Dois polícias angolanos vistos a meter 1,7 kg de
cocaína na bagagem de opositor do governo.
Primeiro estava proibido de sair do país. Minutos
depois já podia voar para Lisboa. E com espera na sala VIP. A mudança de decisão
e a cortesia intrigaram Luaty Beirão, cantor angolano associado à luta
anti-regime de Eduardo dos Santos; mas a resposta, no aeroporto de Luanda,
chegou rápido, com o músico a ser alertado por outros passageiros para os dois
polícias vistos a mexer na sua bicicleta, despachada no porão. Resultado: 1,7
quilos de cocaína num saco agarrado à bicicleta - e denúncia de um órgão
oficial para a Judiciária, via SEF.
A rápida investigação da PJ, na recolha de
testemunhos e com imagens de videovigilância junto aos tapetes rolantes onde
são levantadas as bagagens, salvou Ikonoklasta, o nome artístico do rapper
angolano, conhecido pela oposição que faz ao governo do seu país, de ter
entrado na semana passada em prisão preventiva. As imagens, passadas a pente
fino pela Judiciária, foram essenciais. Percebe - se no vídeo ser genuíno o
desespero do músico, sozinho, a chorar e de mãos na cabeça, mal recolheu a
bicicleta e se apercebeu da armadilha em que caíra.
O cantor fora alertado para o perigo, na
segunda-feira da última semana, por outros passageiros, mas, já em Lisboa, não
teve sangue -frio para largar tudo e ir até à polícia. Segundos depois, era
detido na alfândega - por inspectores da PJ que não o mandaram parar por acaso,
em revista de rotina. A detenção de Ikonoklasta e apreensão do saco com 1,7
quilos de cocaína deveram-se a uma denúncia que partiu de Angola para a Unidade
Nacional de Combate ao Tráfico de Estupefacientes da Judiciária. Chegou ao SEF,
em Luanda, a informação de que o músico ia chegar a Lisboa com droga. E essa
denúncia, também apurou a PJ, partiu de um organismo oficial do Estado daquele
país. Os investigadores associaram a informação às imagens de desespero do
cantor j á na capital portuguesa; a testemunhos recolhidos, nomeadamente sobre
dois polícias vistos a mexer na bagagem do músico; e aos seus antecedentes de
luta anti-regime. Por isso, foi proposto ao Ministério Público e ao juiz que
Luaty Beirão continuasse em liberdade.
Henrique Machado
Correio da Manhã de 19-06-2012
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