pessoas, menos 5,5%, e dos contra a vida em sociedade, menos 7,7%.
Entre 2005 e 2011, houve uma queda, de 11,6%, na quantidade de funcionários da Justiça mas o número de magistrados cresceu: o de judiciais 7,3 % e o dos do Ministério Público 21,3 %. No entanto, em 2011 existiam no País menos 26 magistrados judiciais do que em 2010. Lusa
Correio Manhã, 28 Dezembro 2012

Ministério da Administração Interna promove 518 elementos da PSP e GNR


Miguel Macedo autorizou promoções
O ministro da Administração Interna, Miguel Macedo, autorizou esta sexta-feira a promoção de 351 militares da GNR e 167 elementos da PSP, num total de 518.
Numa nota, o Ministério da Administração Interna (MAI) adianta que na GNR, vão ser promovidos um total de 351 militares, dos quais 178 são sargentos e 173 oficiais.
Já na PSP, foram autorizadas promoções para 167 elementos policiais nas categorias de subintendente e comissário.
Com esta decisão, o MAI "cumpre o compromisso assumido de dar seguimento aos processos de promoção nas duas forças de segurança até ao final do ano", refere a nota do ministério.
O MAI já tinha autorizado este ano 3.115 promoções na GNR e 1.067 na PSP.
O ministério considera que estas promoções concretizam o objetivo de "devolver estabilidade e previsibilidade às carreiras das forças de segurança, ao mesmo tempo que fica garantido o enquadramento de comando necessário à capacidade operacional da GNR e da PSP".
Jornal de Notícias, de 28-12-2012

TRIBUNAL DE CONTAS Governo da Madeira lesou orçamento em 300 MEuro


por Lília Bernardeshttp://www.dn.pt/Common/Images/img_politica/icn_comentario.gif
O executivo de Alberto João Jardim não observou o disposto em vários artigos do Regime Jurídico das Parcerias Público Privadas que exigia uma avaliação prévia das vantagens comparativas da PPP relativamente às alternativas para alcançar os mesmos fins, segundo auditoria do Tribunal de Contas à concessionária VIAMADEIRA, S.A (estradas regionais).
O governo da Madeira termina o ano com mais um parecer negativo do Tribunal de Contas (TC). Desta vez, o relatório da auditoria à concessão, exploração e manutenção dos lanços de estradas regionais atribuídos à VIAMADEIRA, S.A., hoje divulgada, apontam para o facto de o governo de Alberto João Jardim ter onerado "imprudentemente e ilegalmente o orçamento" da Madeira, "assumindo a totalidade de riscos da não obtenção do financiamento da Parceria Público-Privada (PPP), sem ter acautelado o articulado na lei do enquadramento do orçamento da região autónoma. Ou seja, nenhuma despesa deve ser efetuada sem que seja justificada quanto à sua economia, eficiência e eficácia.
Esta situação, segundo o TC, acarretou encargos para a região que atingiam (em novembro de 2011) 292,3 milhões de euros, dos quais 39,8 milhões de euros são respeitantes a juros de mora.
A VIAMADEIRA foi criada pelo DLR n.º 36/2008/M, de 14 de agosto, que lhe atribuiu a concessão de serviço público de exploração, conservação e manutenção de diversos troços de estradas regionais, em regime de exclusivo, sem cobrança direta aos utilizadores (SCUT) e aprovou as bases da concessão.
O TC afirma que a criação da VIAMADEIRA - que concretizou, de forma imperativa, a opção pela execução das vias rodoviárias concessionadas através de uma Parceria Público Privada (PPP) - não observou o disposto em vários artigos do Regime Jurídico das Parcerias Público Privadas que exigia uma avaliação prévia das vantagens comparativas da PPP relativamente às alternativas para alcançar os mesmos fins.
O Conselho do Governo Regional autorizou a celebração de um Contrato de Concessão que atribuía, entre outras, a responsabilidade pela obtenção do financiamento para os contratos de empreitada de construção das vias concessionadas estimado em, pelo menos, 751,5 milhões de euros, a uma concessionária de capitais maioritariamente privados, detida por empreiteiros a quem foi adjudicada a construção de troços objeto da concessão, sem que houvesse financiamento assegurado para a construção dos lanços viários em causa.
O contrato de concessão, celebrado em 29/12/2008, não só não foi submetido, como devia, à fiscalização prévia do Tribunal de Contas, como também não observava uma norma legal CCP, segundo o qual o contrato deve implicar uma significativa e efetiva transferência do risco para o concessionário, diz o TC.
No referido contrato, salientam os auditores, a concessionária assumiu-se como a única responsável pela obtenção do financiamento, mas ficou acordado, como causa de caducidade a não obtenção, até 30/06/2009, do fecho da operação de financiamento da concessão. Dessa forma, sublinha o TC, o Conselho do Governo Regional ao aceitar o estipulado na referida cláusula, "onerou imprudentemente e ilegalmente o seu orçamento, assumindo a totalidade dos riscos da não obtenção do financiamento da PPP, sem ter acautelado a observância da lei de enquadramento do orçamento da Madeira, datado de 1992.
Segundo o Tribunal de Contas, o governo regional da Madeira, através da Resolução n.º 954/2011, de 30 de junho, deu por findo o processo tendente ao fecho da operação de financiamento da concessão (que se arrastou de 2008 até à auditoria à concessão, exploração, conservação e manutenção dos lanços de e 2011), assumindo, em consequência, retroativa e automaticamente, a posição da concessionária nas cessões de posições contratuais nos contratos de empreitada outorgados, extinguindo-se as relações contratuais existentes entre as partes.
Tal situação "operou a transferência para a Região Autónoma da Madeira de encargos com as empreitadas de construção das vias concessionadas que, em 30 de novembro de 2011, remontavam a 293,3 milhões de euros, dos quais 39,8 milhões de euros respeitantes a juros de mora. Desses, 286 641 803,41euro (valor apurado a 30 de novembro de 2011), não foram orçamentados o que constitui uma violação do princípio da tipicidade quantitativa que preside à execução do orçamento das despesas", lê-se na auditoria.
A análise aos serviços de assessoria jurídica e financeira contratados pela ex-Secretaria Regional do Equipamento Social para apoiar a PPP evidenciou que foram contratados serviços financeiros ao BANIF, pelo preço de 199.000,00 euros, por ajuste direto sem consulta sem que tivesse sido adequadamente fundamentada a dispensa do procedimento concursal legalmente exigível em função do valor do fornecimento.
Alguns dos factos apurados são suscetíveis de tipificar eventuais ilícitos geradores de responsabilidade financeira sancionatória. O TC recomenda aos membros do Governo Regional e, em especial, ao membro do governo com a tutela das finanças que "não obstante os condicionalismos que impedem, no médio prazo, ao desenvolvimento de novas PPP, diligenciem, antes de iniciar a contratualização de novas parcerias no sentido de adaptar o correlativo regime jurídico" submetendo, ainda, os contratos de concessão de serviço público à fiscalização prévia do Tribunal de Contas, isto porque"devem ser escrupulosamente cumpridas as normas legais e regulamentares que disciplinam a execução do orçamento das despesas, nomeadamente no que respeita à sua cabimentação e à justificação da despesa quanto à sua economia, eficiência e eficácia".
Neste âmbito, exige que seja dada a estrita observância ao regime jurídico da contratação pública relativa à aquisição de bens e de serviços, ficando o recurso ao ajuste direto, independentemente do valor da despesa, reservado para as situações legalmente admitidas e desde que devidamente fundamentado.
Diário de Notícias, de 28-12-2012

IDOSOS: Diariamente dezenas continuam a cair no conto do vigário


por Lusa, publicado por Graciosa Silva
Todos os dias dezenas de idosos caem no conto do vigário, apesar dos alertas das autoridades sobre as técnicas usadas pelos burlões. Maria dos Prazeres foi uma das vítimas que esta semana ficou sem pensão e "o último subsídio de natal".
A viúva de 81 anos estava a terminar o almoço quando um "homem bem vestido, de gabardine e cabelo grisalho" lhe bateu à porta. O burlão, que a tratava pelo nome, garantia ser amigo do afilhado.
"Eu acreditei, porque ele disse que conhecia o meu Pedro, que é quem agora olha por mim", recordou a moradora do bairro lisboeta do Beato.
O homem inventou que o afilhado lhe tinha dito para pedir dinheiro a Prazeres para levantar uma encomenda, com a promessa de o devolver na habitual visita de domingo à madrinha.
A mulher, que dois dias antes tinha levantado a reforma e o "último subsídio de natal", foi buscar as poupanças. "Levou-me tudo. Eram 900 euros, todo o dinheiro que tinha para me governar. Fiquei sem nada", lamenta, ainda sem perceber como tudo aconteceu.
"Vinha tão bem elucidado que farto-me de pensar quem será", questiona-se.
Para as forças policiais, não há enigmas nestes casos. As técnicas dos trapaceiros são, invariavelmente, as mesmas. O burlão apresenta-se como amigo da familia, é bem-parecido e conhecedor de detalhes da vida privada, características que lhe permitem ganhar a confiança do idoso.
"O vigarista profissional, antes de falar com a vítima, contacta os vizinhos para recolher informações, porque as pessoas falam mais facilmente da vida da vizinha do que da própria", explica o major Rogério Copeto, da GNR.
No ano passado, a PSP registou diariamente uma média de 61 crimes de burla, roubo ou furto contra idosos, num total de 22.266 delitos. A GNR contabilizou outros 326 crimes de burla.
Mas existem casos que não chegam ao conhecimento das autoridades, como o de Rufina Oliveira, 86 anos, do bairro de Campo de Ourique.
Os burlões que enganaram Rufina encaixam no perfil traçado pelas polícias. A idosa estava a chegar a casa quando um casal se aproximou. "Nunca tinha visto tal gente, mas disseram-me que vinham da parte do meu sobrinho e eu acreditei. Contaram-me que iam abrir uma ourivesaria e que o meu sobrinho tinha pedido para lhes mostrar o ouro".
Confiando no casal "bem vestido e bem-falante", entregou-lhe tudo o que tinha arrecadado durante uma vida. "Assim que se viu com o ouro na mão, parecia um foguete", recorda.
Rufina tentou fazer queixa, mas não conseguiu: "Na polícia disseram-me que não se tratava de um roubo, porque eu lhes dei o ouro", critica.
Com vergonha em admitir que foram enganados ou por medo de represálias, muitos idosos escondem o crime ou relatam-no apenas a familiares ou associações locais, conta o presidente da Junta de Freguesia do Beato, onde chegaram 15 casos em 15 dias.
Para prevenir, a junta lançou um "Guia anti-burla" com conselhos simples, como não abrir a porta a desconhecidos. Aos alertas da autarquia, Rogério Copeto acrescenta que os cuidados devem ser redobrados à hora do almoço, altura em que ocorre a maioria dos crimes.
Apesar de ser vista como uma geração indefesa, alguns conseguem fazer frente aos vigaristas. Mariana Félix, 93 anos, foi alvo de duas tentativas falhadas. A última aconteceu há três meses, quando estava a almoçar, e um senhor "bem-posto" apareceu à porta a dizer que vinha da parte do filho.
"Trazia um fio de ouro na mão e dizia que era uma lembrança do meu filho para eu pôr na caixa do ouro. Eu disse-lhe: aqui não há ouro, só há miséria. Vai-te embora que vou chamar a polícia", recordou a senhora, que fechou energicamente a porta ao larápio, pondo fim à tentativa de burla.
Diário de Notícias, de 28-12-2012

Artur e os outros burlões


por FERNANDA CÂNCIO
Shakespeare, lembrava ontem Rui Pereira no Correio da Manhã, pôs a verdade na boca de um bobo. Podia também ter escrito que não há fúria na terra como a dos jornalistas gozados.
Sim, o sentido de humor faz muita falta. Se o usássemos mais veríamos como esta parábola do Artur nos faz o retrato, na sua genial redução ao absurdo. Com o seu "nós lá na ONU" e o seu discurso ouvido com reverência e sem contraditório, Artur faz alguma diferença de António (Borges) e o seu 'nós lá na Goldman Sachs" ou "nós lá no FMI", o "nós lá na troika" de Abebe (Selassie), ou o "nós lá no BCE" de Vítor (Gaspar)? Num caso é falso e nos outros é verdade, direis. Mas é o lugar de onde se fala que conta, ou o sentido que faz o que se diz, sua verdade e efeito?
Que o que o Artur dizia são disparates, ouvimos agora. Admitamos que sim; que é "o que as pessoas querem ouvir", como ontem o diretor do Diário Económico, António Costa, afirmava no Twitter. Mas há dois anos, quando os media clamavam pelo pedido de resgate para a seguir cantarem loas às "soluções" e ditados da troika, e logo depois, durante a campanha eleitoral, repetirem, sem a questionar, a conversa das "gorduras do Estado", era de quê, factos indesmentíveis, que ninguém queria ouvir, que se tratava? Onde estavam os jornalistas económicos quando PSD e CDS juravam que, uma vez no poder, bastaria "cortar no supérfluo" e nada de aumentar impostos, nada de fechar centros de saúde, escolas, racionalizar o Estado, tudo isso que o Governo anterior fazia, claro, por pura maldade? E onde estão agora, que até o Pedro admite ser a generalidade da despesa do Estado com prestações e serviços sociais, os reconhecimentos de terem sido levados ao engano, os mea culpa por não terem feito "o trabalho de casa"? Onde estão as acusações de burla e os apodos de burlão a quem vendeu a história falsa?
Difícil encontrar hoje um analista ou jornalista que não faça pouco das previsões do Vitor, não é? Mas quem não se recorda de ter sido apresentado como "um técnico brilhante e apolítico", "uma infalível máquina de contas", e a sua austeridade como "o único caminho"? E já não se lembram de como o Pedro era "um homem sério", "sensato", "bem falante" (!), que "não enganava ninguém", e o Álvaro um brilhante académico que trazia do Canadá a saída para todos os problemas?
Artur mentiu, arranjou uns cartões falsos, pretendeu ser autor de um estudo que não é dele e pertencer a uma organização prestigiada que, de resto, nada faz - para não variar da sua atitude geral - para se defender de tal reivindicação. E assim fez discursos, deu entrevistas e chegou à TV. Foi uma bela partida; se fosse a ele fazia disto tese académica ou reportagem, com o título "Como enganei os media portugueses, como são fáceis de enganar, e como enganam quem os consome". Às tantas ganha o Pulitzer. Merece. Até porque, ao contrário dos outros burlões, e tantos são, não nos fez mal algum.
Diário de Notícias, de 28-12-2012

Justiça: muita parra, pouca uva


O Ministério da Justiça demonstrou grande azáfama ao longo de 2012, mas os resultados não são visíveis
Como está a Justiça no fim do ano de 2012? Não se sabe bem. Sabe-se, no entanto, que não está bem.
O Ministério da Justiça demonstrou grande azáfama ao longo de 2012, mas os resultados não são visíveis. É verdade que as reformas legislativas levam tempo para produzir resultados na vida judicial. E as mais importantes em curso, como é o caso da reforma do mapa judiciário, do código do processo civil ou das alterações de carácter penal, ainda estão no processo de gestação da lei. O que quer dizer que, na prática, nada existe. A acção do Ministério da Justiça não é, assim, visível no terreno, ou seja, nos tribunais cíveis e criminais, o palco da Justiça por excelência.
Não faz, pois, sentido afirmar, como afirmou a ministra em Setembro, a propósito de umas buscas realizadas em casa de ex-governantes, que "houve um tempo de impunidade, que acabou". Não houve qualquer alteração legislativa introduzida pela ministra que tenha determinado aquelas buscas. A criação do Tribunal de Propriedade Intelectual é uma medida positiva, mas não me parece ter sido determinante na investigação criminal em causa.
A verdade é que a impunidade não acabou, nem nos processos cíveis, onde impera um sistema que protege o infractor e um regime de execuções/cobranças escandalosamente ineficaz; nem nos processos-crime, onde, entre outras realidades, se mantêm as manobras processuais que vão prolongando indefinidamente os processos a caminho de prescrições laboriosamente conquistadas.
Há, aliás, a salientar um facto notável que podemos mesmo considerar um nicho de mercado a explorar pelos portugueses: o tempo que levou a extradição da Grã-Bretanha do ex-presidente do Benfica indica que é possível exportar a nossa morosidade judicial, assim haja quem o saiba fazer.
Mas saliente-se que a falta de resultados positivos durante o ano de 2012 não é consequência do fracasso das reformas anunciadas pela ministra. Pois só depois de existirem (e ainda não existem como leis), se poderá dizer se são eficazes ou não.
Já não haverá, por outro lado, dúvidas em classificar como pouco eficaz a batalha da ministra da Justiça pela criminalização do enriquecimento ilícito.
A criação deste novo crime levanta problemas complexos em termos de teoria criminal-constitucional - será possível existir sem violar o princípio da presunção da inocência? - e sérias dúvidas sobre a sua eficácia em termos práticos - quantas pessoas virão a ser efectivamente condenadas pela prática de tal crime?
De qualquer forma, parece-me razoável ou aceitável a criação desse crime, desde que a sua formulação respeite a nossa Constituição. Ora, o Tribunal Constitucional (TC), ao considerar, em 4 de Abril deste ano, inconstitucional a legislação aprovada nesse sentido pela Assembleia da República - com votos favoráveis de todos os partidos, com excepção do Partido Socialista -, deixou pouco espaço para uma nova tentativa de criação desse crime.
Claro que se a ministra entende que é possível tipificar o crime de forma constitucional, deverá apresentar uma nova proposta de lei nesse sentido. Mas já parece um exagero dizer que irá ao TC "as vezes que for preciso". Parece-me que não se aplica ao TC o provérbio "água mole em pedra dura, tanto dá até que fura"...
De resto, há matérias muito mais importantes para a ministra da Justiça se dedicar de corpo e alma. Se resolvesse o problema das execuções, acabando com a impunidades dos devedores e a gritante ineficácia do sistema dos agentes de execução - salvo honrosas excepções -, seria lembrada por muitos anos, não só na comunidade judiciária mas, sobretudo, na sociedade civil.
Por último, parece extremamente preocupante que, tanto quanto consegui perceber, se esteja prestes a concretizar uma ambiciosa reforma do processo civil que visa, necessariamente, combater o excessivo formalismo e a lentidão dos nossos tribunais e seja completamente ignorado o recém-publicado e exaustivo estudo Justiça Económica, resultante de uma parceria da Fundação Francisco Manuel dos Santos com a Associação Comercial de Lisboa.
Será que todo esse notável trabalho, não vai, em termos práticos, servir para nada? Faria todo o sentido que o Ministério da Justiça criasse uma task forcepara uma rápida análise daquele estudo no sentido de apurar aquilo que poderia ser útil inserir na reforma que se anuncia. É certo que o estudo foi feito à margem do Estado e à margem do grupo a quem o ministério entregou a reforma do Código do Processo Civil. Mas, ainda assim, ultrapassando as velhas capelinhas, convinha que se aproveitasse o que de bom há nesse estudo. Ou seremos, como sempre, demasiado bons e ricos para perdermos tempo com os contributos dos "outros"?
Público, de 28-12-2012

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Tribunal de Contas pede transparência na venda de património do Estado

PEDRO CRISÓSTOMO 
27/12/2012 - 00:00
Em 52 propostas de alienação de imóveis a empresas públicas, o tribunal só encontrou uma fundamentada
Mais de metade das alienações de património do Estado realizadas entre 2006 e 2011 ocorreu dentro da esfera pública. Nestes seis anos, dos 721 processos identificados pelo Tribunal de Contas, 413 dizem respeito a imóveis adquiridos por empresas públicas. E, desta fatia, todos foram alienados por ajuste directo.
Para o Tribunal de Contas, que ontem divulgou as conclusões de uma auditoria à venda de património do Estado, as decisões de alienação não foram suficientemente fundamentadas e o facto de os processos terem sido na base do ajuste directo pode pôr em causa os princípios da transparência e da concorrência.
Das entrevistas realizadas durante a auditoria e da análise dos processos, a entidade liderada por Guilherme d"Oliveira Martins concluiu que não foram feitos estudos "fundamentados" onde sejam ponderados os custos e os benefícios das alienações, nem estudos que sustentem a selecção dos imóveis a alienar. Isto mesmo foi detectado em 20 processos de uma lista de 345 imóveis afectos a serviços da actual Autoridade Tributária e Aduaneira (que resultou da fusão de três direcções-gerais).
Face ao que é exigido pelo regime jurídico do património imobiliário público, sustenta o tribunal, referindo-se genericamente aos 413 imóveis adquiridos por empresas públicas, houve uma "deficiente e inapropriada - ou mesmo inexistente - fundamentação das decisões de alienação". Ao mesmo tempo, em 52 propostas de alienação, "apenas uma" estava fundamentada. De resto, "41 estavam insuficientemente fundamentadas e dez não continham fundamentação".
Uma tendência observada pelo tribunal foi a de que a esmagadora maioria das receitas resulta de vendas a empresas do Estado. Enquanto o número destes processos equivale a 57,3% do total de imóveis alienados, o seu peso dispara para 96% quando se faz a conta ao valor das transacções. Entre 2006 e 2011, o Estado conseguiu 1438 milhões de euros de receitas com a venda de imóveis, dos quais 1381 milhões foram recebidos de empresas públicas, a maioria do universo da Parpública.
O "recurso sistemático" ao ajuste directo, considera o tribunal, "desvirtua o regime-regra legalmente previsto pondo em causa os princípios da transparência e da concorrência que devem estar presentes nos procedimentos de contratação pública".

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

O custo dos direitos: os sociais e os outros

dinheiro moedas Por António Cluny, publicado em 25 Dez 2012 
A educação, a saúde e a segurança social são, também elas, fundamentais para o desenvolvimento da própria actividade económica

1. Está na moda, entre nós, defender a ideia de que só os direitos sociais, qualificados juridicamente como “prestações positivas”, são onerosos e que é por causa da sua consagração constitucional que as finanças públicas se encontram desequilibradas.
De um lado, salienta-se a “onerosidade” do direito às prestações sociais; de outro, subentende-se a “gratuitidade” do direito “negativo” para que o Estado não interfira, e preserve a vida pessoal e económica legal dos cidadãos e empresas.
Pretende-se, pois, que, para custear os onerosos “direitos positivos” – educação, saúde, segurança social –, seja justo aumentar impostos ou reduzir, se não extinguir o seu alcance efectivo.
2. Dois ilustres constitucionalistas americanos – Stephen Holmes e Cass Sunstein (este assessor do presidente Obama) escreveram, faz tempo, um livro que aborda e esclarece devidamente esta questão: “O Custo dos Direitos”.
Defendem alguns pensamentos simples:
A ideia de que, para assegurar os direitos “positivos” e os “negativos”, o Estado tem sempre de gastar dinheiro público; A ideia de que, não havendo distinção, sendo onerosos, afinal, todos os direitos – os positivos e os negativos – nada justifica, também, a limitação do controlo judicial da violação de uns e de outros.
3. Se pensarmos quanto custa ao Estado – isto é, a todos nós – assegurar o respeito pela propriedade privada, constataremos, com efeito, a demagogia subjacente ao uso perverso daquela distinção puramente jurídica.
Para garantir o direito à propriedade privada ou ao livre comércio, o Estado tem de assegurar, a nível interno, o serviço de polícia, os tribunais, as conservatórias e notários, as autoridades financeiras e de regulação económica e, a nível externo, todo um aparelho de aconselhamento, financiamento, garantia e mediação económica, bem como a defesa nacional e o serviço diplomático.
Para que a economia e os negócios privados possam florescer e ser competitivos, o Estado constrói auto-estradas, ferrovias, aeroportos, portos, redes de telecomunicações, de energia, isenta certas actividades empresariais de impostos e chega a financiar a banca e o emprego privados.
Para garantir os próprios direitos civis e de participação política, como são as eleições ou a liberdade de informação e expressão, o Estado sustenta todo um aparelho burocrático e técnico, um conjunto de autoridades independentes e algumas empresas de comunicação. Todos estes direitos custam, portanto, dinheiro ao Estado - a todos nós.
Acresce que a educação, a saúde e a segurança social são, também elas, fundamentais para o desenvolvimento da própria actividade económica. O aumento da competitividade e da produtividade resultam, em grande parte, da educação e formação dos jovens pagas pelo Estado. O que este gasta em saúde e segurança social assegura o normal funcionamento da sociedade e, portanto, também, o da economia.
4. Procurar, assim, enfatizar a ideia da privilegiada onerosidade dos “direitos sociais”, esquecendo todo o custo da restante actividade do Estado indispensável ao desenvolvimento da economia, constitui, apenas, uma estratégia política. Alocar fundos públicos ou cortá-los num ou noutro sector não é, portanto, uma pura e circunstancial questão técnica, antes uma clara opção ideológica.
Acontece, porém, que Portugal é regido por uma Constituição que coloca limites sérios a opções radicais em tais matérias, podendo e devendo os tribunais – quando outros claudicam – ser chamados a intervir.
Jurista e presidente da MEDEL

PGR tomará medidas "adequadas" após recolha de elementos sobre falso consultor da ONU

A Procuradoria-Geral da República (PGR) está a "analisar" e a "recolher elementos" sobre o caso que envolve o falso consultor da ONU e "oportunamente" tomará "medidas adequadas e convenientes", disse hoje à Lusa a PGR.
"A PGR está atenta, a analisar as notícias publicadas e a recolher elementos que complementem os que, de forma genérica, foram até ao momento divulgados. Oportunamente, serão tomadas as medidas adequadas e convenientes", informou o gabinete de imprensa da Procuradoria, em resposta enviada à agência Lusa.
Entretanto, um representante das Nações Unidas confirmou hoje oficialmente que Artur Baptista da Silva, que se fazia passar por consultor da ONU, não está ligado à instituição e acrescentou que o logótipo usado nos cartões-de-visita está desatualizado. 
Artur Baptista da Silva deu várias entrevistas à comunicação social, apresentando-se como coordenador de um suposto Observatório Económico e Social criado no âmbito do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), informação que se veio a revelar falsa. 
Numa resposta enviada à agência Lusa, Adam Rogers, responsável pelo gabinete de comunicação do PNUD em Genebra afirmou que desconhecia o incidente e confirmou a inexistência de ligações entre Artur Baptista da Silva e a organização. 
"O logótipo do cartão-de-visita (que Artur Baptista da Silva apresentava nos seus contactos profissionais) já não é usado e o PNUD não desenvolve programas nos países da OCDE (organização que reúne essencialmente países desenvolvidos). Todos os nossos recursos são usados para promover os Objetivos de Desenvolvimento do Milénio nos países em desenvolvimento", acrescentou Adam Rogers. 
Artur Baptista da Silva, que afirmava ser também consultor do Banco Mundial e professor de Economia Social da Milton Wisconsin University, uma universidade que já não existe, participou também como orador convidado num debate organizado pelo International Club de Portugal sobre a crise europeia. 
A associação admite agora recorrer aos tribunais, caso se comprove ter sido enganada por um falso especialista. 
Lusa
26.12.2012 17:42

terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Relação de Guimarães: Libertado jovem detido ilegalmente quatro meses


A Relação de Guimarães ordenou a libertação de um jovem de 19 anos depois de concluir que esteve preso ilegalmente cerca de quatro meses, indica um acórdão do tribunal de recurso, facultado nesta segunda-feira à agência Lusa.
O jovem em questão foi condenado em dois processos, um em Póvoa de Lanhoso e outro em Guimarães, onde um juiz de primeira instância entendeu que a pena a aplicar deveria resultar de um cúmulo jurídico dos dois casos.

Posteriormente, o magistrado da primeira instância vimaranense verificou que a sentença de Póvoa de Lanhoso ainda não transitara em julgado, pelo que deu o anterior despacho sem efeito e ordenou que o arguido iniciasse de imediato o cumprimento da pena à ordem do processo de Guimarães.

A Relação de Guimarães entendeu, contudo, que o recuo já não seria legalmente possível e ordenou, em acórdão do dia 18, que o arguido fosse libertado. 
Correio da Manhã, 25-12-2012

Coima de 33 euros: ‘Pai Natal’ multado por excesso de luzes


A tradição correu mal este ano em Ipswich, na Austrália. Nesta povoação, um dos momentos mais aguardados no último fim-de-semana antes do Natal é a passagem do ‘Pai Natal’ num veículo iluminado. Porém, neste ano a polícia decidiu multar o condutor de barbas brancas porque… conduzia um veículo com excesso de luzes.
Por:R.P.V.

O ‘Pai Natal’ disfarçado, Scott Ryan, nem queria acreditar quando o agente da autoridade lhe passou uma multa de 33 euros, indiferente ao seu trabalho. No entender da polícia, o autocarro iluminado poderia confundir outros condutores em matéria de sinalização rodoviária.

De acordo com o jornal ‘Queensland Times’, Scott Ryan apenas pôde continuar a sua marcha depois de apagar as luzes de Natal do seu veículo. Algo que desapontou os milhares de transeuntes.
Correio da Manhã, 25 de Dezembro de 2012

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Suspeito de ser impostor já esteve preso


Foi entrevistado por jornais e televisões, deu conferências e diz-se coordenador de um departamento das Nações Unidas em Portugal, mas afinal Artur Baptista da Silva pode ser um impostor.
Artur Baptista da Silva ganhou notoriedade após ter criticado o plano de ajustamento português, identificando-se como consultor do Banco Mundial e coordenador do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento em Portugal.
Esta segunda-feira, a edição do Diário de Notícias revela que Artur Baptista da Silva esteve preso até dezembro do ano passado, por crimes de burla, abuso de confiança e emissão de cheques sem cobertura.
O diário publica ainda um e-mail enviado em junho para o secretariado do patriarcado de Lisboa, onde Artur Baptista da Silva solicita uma audiência, dizendo-se afilhado do antigo patriarca D. António Ribeiro.
No início deste mês, Artur Baptista da Silva foi orador no Grémio Literário, em Lisboa, na qualidade de professor na Milton Wisconsin University... mas esta universidade norte-americana foi encerrada em 1982.
Artur Baptista da Silva esteve ainda no programa"Expresso da Meia-Noite", da SIC Notícias, onde apresentou um plano de renegociação da dívida portuguesa com a troika.
Em declarações ao jornal Público, Vítor Ângelo, um destacado funcionário das Nações Unidas português, disse desconhecer Artur Baptista da Silva e negou a existência do observatório do qual o indivíduo disse ser coordenador.
Não há ainda qualquer referência ao nome Artur Baptista da Silva nos sitesdo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento e da Organização das Nações Unidas.
Jornal de Notícias, 24-12-2012

Alemanha teme atentados de terroristas islâmicos com aviões não tripulados


Os especialistas do Departamento Federal da Polícia Criminal alemã receiam que o terrorismo islâmico possa realizar atentados na Alemanha com aviões não tripulados ("drones).

De acordo com a revista "Focus", que refere círculos internos não especificados do departamento, considera-se que o radicalismo islâmico está em condições de preparar tais ataques.
O semanário cita como precedente os planos de atentados que o FBI norte-americano conseguiu evitar em 2011, cujo objetivo eram o Pentagono e o Capitólio, em Washington.
No caso da Alemanha, o objetivo dos "drones" poderia ser desde um avião comercial a um aeroporto, assim como uma grande concentração de pessoas ou edifícios públicos, aponta a revista.
A "Focus" afirma que o radicalismo islâmico desenvolve desde há tempo a possibilidade de utilizar aviões não tripulados para cometer atentados.
Jornal de Notícias, 24-12-2012

Despedida porque patrão a achava muito atraente


O Supremo Tribunal do Iowa, nos EUA, considerou legal o despedimento de uma funcionária porque o patrão se sentia atraído fisicamente por ela. Aparentemente, usava roupa "demasiado justa" que o "distraía" e "ameaçava" destruir o casamento do empregador.
Melissa Nelson, de 32 anos, trabalhou 10 anos no consultório de James Knight, de 53 anos. A mulher do dentista, também colega de trabalho de ambos, sentiu que patrão e empregada se davam tão bem que um dia a tentação podia bater à porta. Vai daí, pediu ao marido que despedisse a empregada.
James consultou o pastor da igreja protestante que frequenta, que o aconselhou a avançar com o despedimento. O dentista não foi o cavaleiro que carrega no apelido, "Knight", mas foi além da letra da lei nos EUA, país em que o despedimento é livre, pagando um mês de indemnização.
O caso chegou ao Supremo Tribunal do Iowa, que se colocou perante um paradigma. "A questão que temos de responder é... pode um empregada que não está envolvida em conduta provocatória ser despedida se o patrão a vê como irresistivelmente atraente", questionou o juiz Edward M. Mansfield.
Pode não ser justo, mas não constitui descriminação, segundo o Código dos Direitos Civis do Iowa, determinou o tribunal, composto por sete homens.
"Estamos incrédulos com a decisão do tribunal e a incapacidade que demonstrou para entender a discriminação de género", disse Paige Fiedler, advogada de Melissa Nelson. "Para os sete homens do Supremo Tribunal 'não a conseguir' é chocante e devastador", acrescentou, em declarações à CNN.
Em declarações àquele canal de televisão norte-americano, Melissa Nelson diz que "o despedimento foi injusto" e que tinha uma relação "paternal" com James. "Dava-me com a família dele", explicou.
O caso remonta a 2009, quanto terminaram os 10 anos de relação laboral, iniciados em 1999, num consultório em Fort Dodge, no Iowa. Já perto do fim do vínculo de trabalho, James disse a Melissa que esta usava roupas muito justas, que "o distraíam".
Melissa negou, mas, a determinada altura, lê-se no processo, o patrão disse que se a empregada "reparasse numa protuberância nas calças dele era porque a roupa dela era demasiado reveladora".
Em circunstâncias que nenhum explicou, nem negou, começaram a trocar SMS fora do local de trabalho, já durante os últimos seis meses de relação laboral, em 2009. A mulher de James descobriu e exigiu que o marido despedisse a empregada.
No início de 2010, James Knight avançou com o despedimento. Indemnizou com um mês de salário a empregada e asseverou ao marido de Melissa que ela não fez nada de errado e que "foi a melhor assistente" que alguma vez teve.
Melissa entrou com um processo em tribunal, acusando Knight de discriminação de género. O patrão justificou o despedimento com "a natureza da relação entre ambos e com a percepção de que constituía uma ameaça" ao seu casamento, não por causa do género. Tanto mais que só emprega mulheres e contratou outra para a substituir.
Jornal de Notícias, 24-12-2012