JUSTIÇA
– PROCESSO DISCIPLINAR TERMINA COM PENA DE DEMISSÃO
Procuradoras
recebiam prendas
Magistradas
que se envolveram com burlão são acusadas de fornecer informações judiciais e
de usarem o cargo para conseguir viagens e roupas
ANA
LUÍSA NASCIMENTO
As
duas procuradoras do DIAP de Lisboa demitidas do Ministério Público por
violarem os deveres de lealdade, isenção e de sigilo e reserva, usaram os
respectivos cargos para obterem “prendas, como viagens pagas, ofertas de roupas
e estadias em hotéis”, designadamente em Espanha e Inglaterra.
A
conclusão consta dos processos disciplinares, que culminaram agora na demissão
das procuradoras – adjuntas do DIAP de Lisboa, suspensas de funções desde 2011.
O
caso começou, em 2010, quando as magistradas conheceram na noite um burlão
cadastrado que se apresentou como inspector da Polícia Judiciária. O homem,
foragido à Justiça, acabou por se envolver com as duas, e conseguiu obter
informações sigilosas sobre processos judiciais.
Os
dados pesquisados pelas procuradoras e transmitidos ao burlão serviram também
para “falsificação de documentos e uso de identidade falsa”. As mulheres
chegaram mesmo a usar os seus cartões de livre trânsito no Instituto de
Mobilidade Terrestre, em Lisboa, “para os serviços entregarem de forma mais
célere a carta de condução pedida em nome” do burlão. Outra das situações
relatadas no processo é a deslocação das magistradas a um cartório notarial, de
uma amiga, com o intuito de esta lhes facilitar bilhetes de identidade falsos
para o burlão.
Por
todas as situações apuradas, que continuam em investigação num inquérito-crime
da Polícia Judiciária, o Conselho Superior do Ministério Público acusa ainda as
magistradas de terem violado os deveres de prossecução do interesse público,
prejudicando “gravemente” a imagem e o prestígio desta magistratura.
A
pena de demissão, medida mais gravosa, foi decidida em Junho, mas as
magistradas reclamaram para o plenário. Porém, e por unanimidade , o órgão com
competências disciplinares decidiu manter a decisão.
APONTAMENTOS
INQUÉRITO
INTERNO
As
duas magistradas demitidas, de 40 e 44 anos, estavam no DIAP de Lisboa desde
1999. Quando se soube do caso, Maria José Morgado afastou-as e abriu um
inquérito interno.
RECURSO
AO SUPREMO
Com
a confirmação das penas de demissão pelo plenário do Conselho Superior do
Ministério Público, as procuradoras-adjuntas só podem recorrer agora ao Supremo
Tribunal Administrativo.
Correio Manhã, 26 Setembro 2012
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