domingo, 7 de julho de 2013

Cavaco decide

PAULO BALDAIA
Diretor da TSF
O futuro do País está nas mãos do Presidente. O que decidir provará que, ao contrário do que virou moda dizer, nunca Cavaco hipotecou os seus poderes. Não cedeu à popularidade fácil de aproveitar as trapalhadas da coligação para correr de imediato com eles, nem lhes deu carta branca para se entenderem.
Cavaco errou ao acreditar que a estabilidade política estava garantida pelos líderes da coligação. Confiou em quem não podia confiar e é imprescindível que não volte a cometer o mesmo erro. Essa tem de ser a sua primeira decisão: quem quer que tome posse, agora ou no futuro, terá de ter um caderno de encargos, visto à lupa por Belém e cumprido ao milímetro.
Decidido isto, o Presidente tem vários caminhos possíveis. Todos acarretam riscos enormes e todos nos podem conduzir a um segundo resgate. Na teoria há uns melhores do que os outros, mas a prática dos actuais políticos é capaz de desfazer qualquer teoria.
Percebo que para a esquerda a única solução possível seja a da convocação imediata de eleições antecipadas. Percebo igualmente que o milhão de desempregados e a as suas famílias pensem que a única solução possível seja a da convocação imediata de eleições antecipadas. Mas, não me abstendo de pensar em causa própria, parece-me claro que, para a qualidade de vida que mantém a larga maioria dos portugueses, a melhor solução é um governo de iniciativa presidencial com previsão de eleições antecipadas no final da intervenção externa.
Cavaco teria a maior vitória política da sua vida se fosse capaz de unir o PSD, o PS e o CDS no apoio a um governo chefiado por (mera escolha pessoal) Rui Rio. Esse governo deveria refundar o memorando, mesmo que isso implicasse uma extensão da intervenção da troika por mais alguns meses. Depois disso, a voz teria de ser dada ao povo para fazer a sua escolha.
O que se afigura como mais fácil de fazer é trocar o antigo Governo de Passos pelo novo superpoder de Portas (foi isto que a maioria levou a Belém), mas aí estará a beneficiar o infractor, sem a mínima garantia de que a estabilidade da coligação (repetidamente prometida) não seja uma mera ilusão.
Cavaco pode ainda decidir, pura e simplesmente, dissolver o Parlamento e convocar legislativas para o mesmo dia das autárquicas, como pede o PS. Não é, não babem os boys perante a aproximação do poder, a melhor das soluções, mas também não é desgraça que os que não querem largar a teta anunciam. Este país, às vezes não parece, é maioritariamente composto por pessoas crescidas, que gostam de assumir as responsabilidades pelas escolhas que fazem. Cavaco decide agora, quando chegar a nossa hora decidimos nós. Chama-se democracia. É o melhor que há.
Diário Notícias | Domingo, 07 Julho 2013

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