29/07/2013 - 00:00
Ministério
garante que "não há qualquer buraco nas contas" dos hospitais geridos
por privados. Seguro concorda
Uma
auditoria do Tribunal de Contas (TC) aos encargos com as parcerias
público-privadas (PPP) dos hospitais de Braga, Loures, Cascais e Vila Franca de
Xira concluiu que não foram contabilizados cerca de 6 mil milhões de euros
relativos aos serviços clínicos a prestar nas próximas três décadas. No
relatório ontem divulgado, o TC considera que os encargos com as PPP na Saúde
foram subestimados pelo Ministério das Finanças - que calculou a despesa
estatal em 4143 milhões de euros, quando as contas do organismo presidido por
Guilherme Oliveira Martins apontam para uma factura final de 10.445 milhões de
euros, até 2042.
Como se
explica tão grande discrepância? O Tribunal de Contas alega que os custos das
PPP têm sido calculados levando apenas em conta os compromissos contratuais já
assumidos, sem contabilizar os encargos globais decorrentes dos 20 anos anos
que faltam do contrato de serviços clínicos nos quatro hospitais. O TC
recomenda, assim, ao Governo, em particular à ministra de Estado e das
Finanças, que "efectue, no contexto do apoio ao processo de aprovação do
Orçamento do Estado, o apuramento realista da despesa prevista com os contratos
de PPP".
Sublinhando
que ainda não conhece este último relatório do TC, o primeiro-ministro, Pedro
Passos Coelho, assegurou ontem que o Governo vai estudar o documento: "É
uma matéria que será estudada e será vista com atenção quer ao nível do
Ministério da Saúde, quer ao nível do Ministério das Finanças."
Já o
Ministério da Saúde (MS) apressou-se a garantir que não "há qualquer
buraco nas contas" e considerou que a conclusão da auditoria do TC é
"limitada" e "discutível". Em comentário escrito enviado à
comunicação social, o ministério explica que o Estado tem um contrato de gestão
clínica firmado por apenas dez anos com os quatro hospitais e pode, por isso,
optar pela não continuidade deste modelo, no final deste prazo.
Mesmo que
decidisse prosseguir com este regime, os preços "não estão ainda
negociados", destaca o gabinete do ministro Paulo Macedo, que classifica
como "irrealista e pouco rigoroso estimar a esta distância os encargos
associados" aos contratos em PPP. As PPP na saúde incluem dois tipos de
contrato: o de prestação de serviços, com a duração de dez anos, e o de
construção e de manutenção dos edifícios hospitalares, que se prolonga por 30
anos (ver caixa).
Seguro
também critica
Ao final
da tarde, o secretário-geral do PS, António José Seguro, defendeu também que
não se pode falar "em buraco financeiro" nas contas das PPP dos
hospitais geridos neste modelo, lembrando que a gestão clínica por privados
pode ser revista em 2021.
No
contraditório incluído no relatório do TC, o gabinete do ex-ministro de Estado
e das Finanças considera igualmente que a conclusão do Tribunal de Contas
"enferma de vícios metodológicos", porque o Estado pode chamar a si a
gestão clínica dos hospitais, após os primeiros dez anos. Lembra ainda, tal como
o MS, que três dos hospitais em questão foram construídos para substituir
estabelecimentos antigos (Braga, Vila Franca e Cascais) e que isso deveria ter
sido levado em conta. Apenas admite que a "sobreavaliação" pode
rondar, no limite 24% e não os 149% referidos pelo TC.
Esta não
foi, porém, a primeira vez que o problema da estimativa dos encargos foi
levantado. Um relatório "restrito, privado e confidencial" sobre as
PPP, encomendado em 2012 pelo executivo à empresa de auditoria Ernst &
Young, e divulgado em Junho passado pela revista Visão, apontava para "encargos líquidos" ainda superiores (12.419
milhões de euros), em 30 anos, para a componente de gestão clínica. No Estudo de 36 contratos de parcerias
público-privadas do Estado Português", a Ernst & Young calculava que os encargos das PPP da Saúde não
vão parar de aumentar durante as próximas gerações, custando, em média, 401,6
milhões de euros por ano até 2042.
Numa
auditoria anterior ao programa de PPP na Saúde, em 2009, o Tribunal de Contas
tinha destacado algumas fragilidades deste modelo lançado em 2002. "Nenhum
dos objectivos de contratação inicialmente definidos foi até agora
atingido" e "nenhuma das vantagens que se poderiam obter com o
lançamento em vaga foram alcançadas", concluía então o TC.
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