por JOÃO
MARCELINO
1. O Governo mudou esta semana.
Seja porque a
troika "aconselhou", seja porque o défice já ultrapassa os 126% do
PIB, seja porque apenas passou (com o ministro Poiares Maduro) a ter
inteligência e pensamento estratégico onde antes só havia voluntarismo e um dia
vivido atrás do outro, o Governo de Pedro Passos Coelho fez o que já devia ter
feito há largos meses: reconhecer que sem o PS, sem entendimento com António
José Seguro, não é possível levar a cabo reformas duradouras e socialmente
aceites pela maioria dos portugueses.
O Governo
alterou radicalmente o discurso.
Até já está
marcado um Conselho de Ministros extraordinário para a próxima terça-feira
apenas dedicado a analisar medidas de crescimento económico.
Começam,
portanto, os problemas para o líder do PS.
2. A derrota do
anterior caminho do Governo, que não queria nem mais tempo nem mais dinheiro, e
que agora, já com mais tempo, está à beira de precisar de mais dinheiro - ou
seja, de um segundo resgate - é, simultaneamente, uma boa e uma má notícia para
o PS. A boa é que tinha razão. A má é que fica sem pretexto para ficar de fora
do que vem a seguir.
O tempo da
arrogância de Gaspar sempre sancionada por Passos Coelho evaporou-se face à
dura realidade de um país cuja dívida não para de crescer. E isso aconteceu
porque o défice não foi domesticado, e esse teria sempre de ser o resultado de
reformas estruturais adiadas e de uma economia destruída pela austeridade.
3. Pronto:
Poiares Maduro anuncia, doze vezes durante uma conferência de imprensa, que
quer "consenso".
O Governo
deixa em aberto, para poder "dialogar", o concreto das medidas
extraordinárias que vão substituir as "chumbadas" pelo Tribunal
Constitucional.
Passos
conversa com Seguro.
A troika foi
ao Rato.
Está montado
o cerco ao PS.
Esta
estratégia simples, que até pode ser convicção, que seguramente será uma
necessidade, que provavelmente foi ditada, ou aplaudida, pela troika, não
poderia nunca ser determinada por uma cabeça viciada no negócio da política.
Está aqui, bem visível, a distância que vai da inteligência política à
esperteza saloia sempre muito aplaudida nas manjedouras da capital.
4. António
José Seguro tem agora um problema. Se o Governo estiver disponível para aceitar
as suas razões, para equacionar algumas das suas medidas - se, sobretudo,
houver nesta alteração de palavras a verdadeira intenção de mudar de políticas
e de trocar a arrogância do "é assim porque eu quero" pelo "que
tal ser assim porque nós precisamos" -, não será tão fácil ao
secretário-geral do PS capitalizar o descontentamento como estava a fazer com
habilidade nos últimos meses, desde que Pedro Passos Coelho lhe deu o
necessário pretexto hostilizando o maior partido da oposição, deixando-o à
margem da decisões, ignorando-o nas consultas.
Repare-se
ainda: tudo isto parece mérito da última remodelação e da ascensão de Poiares
Maduro. Mas provavelmente nada estaria a mudar se Nuno Crato não tivesse
desempenhado o seu papel com notável independência no caso da eventual
licenciatura de Relvas e se Gaspar, o alto representante da troika em Lisboa,
não tivesse entendido que o Tribunal Constitucional estava suspenso pela crise.
O que o País
precisaria é que o Governo tivesse, sinceramente, percebido o erro das suas
políticas e as quisesse emendar. Se não for assim, Seguro há de acabar por sair
deste colete de forças em que está metido.
A crítica de
Passos Coelho à falta de financiamento da banca à economia, levou a reações de
alguns dos líderes dos bancos, cada qual no seu estilo. Ulrich impetuoso.
Ricardo Salgado mais profundo. Realmente, "a austeridade é violenta e está
a chegar a limite". Por outras palavras: que cada um faça o que tem a
fazer e que, já agora, os bons exemplos venham de cima...
Diário de
Notícias, 20-4-2013
Sem comentários:
Enviar um comentário