segunda-feira, 8 de julho de 2013

Pelo menos 22 mulheres foram mortas desde o início do ano


Em 2012, no final do primeiro semestre também contabilizava 20 casos e esse ano acabou por fechar com 40
Amélia e Alzira foram as últimas a entrar na lista do Observatório de Mulheres Assassinadas. Terão sucumbido sábado à fúria dos maridos. Neste ano, pelo menos 22 mulheres foram notícia por terem sido mortas por um homem com quem mantinham ou tinham mantido uma relação íntima. Tal como em 2012, o número deste tipo de homicídios ameaça este ano ser elevado.
No início da tarde de sábado, em Alhos Vedros, na Moita, terá sido atacada Amélia: a mulher, de 49 anos, terá sido esfaqueda pelo marido, de 60 anos. Convencido de que a deixara morta em casa, ele terá ido a um café contar o que acabara de fazer. Ela morreu a caminho do Hospital do Barreiro.
Horas depois, Alzira, nas Caldas da Rainha, terá sido agredida pelo marido: o homem, de 49 anos, ter-lhe-á batido com uma pedra na cabeça e te-la-á asfixiado com um lençol. Morta a mulher, de 42 anos, o agressor terá telefonado para o 122 e aguardado.
Só no primeiro semestre deste ano, o Observatório de Mulheres Assassinadas, um grupo de trabalho da organização feminista UMAR, que passa a imprensa nacional a pente fino em busca de notícias desta natureza, contou 20 casos. Com as duas ocorrências desde fim-de-semana, passa a 22. O número “nada augura de bom”, no entender de Elisabete Brasil, responsável pelo referido grupo. Em 2012, no final do primeiro semestre também contabilizava 20 casos e esse ano acabou por fechar com 40.
“Este é um ano de grande preocupação”, comentou hoje à tarde a jurista, numa curta conversa telefónica. “Os meses de Verão são terríveis.” A experiência mostra-lhe que nos meses de Julho, Agosto e Setembro tende a haver mais crimes de homicídio – tentado ou consumado. São meses de férias, as pessoas têm tendência a passar mais tempo juntas, lembra.
Podem agudizar-se os conflitos dentro dos casais. E as vítimas podem ter maior dificuldade em recorrer a estruturas de apoio. Muitas vezes, o homicídio é antecedido por episódios de violência. Não raras vezes, há registo de denúncias apresentadas às autoridades. E tudo isso, avisa, deve servir de alerta.
O número de mortes tem oscilado muito nos últimos anos. Em 2011, por exemplo, no final de Junho tinham sido noticiadas 11 mortes e o ano terminou com 24. Indo mais atrás: a primeira metade do ano responde por 15 de 43 casos de 2010 e por 12 dos 29 casos de 2009. Daqui se depreende que não há uma evolução contínua, apesar do investimento na prevenção da violência doméstica e na protecção de mulheres e crianças.
Embora não existam estudos sobre os efeitos da crise financeira e económica, “neste contexto torna-se mais difícil que as pessoas saiam das relações complicadas em que estão”, diz João Lázaro, presidente da Associação Portuguesa de Apoio à Vítima. “Mas muitas vezes o medo de destruir o núcleo familiar ou de perder os filhos é superior e as pessoas retraem-se.”
Alzira, a mulher morta nas Caldas da Rainha, estava doente. Estaria a recuperar de um cancro. Passava grande parte dos dias dentro de casa. O marido também lá estava. Estava desempregado. Outrora motorista de pesados, estava agora reduzido a serviços ocasionais de construção civil.
O Relatório Anual de Segurança Interna relativo a 2012 diz que a criminalidade geral baixou 2,3% no ano passado em comparação com 2011, o que equivale a menos 9461 participações feitas às polícias. Um decréscimo significativo registou-se ao nível da criminalidade mais grave e violenta, que baixou 7,8% face a 2011. Apesar disso, em 2012 contabilizaram-se mais 32 homicídios do que no ano anterior, num total de 149. Destes, 37 foram homicídios conjugais, tendo os crimes de violência doméstica registado um decréscimo de 10% em todo o território nacional.
 
Público, 8 de Julho de 2013

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