Austeridade. Os
cofres públicos já foram buscar 2,566 mil milhões de euros, nos últimos três
anos, aos 3,5 milhões de reformados portugueses, entre cortes, congelamentos e
impostos
ERIKA NUNES
Mais de um terço da
população portuguesa está reformada e revoltada. Os movimentos de reformados,
pensionistas e aposentados nascem, crescem e organizam-se para tentar recuperar
alguns dos direitos que têm visto ser, gradualmente, retirados.
De acordo com o
economista Eugénio Rosa, nos últimos três anos, com os cortes aos reformados e
pensionistas o Estado já foi buscar 2,566 mil milhões de euros. Ou seja, cada
reformado perdeu 733 euros.
Há 3,5 milhões de
portugueses reformados ou pensionistas, dos quais dois milhões têm pensões
baixas – abaixo do salário mínimo nacional – mas que não têm sido poupados à
austeridade.
Além dos cortes em
vigor para todos os portugueses, há ainda cortes específicos para este grupo
que se sente “atacado pelas medidas de austeridade” e promete “não desistir dos
protestos enquanto não for cumprida a Constituição da República”, como refere
Casimira Menezes, presidente da Confederação Nacional de Reformados,
Pensionistas e Idosos (mais conhecida por MURPI).
Rosário Gama,
professora reformada e fundadora da associação APRe!, acrescenta que representa
um grupo que “tem sofrido os mesmos cortes que o resto da população e ainda
mais alguns exclusivos”, o que lhes aumenta o “sentimento de profunda
injustiça, num momento que estão a ser “o subsídio de desemprego dos filhos e
netos desempregados, substituindo o Estado social”.
“A Constituição diz
que o Estado deve assegurar meios para a autonomia financeira dos reformados”,
recorda Casimiro Menezes, médico reformado, desiludido por “o que esteve
contratualizado com o Estado ao longo de 36 anos de descontos não estar a ser
cumprido agora”.
E o que sucede com
os reformados da Caixa Geral de Aposentações (CGA), que o Governo quer agora
fazer convergir com os reformados da Segurança Social, mediante o corte, em
média, de 10% das reformas. “O valor da reforma da CGA está contratualizado com
o Estado, durante toda a vida contributiva esteve contratualizado.
Ora, fazerem agora
descontos é querer alterar um contrato no passado, criar uma lei com efeitos
retroativos. Não pode ser”, reclama Rosário Gama, que promete interpor uma ação
contra o Estado se a medida avançar em definitivo.
Os cortes nas
pensões e nas reformas já começou em 2011: mais 1% de IRS nos escalões mais
baixos, mais 1,5% de IRS nos escalões mais altos, depois foi-lhes retirado um
ou dois subsídios, consoante o rendimento-que o Tribunal Constitucional
declarou ilegal, mas “permitiu que vigorasse na mesma”, acrescenta Casimiro
Menezes. Agora ainda têm de pagar a Contribuição Extraordinária de
Solidariedade, além do fator de sustentabilidade do sistema.
Com a lei que
permitiu aumentar as rendas de casas, com o aumento do IMI, o fim dos passes
para reformados nos transportes públicos, o aumento das taxas moderadoras, dos
exames médicos, dos medicamentos, da energia elétrica, do gás e do IVA sobre
bens alimentares, Rosário Gama confessa que não faz “ideia do poder de compra
perdido em três anos, só que já não se consegue comprar nada do que podia e
muitos ainda têm de sustentar filhos e netos”.
Entre o que mais
apoquenta os reformados, revela o presidente da MURPI, “é o acesso à saúde,
desde a incapacidade económica para custear medicamentos e tratamentos, às
condições de atendimento cada vez mais precárias nos hospitais e centros de
saúde, à medida que os cortes no SNS avançam”. A “qualidade de vida que
trabalhámos para ter foi-nos retirada”, conclui o médico.
Diário
Notícias, 20 Maio 2013
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