Um dos detidos do Rio de Janeiro durante as manifestações dos
últimos dias acusou, esta segunda-feira, as autoridades de praticarem
"terror psicológico" com os presos, fazendo ameaças de violência ou
gás lacrimogéneo.
foto YASUYOSHI CHIBA/AFP
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Em declarações à Lusa, o universitário Matheus Mendes Costa, 21
anos, um dos 60 manifestantes presos no Rio de Janeiro, diz que no dia 17 foi
arrastado por um agente à paisana e transportado para um autocarro do Batalhão
de Choque sem ter tempo para explicar-se ou compreender o motivo da detenção.
"Vimos um alvoroço, um carro a ser incendiado e muita
correria. Uma das pessoas que estava a ser presa tinha que ajoelhar-se e
deitar-se no chão. Não imaginei que poderia acontecer algo comigo", disse
à Lusa.
"Eu estava com a mochila da faculdade ao lado do meu pai. O
polícia puxou-me pela mochila e arrancou o cartaz que eu tinha", afirmou o
jovem que foi detido nessa noite juntamente com mais nove pessoas, sob a
acusação de agressão contra os polícias.
"Éramos um grupo de 10 pessoas, duas eram mulheres, a
maioria de universitários e um morador de rua. Ninguém tinha perfil de
vândalo", salientou.
Durante 13 horas Matheus dividiu uma cela de três metros
quadrados com os manifestantes presos. O estudante só foi solto após pagar uma
fiança de três mil reais (mil euros).
"Senti uma angústia, a polícia não conseguia fazer o seu
trabalho de prender os vândalos, então resolveu pegar pessoas inocentes com uma
acusação falaciosa e ainda tivemos que pagar uma fiança mesmo sem poder
comprovar que éramos inocentes", criticou.
As detenções arbitrárias levaram mesmo a Amnistia Internacional
a divulgar um guia de boas práticas para o policiamento de manifestações
públicas, de modo a que "o direito à livre manifestação seja garantido de
forma pacífica".
As recomendações são baseadas no Código de Conduta das Nações
Unidas e defende que reuniões públicas não podem ser consideradas como
inimigas, recomendando-se que se evite o uso da força.
"Se isso for inevitável, para garantir sua segurança e a
segurança de outros, deve-se usar o mínimo de força necessária", refere o
guia.
O secretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro, José
Mariano Beltrame, já admitiu que poderão ter existido abusos e que a Polícia
Militar (PM) não conseguiu controlar os manifestantes.
"Tivemos situações que não conseguimos controlar. Se
conseguíssemos o Rio não amanheceria como amanheceu. Controlamos muitas outras
coisas que poderiam ter tomado dimensões muito maiores", declarou.
O secretário garantiu que todos os excessos da PM serão
investigados por procedimentos internos da corporação. A Corregedoria irá
investigar também os vídeos colocados na internet.
As autoridades admitem ainda a possibilidade de acionar o
Exército para as ruas da cidade.
Os protestos começaram no início de junho em São Paulo,
exclusivamente contra a subida das tarifas dos transportes públicos, mas
estenderam-se a outras cidades no Brasil e de outros países.
A repressão policial às manifestações motivou outras pessoas a
protestarem pela paz e pelo direito de manifestação, bem como outras queixas,
entre quais corrupção e a falta de transparência.
Em particular, as manifestações criticam os elevados gastos com
a organização de eventos desportivos como o Mundial 2014 e os Jogos Olímpicos de
2016, em detrimento de outras áreas como a saúde e a educação.
Jornal de Notícias on line, 24 de Junho de 2013
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