JUSTIÇA INVESTIGA
BURACO DE MILHÕES APÓS NACIONALIZAÇÃO DO BPN
BANCA –
TRANSFERENCIA DE EMPRÉSTIMOS
Justiça investiga
limpeza do BPN
Ministério Público
abriu um inquérito à venda de créditos à Parvalorem após a nacionalização do
banco
DIANA RAMOS
O Ministério Público
está a investigar a operação de limpeza de créditos do BPN após a
nacionalização do banco. Em causa está a venda do chamado ‘lixo tóxico’
(empréstimos dados sem garantias de reembolso) à sociedade Parvalorem, criada
pelo Estado, e a passagem de vários créditos problemáticos da Caixa Geral de
Depósitos (CGD) para o balanço do BPN.
Segundo informação
obtida pelo CM, o Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP)
abriu no final de fevereiro um inquérito à venda de três créditos tóxicos do
BPN à Parvalorem, após uma denúncia feita por Miguel Reis Aires, advogado de
dois arguidos de um outro caso do processo BPN. O banco, que foi vendido por 40
milhões ao BIC, recebeu da Parvalorem, por esses três créditos, 85,2 milhões.
Em causa está a
alienação dos empréstimos ao valor nominal istoé, ao valor da dívida ao BPN -,
a que foram também somados juros de mora e outros encargos relacionados com o
financiamento. Na prática, o Estado comprou ao BPN, através da Parvalorem e com
financiamento da Caixa Geral de Depósitos, créditos com poucas garantias de
recuperação pelo mesmo montante da dívida. Isto apesar de as empresas de
recuperação de créditos, que operam neste mercado, comprarem este tipo de
empréstimos por números muito abaixo do valor da dívida, de forma a obterem uma
margem que cubra o risco do negócio.
Num dos casos
denunciados, o BPN recebeu, em dezembro de 2010, 12,6 milhões de euros pela
cessão de um crédito de dez milhões. O alvo da queixa são os membros da
administração do BPN nacionalizado, liderada por Francisco Bandeira, bem como
um advogado do BPN, Amílcar Fernandes.
Banco vende
empréstimo e fica credor
O BPN manteve-se
credor num processo de insolvência de uma empresa, mesmo depois de já ter
vendido os créditos à Parvalorem. O processo iniciou-se no Tribunal de
Penafiel, mas, como o banco perdeu a causa, recorreu para a Relação do Porto,
que lhe deu parcialmente razão e voltou a enviar o processo para a primeira
instância. Em causa a empresa Beyond Home, cuja insolvência foi requerida por
incumprimento de um crédito de 10 milhões.
Quando o processo
regressou ao Tribunal de Penafiel, para que fosse feita uma avaliação dos
terrenos que serviam de garantia, o advogado da Beyond Home acabou por se
aperceber de que as dívidas já tinham sido cedidas à Parvalorem em 2010.
‘Desapareceram’
depósitos de 3,9 mil milhões
Um documento da
comissão de trabalhadores do BPN, datado de 30 de janeiro de 2012 e entregue à
comissão parlamentar de inquérito, denuncia que, após a nacionalização do
banco, saíram mais de 3,9 mil milhões de euros em depósitos, registando-se um
aumento do crédito concedido (ver quadro).
A decisão da nova
administração de descer as taxas de juro das poupanças para níveis equivalentes
aos da CGD acelerou a fuga dos depósitos.
CANDIDATURA S
Terminou no passado
dia 18 de fevereiro o prazo para os candidatos à cobrança dos créditos do BPN
apresentarem as suas propostas à Parvalorem. A empresa do Estado tem 44 dias
para analisar e validar essas propostas, a que acrescem mais 35 dias para os
candidatos que tenham sido aceites desenvolverem um plano de cobrança.
Correio Manhã,
11 Março 2013
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