Taxa extra a pensionistas passa de 2500 pessoas para mais de 272 mil
Orçamento. Receita da contribuição extraordinária
de solidariedade vai subir de 7,5 para 421 milhões de euros em 2013. Esta
tributação sobre reformados suscita dúvidas a constitucionalistas
A contribuição
extraordinária de solidariedade existe desde 2011, mas nunca foi tão longe como
o que se perspetiva para 2013: além de passar a abranger as pensões acima de
1350 euros, alarga o seu alcance aos fundos de pensões privados e
complementares. Este alargamento dos critérios fará que o número de
pensionistas visados por esta taxa suba de um universo atual de 2500 para perto
de 272 200 (8% do total dos reformados). A receita que será arrecadada pelo
Estado terá também um forte impulso: este ano, previa-se que esta taxa rendesse
cerca de 7,5 milhões de euros, enquanto para 2013 são estimados 421 milhões de
euros.
ATUAL PÁGS. 2 E 3
Pensionistas que pagam
taxa extra passam de 2500 para 272 200
Cortes. Polémica em
torno do alargamento da taxa de solidariedade às pensões de valor mais baixo e
aos fundos privados está a aumentar. Especialistas lembram que os fundos
privados não pesam na despesa
LUCÍLIA TIAGO e LÍLIA
BERNARDES
Cavaco Silva tem até
hoje para decidir se vai solicitar ao Tribunal Constitucional (TC) a
fiscalização preventiva do Orçamento do Estado. E terá de tomar esta decisão
numa altura em que sobe de tom a polémica sobre o corte das pensões. A
contribuição extraordinária de solidariedade (CES) existe desde 2011, mas nunca
foi tão longe como o que se perspetiva para 2013: além de passar a abranger as
pensões acima de 1350 euros, alarga o seu alcance aos fundos de pensões
privados e complementares. Este alargamento dos critérios fará com que o número
de pensionistas visados por esta taxa suba de um universo atual de 2500 para
perto de 272 200 (8% do total dos reformados). A receita que será arrecada pelo
Estado terá também um forte impulso: em 2012, previa-se que esta taxa rendesse
cerca de 7,5 milhões de euros, enquanto para 2013 se estimam 421 milhões de
euros.
Para esta acentuado
aumento contribui o facto de as reformas a partir de 1350 euros serem sujeitas
à CES (antes estavam em causa apenas os valores que excedessem os 5030 euros),
sendo esta mudança justificada pelo Governo pela necessidade de chamar os
pensionistas a contribuir para o esforço de austeridade de forma semelhante ao
que tem sido pedido aos trabalhadores. Além disto, para a soma dos rendimentos
sujeitos a esta CES passam a contar as pensões pagas através de fundos privados
(como as dos bancários e da caixa dos advogados), bem como as dos de natureza
complementar e que muitas empresas fazem para os seus trabalhadores.
Em declarações ao
DN/Dinheiro Vivo, vários fiscalistas e especialistas em sistemas de pensões
salientam que ao trazer o chamado segundo pilar de proteção social (que é de
natureza complementar e da iniciativa empresarial) para a CES, o Governo não
está a cortar despesa, mas a arrecadar receita. Porque, referem, mais ou menos
generosas em relação à taxa de formação, estas pensões não são despesa pública.
Todas estas questões e
as recentes afirmações de Pedro Passos Coelho de que a “tributação das pensões
elevadas não viola a Constituição” aumentaram a pressão sobre a lei orçamental,
e a atenção sobre as decisões de Belém. Até porque os olhos da opinião pública
estão agora virados para o TC, encarado como o último travão para as medidas do
Governo. Além do corte das pensões, está também em causa a redução dos escalões
de IRS.
A decisão do
Presidente, Cavaco Silva irá basear-se nos vários “pareceres jurídicos
aprofundados” que mandou fazer e na sua avaliação do “superior interesse
nacional”, afirmou no início desta semana, quando confrontado com as afirmações
de Pedro Passos Coelho, nomeadamente a de que alguns pensionistas descontaram
para ter reformas, mas não as que recebem. Resta saber quem são exatamente os
visados.
Ao DN/Dinheiro Vivo, os
mesmos especialistas sublinham a existência de fundos de pensões com regras
generosas em que a taxa de formação está feita de forma a que não seja
necessária uma carreira contributiva completa para se ter acesso a uma reforma
por inteiro. Já em relação às pessoas que se reformaram com a pensão calculada
com base nas últimas remunerações, sublinham que eram essas as regras em vigor
e permitidas pelo Estado.
PENSÕES
Portugal com risco
moderado
> Portugal integra o
grupo de sete países da UE que enfrenta um cenário de aumento “moderado” dos
gastos relacionados com o envelhecimento da população, concretamente com o
sistema de pensões. Esta análise da Comissão Europeia, que ontem divulgou o seu
Relatório Anual de Sustentabilidade Financeira, resulta do facto de Portugal
ter já feito mudanças no sistema de pensões, como o fator de sustentabilidade.
Quem é contra a
proposta
Os apoiantes da
proposta de Orçamento do Estado são muito poucos, contrariamente aos seus
críticos, tantos que podem ser divididos por grupos. Estes têm defendido o
recurso ao Tribunal Constitucional, a maioria antes de promulgado.
Partidos
> Todos os partidos
da oposição parlamentar – PS, PCP, BE e Os Verdes – votaram contra a proposta
de Orçamento do Estado para 2013. Os socialistas designaram-no como “uma bomba
atómica fiscal”, tendo o PS- Açores anunciado que ia requerer a fiscalização
sucessiva do texto por entender que, para além da injustiça fiscal, “põe em
causa questões basilares” do regime autonómico. A coordenadora do BE, Catarina
Martins, instou o Presidente a ser “o garante da Constituição” e enviar o
diploma para fiscalização preventiva.
Também o PCP se
insurgiu contra um texto orçamental que qualificou como “o pior de que há memória”
e Os Verdes como “maquiavélico”.
Organizações
> Múltiplas
estruturas sindicais e associativas apelaram ao Presidente da República que
suscitasse a fiscalização preventiva da proposta de Orçamento do Estado para
2013. A CGTP tem feito apelos sucessivos a Cavaco Silva para não aprovar o
diploma; o Sindicato dos Quadros Técnicos do Estado pediu a apreciação prévia
da sua constitucionalidade; a Federação de Sindicatos da Administração Pública
pediu ao PSD.
Os prazos do Presidente
O envio para o Palácio de
Belém da proposta de Orçamento do Estado, aprovada pelo Parlamento, deu início
à contagem de prazos que, consoante o critério do Presidente da República,
podem terminar já hoje.
19.12.12
Fiscalização preventiva
O Presidente da
República recebeu a proposta de Orçamento do Estado para 2013 no dia 11 deste
mês, depois de aprovada pela Assembleia da República. Termina assim hoje o
prazo legal de oito dias para Cavaco Silva suscitar a fiscalização preventiva
do diploma.
31.12.12
Veto ou promulgação
Optando por não enviar
a proposta de Orçamento ao Tribunal Constitucional, inicia-se um novo prazo de
12 dias para o Chefe do Estado decidir se a promulga entrandoem vigor no
primeiro dia de 2013 -ou se a veta, devolvendo o diploma à Assembleia da República.
13.01.13
Tribunal Constitucional
Na eventualidade de o
Presidente da República suscitar a fiscalização preventiva da proposta de
Orçamento do Estado para 2013, no último dia do prazo, os juizes do Tribunal
Constitucional deverão pronunciar-se num intervalo de tempo que, em regra, é de
25 dias (até 13 de janeiro).
02.02.13
Veto político
No caso de o Tribunal
Constitucional apreciar preventivamente a proposta orçamental e considerar que
ela respeita os princípios do texto fundamental, o Presidente da República
volta a ter um prazo de 20 dias para decidir se a veta politicamente e devolve
ao Parlamento.
CDS e PS que o
fizessem, enquanto a Frente Comum dos Sindicatos da Administração Pública e as
associações de militares pediram ao Presidente; o Sindicato dos Magistrados do
Ministério Público anunciou a entrega de uma queixa formal em Bruxelas.
Personalidades
> O deputado do
CDS-PP Rui Barreto, eleito pela Madeira, foi o único dos parlamentares da
maioria críticos da proposta governamental a votar em conformidade. Além dos
vários representantes do PS que anunciaram ir requerer a fiscalização sucessiva
do texto caso o Chefe do Estado não o enviasse para o Palácio Ratton, também os
ex-ministros Vera Jardim e António Costa (socialistas) e Nuno Morais Sarmento
(PSD) o criticaram duramente e defenderam a sua apreciação constitucional,
apesar de divergirem sobre o momento de Cavaco o fazer. Mário Soares, Manuela
Ferreira Leite e Bagão Félix são outras figuras que têm arrasado a proposta.
Diário Notícias, 19 Dezembro 2012
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