Legalidade do IRS deve ir ao Tribunal
Constitucional
Paula Cravina de Sousa
31/10/12 00:05
31/10/12 00:05
Imposto acima da capacidade contributiva e pouco progressivo deve ser
analisado pelo Constitucional.
A constitucionalidade do novo regime de IRS deve ser analisada, uma vez que
a proposta do Governo coloca vários problemas ao nível quer da progressividade,
quer da capacidade contributiva das famílias, que tornam o imposto
confiscatório.
Os especialistas que estiveram ontem presentes no III Fórum da Fiscalidade,
organizado pelo Diário Económico e pela Ordem dos Técnicos Oficiais de Contas
dedicado ao Orçamento do Estado para 2013 (OE/13), defendem que o IRS tal como
será aplicado a partir de 2013 é confiscatório. "O Estado não pode exigir
um confisco", afirmou o ex-secretário de Estado dos Assuntos Fiscais,
António Carlos dos Santos, pelo que "a questão tem de ser analisada pelo
Tribunal Constitucional".
O fiscalista explicou que "um confisco é algo que é exigido para além
da capacidade contributiva" e afirmou que o Governo o reconhece no próprio
relatório do OE/13, citando o documento. "Assiste-se a uma distribuição
mais equitativa de rendimentos na economia, uma vez que a estrutura de escalões
e taxas foi desenhado de modo a que o esforço contributivo cresça mais depressa
do que a capacidade contributiva", pode ler-se no OE/13. "Isso é
confisco", concluiu.
Quanto à progressividade, os especialistas referem que esta noção deve ser
reavaliada. Os novos escalões de IRS "dão ideia de que há progressividade
nominalmente e formalmente", como disse Carlos dos Santos. "Mas se se
tiver em conta quanto é que os escalões mais baixos e os mais altos vão pagar,
em termos percentuais, quem está mais abaixo vai pagar mais do que quem está
acima". "Há que ver bem o que se entende por progressividade e só
isso mereceria uma análise do Tribunal Constitucional".
Por outro lado, o ex-secretário de Estado dos Assuntos Fiscais, Rogério
Fernandes Ferreira, afirmou que o sistema de IRS está cada vez mais
descaracterizado, dando como exemplo a sobretaxa de 4%. "Não é progressiva
e é proporcional porque incide da mesma forma sobre o rendimento",
explicou. Além disso, "será feita uma retenção autónoma das retenções na fonte
feitas no IRS, tem uma dedução específica autónoma do IRS e não tem quociente
conjugal", acrescentou. Trata-se, por isso, de "um imposto
completamente diferente do IRS, e levantar-se-á a questão se o IRS ainda é o
único imposto que incide sobre o rendimento e, se sobre o rendimento não pode
haver um imposto proporcional". Neste sentido, Carlos dos Santos afirmou
que "através da sobretaxa cresce o elemento da proporcionalidade em
detrimento da progressividade [no IRS] e isso afecta sobretudo os estratos mais
baixos". A proporcionalidade aumenta também por efeito da taxa máxima de
IRS - de 54,5%. "A última taxa, que é sempre proporcional por definição,
vai aplicar-se mais vezes e a muito mais gente", já que aqui vão caber os
rendimentos a partir de 80 mil euros por ano.
Para o ex-secretário de Estado dos Assuntos Fiscais, Vasco Valdez, "o
aumento brutal da carga fiscal é resultado do insucesso da arrecadação de
receita em 2012", advertindo que "a margem de manobra do Governo e do
bolso dos contribuintes vai diminuindo à medida que se sucedem os
falhanços". Vasco Valdez afirmou ainda que "um país que cumpre, indo
até mais longe do que lhe é pedido, pode aproximar-se de um país que não
cumpre, como a Grécia", alertando para o perigo de uma espiral recessiva.
Orçamento do Estado também terá estímulos às empresas
O secretário de Estado Adjunto da Economia e do Desenvolvimento Regional, António Almeida Henriques, afirmou ontem que "este Orçamento do Estado não viverá só de austeridade, mas também de estímulo empresarial". O responsável preferiu realçar algumas medidas destinadas às empresas como a autorização legislativa que possibilita a criação do chamado IVA de caixa. Isto é, as empresas só entregam aquele imposto ao Estado quando os seus clientes pagarem. "Esta medida irá dar mais liquidez para garantir a sustentabilidade das empresas", afirmou Almeida Henriques. Por outro lado, o responsável sublinhou uma nova linha de crédito no valor de dois mil milhões de euros que será utilizada para financiar as PME no curto-prazo. Além disso, o OE/13 fixa o compromisso para que sejam constituídos fundos de capitalização de 500 milhões de euros. Almeida Henriques realçou ainda "a missão relâmpago" feita na Argélia, em que Portugal celebrou um acordo com o ministro da Habitação argelino para que empresas portuguesas construam 50 mil habitações naquele país. Os contratos celebrados poderão representar investimentos de dois mil milhões de euros, referiu.
O secretário de Estado Adjunto da Economia e do Desenvolvimento Regional, António Almeida Henriques, afirmou ontem que "este Orçamento do Estado não viverá só de austeridade, mas também de estímulo empresarial". O responsável preferiu realçar algumas medidas destinadas às empresas como a autorização legislativa que possibilita a criação do chamado IVA de caixa. Isto é, as empresas só entregam aquele imposto ao Estado quando os seus clientes pagarem. "Esta medida irá dar mais liquidez para garantir a sustentabilidade das empresas", afirmou Almeida Henriques. Por outro lado, o responsável sublinhou uma nova linha de crédito no valor de dois mil milhões de euros que será utilizada para financiar as PME no curto-prazo. Além disso, o OE/13 fixa o compromisso para que sejam constituídos fundos de capitalização de 500 milhões de euros. Almeida Henriques realçou ainda "a missão relâmpago" feita na Argélia, em que Portugal celebrou um acordo com o ministro da Habitação argelino para que empresas portuguesas construam 50 mil habitações naquele país. Os contratos celebrados poderão representar investimentos de dois mil milhões de euros, referiu.
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