Público
- 04/02/2013 - 00:00
Ministério
da Justiça deve 173,7 mil euros a juízes e procuradores. Reforço de verba
aguarda há meses autorização do ministro das Finanças. Transporte de
magistrados custou mais de 584 mil euros em 2012
Há juízes e procuradores que estão há sete meses à espera de
serem reembolsados pelas despesas que tiveram com deslocações de serviço. O
montante em falta atinge mais de 173,7 mil euros. As queixas têm chegado à
Associação Sindical dos Juízes Portugueses, mas apesar da insistência junto da
tutela a dívida ainda não foi liquidada. O Ministério da Justiça reconheceu ao
PÚBLICO que desde Julho de 2012 a Direcção-Geral da Administração da Justiça
(DGAJ) não paga aos magistrados e diz estar a aguardar autorização do ministro
das Finanças, Vítor Gaspar, para reforçar aquela rubrica orçamental.
Contactada pelo PÚBLICO, a assessora de imprensa do Ministério
das Finanças, Paula Cordeiro, remeteu o caso para a Justiça e não deu mais
esclarecimentos sobre o assunto. Já o presidente da Associação Sindical dos
Juízes Portugueses (ASJP), Mouraz Lopes, lamenta o atraso e diz que alguns
magistrados chegam a gastar mensalmente mais de mil euros em deslocações.
"Há quem adiante ao Estado centenas de euros por mês e alguns até mais. É
um valor muito significativo no orçamento dos juízes", sublinha Mouraz
Lopes.
O dirigente precisa que está a acompanhar este problema desde
Outubro, na sequência de queixas feitas por vários colegas. "O Ministério
da Justiça nunca negou o nosso direito a receber a verba, mas repete que não
tem verba para pagar", relata o juiz desembargador. Mouraz Lopes diz que
houve uma promessa da DGAJ que garantiu resolver o problema até ao final de
Janeiro, mas até ao momento os magistrados ainda não foram reembolsados.
A maior parte da dívida diz respeito a deslocações em serviço
feitas por juízes ( quase 147 mil euros). Os procuradores aguardam o reembolso
de 22 mil euros e os magistrados dos tribunais administrativos e fiscais 4391
euros. Os números não são finais, já que o Ministério da Justiça admitia que ainda
estava a processar, no início do ano, alguns boletins de pagamento entregues no
final de 2012.
Mouraz Lopes explica que há juízes que, pelas funções que
exercem, são obrigados a deslocar-se dezenas e até centenas de quilómetros por
semana. É o caso dos juízes colocados nos Tribunais de Execuções de Penas, que
se têm de deslocar aos estabelecimentos prisionais para ouvir os reclusos e
decidir se estes estão ou não em condições de beneficiar da liberdade
condicional. "Os juízes de execução de penas de Coimbra têm que se
deslocar a Castelo Branco, Viseu, Guarda...", exemplifica o presidente da
ASJP. E é "raríssimo" estes magistrados terem um carro de serviço.
Por isso, viajam em viatura própria, de táxi ou de comboio. Também os juízes de
círculo são obrigados a movimentarem-se pelos tribunais da ou das comarcas que
integram a sua área de intervenção, para integrarem os colectivos que julgam os
casos mais graves.
As contas provisórias do Ministério da Justiça relativas ao ano
passado apontam para um gasto de 312 mil euros em deslocações de serviço feitas
pelos magistrados e de 272,7 mil euros gastos em transportes públicos, a maior
parte dos quais em deslocações entre a residência e o local de trabalho.
Os juízes gastam mais dinheiro em deslocações de serviço, quase
187 mil euros, comparado com os procuradores que desembolsaram em viagens de
serviço 101,6 mil euros. Contudo, o Estado gasta mais com os magistrados do
Ministério Público (130 mil euros com os procuradores e perto de 114 mil com os
juízes) no pagamento dos transportes públicos gratuitos a que todos têm
direito. Normalmente as despesas relacionam-se com passes de metro, autocarro
ou comboio.
O Ministério da Justiça reconhece que a maior parte deste último
montante corresponde a deslocações entre a residência e o local de trabalho,
não conseguindo distinguir as viagens feitas em serviço das primeiras.
Alguns destes direitos têm sido discutidos, tendo-se ponderado
retirar no Orçamento de Estado deste ano o direito dos magistrados ao
transporte público gratuito. Recorde-se que, por princípio, os magistrados são
obrigados a residir na comarca onde exercem funções. Mas excepcionalmente podem
ser autorizados a viver fora da sua área de intervenção. Apesar de isso se
traduzir, na maioria das vezes, num benefício para os juízes e procuradores,
que assim evitam despesas com uma outra habitação, tal permite aos visados
beneficiar de transporte público gratuito entre a residência e o local de
trabalho. Nos últimos anos, o Conselho Superior do Ministério Público tem discutido
este direito e já deu autorizações de residência para fora da sede do tribunal,
retirando aos visados o direito ao transporte gratuito.
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