segunda-feira, 29 de julho de 2013

Engenheiro homicida bate recordes de visitas prisionais

INDIGNAÇÃO NA CADEIA

Engenheiro homicida bate recordes de visitas prisionais

Horário normal prevê 44 dias de visitas, mas só a filha do engenheiro homicida de advogado já o visitou 55 vezes 
Tratamento especial contestado por presos e guardas

PAI DE JUÍZA BATE RECORDES DE VISITAS NA CADEIA DE COIMBRA

Miguel Gonçalves

O homem que foi filmado, com a neta ao colo, a matar a tiro o ex-genro, é o recluso da cadeia de Coimbra com direito a mais visitas. O tratamento dado ao pai da juíza Ana Joaquina está a revoltar guardas e presos.

Foi transferido do Estabelecimento Prisional Regional de Aveiro (EPRA) para o Estabelecimento Prisional de Coimbra (EPC) no dia 20 de fevereiro, para cumprir 20 anos de cadeia pelo homicídio que cometeu no dia 5 de fevereiro de 2011.

Nestes cinco meses, a avaliar pelo horário normal/oficial, teria direito a 44 dias de visitas. Mas não é isso que está a acontecer. Tal como já sucedia, com polémica, no EPRA, António Ferreira da Silva é o preso com direito a mais visitas no EPC. Há reclusos indignados que ameaçam retaliar e há guardas, ouvidos pelo JN, que temem pela segurança.

Ao todo, o pai da juíza Ana Joaquina já recebeu 102 visitas, no EPC, desde o dia 23 de fevereiro. Só a sua filha visitou-o 55 vezes. A mulher, Maria Graciete, foi 32 vezes à cadeia. A neta, filha da juíza e do falecido advogado portuense Cláudio Rio Mendes, viu o avô duas vezes. Doze familiares e amigos visitaram-no 13 vezes.

“Trabalho nesta cadeia há muitos anos e nunca assisti a coisa assim. Não há outro recluso com direito a tantas visitas/mordomias”, denuncia, ao JN, um guarda.

Fez negócio imobiliário

O presidente do Sindicato Nacional do Corpo da Guarda Prisional condena o “tratamento VIP que persiste em ser dado ao pai da juíza”.

“As visitas são aos sábados e domingos. Ponto! O EPC não tem condições para permitir mais visitas. Isso implica retirar guardas a outros serviços, desguarnecendo setores importantes e criando sérios riscos à segurança. E tudo por causa de um recluso ‘especial’. Não pode ser!”, afirma Jorge Alves ao JN.

Já o secretário-geral da Associação de Apoio ao Recluso, Vítor Ilharco, concorda com o aumento do número de visitas aos presos, mas discorda de “dualidade de critérios entre reclusos”.

A esse propósito, Jorge Alves lembra que no dia 24 foi autorizada uma visita extra a Ferreira da Silva, para “tratar de negócio imobiliário”, à qual compareceram a sua filha, uma prima, um cunhado e outra pessoa, e a outro recluso, que pretendia, no mesmo dia, ver a mãe, que o visita só uma vez por mês e que naquele dia se deslocava a Coimbra para uma consulta, foi-lhe indeferido o pedido. “É inadmissível!”, afirma.

O JN tentou, sem êxito, obter explicações da ministra da Justiça, Direção-Geral de Reinserção e Serviços Prisionais e dos dois advogados de Ferreira da Silva.

Jornal Notícias, 29 Julho 2013

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