Marques Mendes considera a decisão do Tribunal Constitucional
"disparatada" PEDRO CUNHA/ARQUIVO
O ex-líder social-democrata Luís Marques Mendes defendeu no sábado
que o primeiro-ministro deve fazer uma “grande remodelação do Governo” e deve
renegociar com a troika, na sequência do chumbo do Tribunal Constitucional
(TC). Nessa renegociação, Passos Coelho deve “envolver mais o PS”.
No seu comentário habitual no Jornal da Noite da
SIC, o antigo presidente do PSD revelou que a hipótese de demissão de Passos
Coelho esteve em cima da mesa. No entanto, perante as declarações
do Presidente da República no final da reunião com Passos
Coelho na tarde de sábado, terá havido "um entendimento" no sentido
de o primeiro-ministro continuar o seu mandato, admitiu Marques Mendes.
A demissão "seria o fim do mundo”, sobretudo para o PSD e
para o país, observou, argumentando que significaria "um segundo resgate,
mais desemprego, mais recessão e mais austeridade". A não-demissão é “um
mal menor”.
Se Passos Coelho se mantiver à frente do executivo, este deve
“crescer em estrutura”, com a divisão dos Ministérios da Economia e do
Ambiente, e deve integrar “nomes fortes”, defendeu o social-democrata,
preferindo não fazer sugestões sobre eventuais escolhas.
Além de renegociar com a troika, envolvendo mais o PS,
Passos Coelho deve “construir uma nova agenda virada não apenas para a
austeridade, mas para o crescimento da economia”, defendeu ainda o ex-líder do
PSD.
Marques Mendes acredita que Passos Coelho “não vai atirar a toalha
ao chão” perante a decisão do TC
de chumbar quatro normas do Orçamento do Estado para 2013, que
considera “disparatada”. Admitindo que "ninguém imaginava que fosse um
chumbo tão acentuado”, Marques Mendes aproveitou para criticar algumas
declarações dos juízes do TC, por serem de “cariz político”.
Este chumbo terá, na opinião de Marques Mendes, sérias
consequências para o país. “O alargamento dos prazos e o regresso aos mercados
de Portugal ficaram adiados sine die”, exemplificou. Disse ainda
que a decisão dos juízes do TC "deve ser respeitada", mas também
"merece ser clarificada", até porque foi "contraditória"
com outras decisões tomadas no passado por aquele tribunal.
No seu comentário, criticou ainda a moção de censura
apresentada pelo PS e chumbada pela maioria PSD/CDS, na passada
quarta-feira. "Se o Governo não está bem, a oposição não está
melhor", observou, referindo que António José Seguro ficou “muito mal” na
fotografia, pois “não apresentou nenhuma alternativa”. Teceu ainda duras
críticas a Seguro pela forma como deu a conhecer a intenção de escrever à troika pedindo
a renegociação da dívida, sublinhando que o líder do PS “ainda não
está preparado para governar”. “Então alguém que quer ser primeiro-ministro
escreve uma carta a altos dirigentes internacionais e divulga-a primeiro aos
jornalistas?”, questionou.
Sobre o pedido de
demissão de Miguel Relvas, apresentado nesta quinta-feira e aceite
pelo primeiro-ministro, Marques Mendes entende que era “inevitável”, uma vez
que a “situação de há alguns meses a esta parte era um pesadelo”, sobretudo
para o Governo. No entanto, há um aspecto "ingrato" nesta decisão:
“Ele sai de cena, ficando a última imagem dele na opinião pública como se ele
só tivesse defeitos. Isto é um bocado ingrato, porque ele tem qualidades”,
afirmou.
Na opinião do comentador, mais do que qualquer outro caso, foi a
“tonteria da licenciatura” que levou a este desfecho, que representará
“provavelmente o fim da carreira política” de Relvas. Marques Mendes criticou
ainda “algumas universidades privadas”, que “adoram fazer favores aos
políticos”, e alguns políticos “provincianos”. Deixou uma sugestão: “Quem quer
ir para o Governo não pode ter rabos-de-palha nem telhados de vidro”.
Público 7-4-2013
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