Eduardo Cabrita - A
grande vantagem comparativa de Portugal no meio do furacão que tem varrido a
Europa é a paz social, a bonomia dos protestos sindicais, o reiterado
compromisso do PS com o Memorando da troika e a paciência do povo perante as
vagas de más noticias com que tem sido bombardeado.
O discurso oficial
assentou na determinação do bom aluno que seria recompensado nas notas das
avaliações trimestrais até à glória do quadro de honra para gáudio luso e
exemplo para arruaceiros gregos ou espanhóis. A dúvida surgiu quando as
obesidades a cortar foram quase só os "pneus" dos reformados
sedentarizados e os "papos" dos funcionários públicos confundidos com
a vetusta imagem dos mangas-de-alpaca.
A banca foi apoiada com
fundos da troika sem qualquer contrapartida quanto ao financiamento da economia
e libertou - se do pagamento de pensões, à conta da maquilhagem do défice de
2011, com custos para todos nós de mais de 500 milhões de euros este ano.
Face a tão bizarra
forma de repartição de sacrifícios, o Tribunal Constitucional foi chamado a
pronunciar-se por iniciativa de deputados do PS acompanhada pelo BE e teve a
benevolência de, perante a crise, dar ao Governo tempo para corrigir a
ilegalidade através de soluções equitativas perdoando a violação da Lei Fundamental
em 2012.
A resposta de Passos e
Gaspar foi a fuga para o precipício destruindo a esperança de retoma em 2013,
substituída por mais um ano de recessão. As medidas anunciadas provam que
perdemos um ano de reconversão da economia e que o fanatismo ideológico vai
provocar o maior aumento de impostos sobre o trabalho de sempre (7% de
Segurança Social + novos escalões de IRS + redução de remunerações extra). O
bónus de 2,3 mil milhões às empresas torna-nos cobaias da engenharia social e
aumenta lucros a quem não merece.
Esta terceira injeção é
uma overdose fatal para o consenso político, para a paz social e um murro que
põe KO a autoestima nacional. A forma como se pretende aldrabar o Tribunal
Constitucional é o maior desafio de sempre à prova de vida de Cavaco. Mais do
que um Governo sem futuro, passamos a ter um Governo fora de lei.
Eduardo
Cabrita Deputado do PS
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