sábado, 20 de abril de 2013

O cerco ao PS e a Seguro


por JOÃO MARCELINO
1. O Governo mudou esta semana.
Seja porque a troika "aconselhou", seja porque o défice já ultrapassa os 126% do PIB, seja porque apenas passou (com o ministro Poiares Maduro) a ter inteligência e pensamento estratégico onde antes só havia voluntarismo e um dia vivido atrás do outro, o Governo de Pedro Passos Coelho fez o que já devia ter feito há largos meses: reconhecer que sem o PS, sem entendimento com António José Seguro, não é possível levar a cabo reformas duradouras e socialmente aceites pela maioria dos portugueses.
O Governo alterou radicalmente o discurso.
Até já está marcado um Conselho de Ministros extraordinário para a próxima terça-feira apenas dedicado a analisar medidas de crescimento económico.
Começam, portanto, os problemas para o líder do PS.
2. A derrota do anterior caminho do Governo, que não queria nem mais tempo nem mais dinheiro, e que agora, já com mais tempo, está à beira de precisar de mais dinheiro - ou seja, de um segundo resgate - é, simultaneamente, uma boa e uma má notícia para o PS. A boa é que tinha razão. A má é que fica sem pretexto para ficar de fora do que vem a seguir.
O tempo da arrogância de Gaspar sempre sancionada por Passos Coelho evaporou-se face à dura realidade de um país cuja dívida não para de crescer. E isso aconteceu porque o défice não foi domesticado, e esse teria sempre de ser o resultado de reformas estruturais adiadas e de uma economia destruída pela austeridade.
3. Pronto: Poiares Maduro anuncia, doze vezes durante uma conferência de imprensa, que quer "consenso".
O Governo deixa em aberto, para poder "dialogar", o concreto das medidas extraordinárias que vão substituir as "chumbadas" pelo Tribunal Constitucional.
Passos conversa com Seguro.
A troika foi ao Rato.
Está montado o cerco ao PS.
Esta estratégia simples, que até pode ser convicção, que seguramente será uma necessidade, que provavelmente foi ditada, ou aplaudida, pela troika, não poderia nunca ser determinada por uma cabeça viciada no negócio da política. Está aqui, bem visível, a distância que vai da inteligência política à esperteza saloia sempre muito aplaudida nas manjedouras da capital.
4. António José Seguro tem agora um problema. Se o Governo estiver disponível para aceitar as suas razões, para equacionar algumas das suas medidas - se, sobretudo, houver nesta alteração de palavras a verdadeira intenção de mudar de políticas e de trocar a arrogância do "é assim porque eu quero" pelo "que tal ser assim porque nós precisamos" -, não será tão fácil ao secretário-geral do PS capitalizar o descontentamento como estava a fazer com habilidade nos últimos meses, desde que Pedro Passos Coelho lhe deu o necessário pretexto hostilizando o maior partido da oposição, deixando-o à margem da decisões, ignorando-o nas consultas.
Repare-se ainda: tudo isto parece mérito da última remodelação e da ascensão de Poiares Maduro. Mas provavelmente nada estaria a mudar se Nuno Crato não tivesse desempenhado o seu papel com notável independência no caso da eventual licenciatura de Relvas e se Gaspar, o alto representante da troika em Lisboa, não tivesse entendido que o Tribunal Constitucional estava suspenso pela crise.
O que o País precisaria é que o Governo tivesse, sinceramente, percebido o erro das suas políticas e as quisesse emendar. Se não for assim, Seguro há de acabar por sair deste colete de forças em que está metido.
A crítica de Passos Coelho à falta de financiamento da banca à economia, levou a reações de alguns dos líderes dos bancos, cada qual no seu estilo. Ulrich impetuoso. Ricardo Salgado mais profundo. Realmente, "a austeridade é violenta e está a chegar a limite". Por outras palavras: que cada um faça o que tem a fazer e que, já agora, os bons exemplos venham de cima...
Diário de Notícias, 20-4-2013

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