segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Tribunal julga rede que recrutava estrangeiros para assaltos em Portugal

 Justiça

Tribunal julga rede que recrutava estrangeiros para assaltos em Portugal

Por Pedro Sales Dias
Grupo arrecadou milhares de euros com a venda dos produtos furtados, que eram exportados através de empresas romenas
Durante cerca de dois anos, uma rede altamente organizada conseguiu concretizar furtos em várias superfícies comerciais e ourivesarias de norte a sul de Portugal sem qualquer travão e arrecadando milhares de euros. O grupo, constituído maioritariamente por cidadãos de nacionalidade romena, protagonizou entre 2009 e 2011 quase uma centena de assaltos, ora utilizando métodos sofisticados para dissimular os furtos nas lojas, ora arrombando as portas das mesmas durante a noite, aproveitando o período de encerramento. Quando arrombar não era adequado aos propósitos, escalavam as paredes e introduziam-se nos edifícios. 

Vinte e quatro elementos do grupo, dos quais 11 estão em prisão preventiva, começam a ser julgados em Novembro nas Varas Criminais do Porto, acusados de furto qualificado, associação criminosa e crime de violência depois de subtracção. No processo, que conta com 86 testemunhas, estão pelo menos identificadas 91 pessoas ou entidades lesadas.

O grupo estava dividido em dois subgrupos organizados e "com uma hierarquia estruturada" onde cada "um tinha uma função estabelecida", diz o Departamento de Investigação e Acção Penal (DIAP) do Porto na acusação à qual o PÚBLICO teve acesso. Durante aquele período, a rede angariou "cidadãos romenos" para trazer para Portugal com a missão de se dedicarem em exclusivo a furtos em ourivesarias, estabelecimentos de electrodomésticos, perfumarias e outras lojas. 

Segundo o Ministério Público (MP), a liderança do grupo assumia os custos com a deslocação dos elementos recorrendo a agências de viagens. Aos "rapazes" - como eram conhecidos os recém-chegados - era assegurado, em troca, o alojamento, a comida e a logística necessária. Eram também recompensados com parte dos artigos furtados e com a concessão de bens ou favores aos seus familiares na Roménia. A maior parte estava alojada em casas localizadas em Pedrouços, Maia, onde a PSP realizou buscas em Março de 2011. 

De acordo com o DIAP do Porto, um dos grupos, que incluía 16 elementos, actuava preferencialmente durante o período de encerramento das lojas. Agiam munidos com rebarbadoras, discos, cabos, extensões eléctricas e botijas de oxigénio que, ligadas a uma bateria de automóvel e a uma bateria de magnésio, permitiam criar um maçarico capaz de derreter aço a cerca de 1500 graus. Era assim que derretiam os cofres de supermercados e ourivesarias. Usavam ainda pés-de-cabra, marretas, alicates, chaves de fendas, tesouras e discos de corte de ferro. 

Foi com este equipamento que visaram uma grande loja de electrodomésticos de Gondomar em Novembro de 2010, levando 23 mil euros em produtos. No mês seguinte, atacaram uma ourivesaria em Vilar do Paraíso, Vila Nova de Gaia, de onde levaram 15 mil euros em artigos. Em Fevereiro de 2011, assaltaram o supermercado Dia no Cartaxo, levando 1294 euros que estavam no cofre. E, no dia seguinte, arrombaram a caixa ATM do Intermarché de Pinhal Novo, levando de uma só vez 47 mil euros. 

Mas um dos assaltos que o grupo terá protagonizado com maior perícia terá sido a uma casa de penhores no Porto, em Setembro de 2010. Em poucos minutos, levaram 80 mil euros em artigos valiosos que estavam no cofre da Companhia Auxiliar de Crédito Agrícola, na Rua Mártires da Liberdade. Primeiro cortaram a linha telefónica do edifício e depois escalaram - através de uma escada que traziam sempre - a parede de uma casa desabitada ao lado. Assim acederam a uma janela da casa de penhores. Os pés-de-cabra, que arrombaram as portas dos escritórios, fizeram o resto. 

Os produtos furtados eram depois transportados por estrada até à Roménia, onde eram comercializados. A exportação era feita através de duas empresas de viação romenas: a Luca Travel e a Olímpia Travel, que vinham a Portugal todas as semanas, nomeadamente aos sábados. A rede tinha, segundo o MP, um responsável pelo controlo e gestão na Roménia dos produtos furtados.

Público | Segunda-Feira 29/10/2012

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