Público
- 20/02/2013 - 00:00
É
um mundo de mudanças aquele em que o jornalismo vive hoje. Constantes,
apressadas, multifacetadas. Por isso, por mais que se debata, se inquira, se
tente prever e adivinhar, "o futuro está em aberto". Isso mesmo
concluiu ontem a administradora da TVI, Rosa Cullell, que encerrou a
conferência intitulada "Como vai ser o jornalismo nos próximos 20 anos?
Até sabermos a resposta continuamos a fazer perguntas".
A conferência foi uma das iniciativas para assinalar os 20 anos
da TVI, que hoje se comemoram e acabou por ficar marcada pelo incidente dos
protestos a Miguel Relvas. Mas antes, durante todo o dia, jornalistas,
académicos, administradores de empresas de media trocaram ideias sobre o futuro
do jornalismo no ISCTE.
Desde que a TVI foi fundada, então com outra filosofia, a
televisão sofreu muitas transformações. Houve "mudança, ameaças e
oportunidades. Em 20 anos mudou muita coisa, mas este tempo de mudança não
terminou. Pelo contrário, acelera a cada dia que passa." Já não faz
sentido falar-se hoje de rádio, televisão e online, mas sim de media - e todos fazem serviço público,
vincou Rosa Cullell.
É essa multidisciplinaridade que vem baralhar as teorias em que
se baseava o jornalismo. E que agora, com as multiplataformas em que pode (e
deve) ser apresentado, tem que se reinventar como modelo de negócio, como modo
de produção de notícias e até como modelo de abordagem à actualidade. Uma
certeza é inquestionável: a rede, primeiro com a internet nos moldes
tradicionais (os meios de comunicação social online) e agora com as redes
sociais (algumas assumindo-se como produtoras de conteúdos próximas do
jornalismo) veio facilitar e dificultar o modo como se faz jornalismo.
Juan Luis Cebrián, presidente da espanhola Prisa, dona de parte
da TVI, assumiu que as redes têm muitos problemas: o maior deles é que os
conteúdos que as redes sociais produzem não têm intermediação, que é o valor
acrescentado que os jornalistas oferecem na sua abordagem, com a análise e
reflexão que fazem. Porque é isso que marca a "informação de referência"
que o jornalismo "não pode abandonar", defendeu Rosa Cullell.
A tecnologia também traz "dificuldades e
responsabilidades", vincou o antigo Presidente da República Jorge Sampaio.
O segredo estará na forma de as potenciar e tirar delas proveito. Sampaio
lembrou também o problema da concentração, que não é apenas um inimigo, mas
também "um tapa-agendas" que pode ser uma armadilha para o jornalismo
- que se quer feito por pessoas "mais informadas, atentas aos grandes
acontecimentos mundiais e com uma formação dedicada a perceber a
diversidade". "O jornalismo será, de algum modo, o espelho do
país", considerou Sampaio, que colocou a actividade ao mesmo nível dos
partidos e dos movimentos sociais como "garantes absolutos da democracia".
O cenário pintado por Marcelo Rebelo de Sousa foi mais negro - o
jurista e comentador acredita que até 2015 assistir-se-á à "morte e luta
feroz dos órgãos de comunicação social pela sobrevivência e pela
liderança". "Será um período ingrato para o jornalismo e para os
jornalistas. Um período de indefinição constante." A partir de 2016 o
sector, com os media que sobreviverem, vai mudar "imenso". Mas
previsões a 20 anos ninguém faz.
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