por FERREIRA FERNANDES
Na prisão paulista
Tiradentes, em 1970, a revolucionária Vanda sonhou com manifestações de um
milhão cercando o Palácio do Planalto, em Brasília - lembrava, ontem, o
cronista brasileiro Elio Gaspari. Já sem o seu nome da clandestinidade, Dilma
Rousseff acabou, na semana passada, por viver um dia assim. Mas do lado errado:
dentro do palácio, de onde só saiu protegida pela tropa. Outro cronista,
Ancelmo Gois, revela que Wilson Simoninha é um dos produtores do jingle Vem Pra
Rua, lançado para ser anúncio da Fiat na Taça das Confederações. Com os seus
versos ("a rua é a maior arquibancada do Brasil"), a musiquinha
estava a pedi-las e tornou-se o hino das atuais manifestações. Ora Simoninha é
filho de Wilson Simonal. E Simonal é um dos grandes da música brasileira (oiçam
Nem Vem Que Não Tem), negão que cantava com Sarah Vaughan e enchia salas... mas
não criticava a ditadura militar. Quando esta caiu, suspeitou-se que Simonal
tinha amigos da polícia política e ele acabou como artista... Ironias destas -
o Palácio do Planalto e Vanda/Dilma e o filho do reacionárioSimonal incendiando
hoje as massas - são ótimas para filme mas não nos explicam este Brasil. Outro
cronista, Luis Fernando Verissimo, deixa pista mais sólida: os brasileiros
engalinham com a FIFA. Com a mania de dar ordens em casa alheia, ela acabou por
desautorizar os comparsas, as autoridades locais. Traduzo: por cá, com troca
nas fífias, FIFA diz-se troika.
Diário de Notícias, 24 de Junho de 2013
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