por JOÃO MARCELINO
O
ano de 2012 vai ficar na memória dos portugueses como um tempo de grandes
sacrifícios, e de empobrecimento generalizado. O combate ao défice e à dívida
externa mexeu nas condições de vida da maior parte das famílias. O desemprego
aumentou para números assustadores (16,3% em outubro, segundo o último
Eurostat). O memorando que regula o empréstimo internacional serviu de pretexto
ao Governo para mexer de forma violenta nas leis do trabalho, nos impostos. E
vem aí agora uma reconfiguração do Estado social "decretada" por PSD
e CDS e com a matriz de um plano meramente financeiro
Este foi o pano de fundo que determinou o convite
do Diário de Notícias a Manuel Carvalho da Silva para dirigir a edição em que
se comemoram os 148 de vida do nosso jornal. O desafio era fazer um balanço
destes dias difíceis e, também, perceber o que podem ser aqueles que se vão
seguir.
O ex-sindicalista aceitou o repto e partiu de
ideias expressas no seu livro recentemente editado (Vencer o Medo) para guiar
esta edição, que aborda os problemas de Portugal no contexto das duas linhas
mais fortes que, segundo Carvalho da Silva, devem guiar a nossa diplomacia e a
nossa economia: as relações com a Europa e com o hemisfério Sul, sendo este
representado pelos países da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP),
mas, de uma forma mais geral, pela Ibero-América, um espaço onde há países em
fase de crescimento.
Crescimento é, aliás, a palavra mágica, aquela que
mais se ouviu na boca dos políticos portugueses neste final do ano, ganhando, a
pulso, terreno a outras, que durante meses foram privilegiadas pela comunicação
(e pela política) do Governo: consolidação orçamental, sacrifícios,
empobrecimento.
Ainda não se percebe claramente se 2012 foi um ano
de viragem e de dificuldades inevitáveis ou, apenas, um ano de erros
acrescidos. Os nossos, modelo "custe o que custar", e os que nos são
impostos agora por termos andado anos a gastar o que não devíamos.
Privilegiámos o betão em vez de colocarmos o dinheiro vindo de fora ao serviço
da economia e das empresas. Além do mais sobraram os escândalos, com o BPN à
cabeça - o tal que nunca mereceu uma palavra, uma única, do Presidente da
República.
Manuel Carvalho da Silva é um homem de esquerda,
sindicalista, foi militante do Partido Comunista. As suas ideias são conhecidas
há muito tempo em Portugal. Num momento de retrocesso das conquistas sociais e
de um empobrecimento que também visou pagar desmandos nunca devidamente
deslindados pela Justiça, e oriundos da ação de pessoas pertencentes às mesmas famílias
políticas que agora os procuram resolver, foi um prazer colocar esta edição do
DN nas mãos de um cidadão sério, socialmente interventivo e que advoga caminhos
diferentes para a solução dos problemas nacionais.
Diário de Notícias, 29-12-2012
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