Pedro Sousa Carvalho
O líder do PS foi
apanhado em excesso de velocidade. Desde que apresentou a moção de censura, que
António José Seguro andava a conduzir os destinos do PS a alta velocidade e
reclamando, de uma forma completamente extemporânea, eleições antecipadas.
O líder do PS foi apanhado em excesso de velocidade. Desde que
apresentou a moção de censura, que António José Seguro andava a conduzir os
destinos do PS a alta velocidade e reclamando, de uma forma completamente
extemporânea, eleições antecipadas. Um cenário que nesta altura seria dramático
para o País. Há quem diga que o regresso de José Sócrates levou Seguro a
carregar no acelerador e a meter o turbo, não fosse o anterior
primeiro-ministro querer de volta a sua cadeira no Largo do Rato. E Seguro
esperava que a decisão do Tribunal Constitucional e a dramatização (excessiva,
diga-se) feita por Passos Coelho lhe abrisse caminho para governar num cenário
de ingovernabilidade. Mas foi obrigado a travar a fundo. É caso para perguntar,
e parafraseando o próprio Seguro: Qual é a pressa? Qual é a pressa? Qual é a
pressa?
No seu discurso feito ontem, a palavra "eleições"
desapareceu completamente do vocabulário de António José Seguro. E acredito que
não vai voltar a aparecer tão cedo.
António José Seguro tem de continuar a fazer o seu caminho como
tem vindo a fazer: devagar, devagarinho, com responsabilidade e sem
radicalismos. Mesmo sentindo-se desvinculado do memorando da ‘troika', o líder
do maior partido da oposição tem a obrigação de não contribuir para atirar o País
para uma situação de ingovernabilidade, como estamos a assistir em Itália. Até
porque, mesmo após dois anos de austeridade de Passos Coelho, não existe uma
única sondagem a darmaioria absoluta aos socialistas, o que é prova Seguro
ainda tem muito caminho pela frente.
E António José Seguro deve fazer esse caminho sem pressas. Já
conseguiu o que muitos pensavam que ele seria incapaz: encostar António Costa
às boxes e, creio, rapidamente vai fazer o mesmo com José Sócrates que
regressou com um discurso gasto e anacrónico.
Mas Seguro vai ter de encontrar um novo discurso para fazer
oposição. E não é fácil fazer oposição num país sob protectorado. Durante muito
tempo o líder do PS fez oposição com a bandeira da necessidade de a ‘troika'
dar mais tempo para baixar o défice. E a ‘troika' deu. Seguro ficou desarmado.
Depois insistiu na necessidade de Portugal ter mais tempo para pagar a dívida e
juros mais baixos. E a ‘troika' vai dar. Depois mostrou-se contra mais
impostos. E Passos veio dizer este fim-de-semana que não há mais subidas de
impostos. E Seguro continua com o seu difícil exercício de mostrar que se
chegar ao Governo é capaz de fazer diferente de Passos. Ontem voltou a
apresentar, pela enésima vez, aquilo que começa a afigurar-se como o embrião de
um programa eleitoral do PS: baixar IVA da restauração, criar um Banco de
Fomento, usar dinheiro da ‘troika' para a banca para capitalizar as PME, lançar
um plano de reabilitação urbana, aumentar o salário mínimo e apostar na
requalificação de desempregados usando fundos comunitários.
O problema é que todas estas medidas dependem da boa vontade da
‘troika' e as únicas duas que não dependem (Banco de Fomento e reabilitação
urbana), o Governo já as está a implementar.
António José Seguro, muito provavelmente, vai ser
primeiro-ministro em 2015. Pela lógica da alternância democrática, pelo natural
desgaste do Governo PSD/CDS e porque não há memória recente de nenhum governo
na Europa que tenha implementado medidas de austeridade e que tenha conseguido
renovar o mandato. Mas é preciso ir sem pressas para não descarrilar.
Diário Económico, 9-4-2013
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