11/12/2012 - 00:00
Jurista
avisou que, se mais ninguém avançar, ele próprio apresentará uma queixa no MP
para que se investigue, fora da RTP, o caso das imagens. Nuno Santos fala hoje
sobre a suspensão e o processo disciplinar
O
advogado António Garcia Pereira ofereceu-se e a Comissão de Trabalhadores
aceitou. O órgão representativo dos trabalhadores do grupo de TV e rádio
públicas vai apresentar uma queixa ao Ministério Público (MP) para que o caso
do acesso, pela PSP, às imagens dos confrontos do dia da greve geral seja
"investigado fora da RTP". "Não aceitamos este linchamento do
ex-director de Informação e queremos que o caso seja investigado a fundo por
uma entidade fora da RTP e independente", afirmou ao PÚBLICO Camilo
Azevedo, um dos representantes da Comissão de Trabalhadores (CT).
A CT
organizou ontem à tarde na RTP o debate Caso
Brutosgate: Perspectivas Jurídicas e Deontológicas para analisar a
polémica das imagens em bruto captadas pelos repórteres da RTP e que a PSP
visualizou, sem mandado judicial, a 15 de Novembro, nas instalações da TV
pública. O debate foi acompanhado por cerca de três dezenas de trabalhadores,
boa parte deles jornalistas e câmaras, e até pelo administrador Beato Teixeira.
"Estou
disponível para, com a CT, qualquer pessoa daqui ou o Sindicato dos
Jornalistas, patrocinar uma ou várias queixas que visem colocar o MP a
investigar as várias e sucessivas violações da lei", disponibilizou-se
Garcia Pereira. E "se mais ninguém o fizer, tenciono eu próprio apresentar
queixa", garantiu, acusando o MP de "dormir tranquilamente" por,
quase um mês depois, ainda não ter reagido. Em causa estão crimes públicos,
como é a entrada do serviço secreto de informações da PSP na RTP da maneira que
o fez. Só podia entrar com mandado judicial, acompanhada por um juiz e um
representante do Sindicato dos Jornalistas. Além disso, há violação do dever e
do direito do sigilo profissional. Tudo isto "abre um sério precedente"
e "configura não apenas uma ilegalidade mas mesmo um crime".
Como
não foi pedida autorização à Comissão Nacional de Protecção de Dados para
filmar a manifestação, a PSP precisava de arranjar provas
"certificadas" e que fossem aceites em tribunal - daí o pedido de
gravação com o logotipo da RTP. Guilherme da Fonseca, juiz jubilado do Tribunal
Constitucional, considera que "essa gravação não vale nada. E pior do que
isso: é ilegítima, é ilegal e é passível de procedimento criminal".
Garcia
Pereira não se coibiu de deixar fortes críticas à actuação da equipa de Alberto
da Ponte. E classificou mesmo Luís Marinho como "emissário político de
Relvas na RTP". Realçando ter tido desavenças com Nuno Santos sobre a
cobertura da campanha eleitoral, Garcia Pereira tomou, no entanto, o seu
partido. "Quando uma administração decide desnomear toda a gente que tem
determinados cargos para limpar e depois fazer regressar quem interessa...
cheira a esturro." O jurista argumentou que se foram usados os mesmos
argumentos para toda a direcção de Informação, estes deveriam ser extensíveis
ao director-geral de Conteúdos, mas afinal não afectaram Luís Marinho.
A
avaliar pela descrição de jornalistas e repórteres de imagem, o sistema de
arquivo temporário onde as imagens captadas pelas câmaras da RTP são guardadas
é muito vulnerável. Quando uma equipa chega da rua, "despeja" as
imagens para um banco central de imagens e estas ficam disponíveis para
jornalistas e técnicos. Tendo em conta que a RTP funciona como host broadcaster para a Eurovisão, pode
até acontecer que imagens dos confrontos que não passaram na TV pública tenham
sido vistas noutros países. O processo de acesso às imagens tem um registo
muito informal. Não há sequer condicionalismos de acesso. O que levou alguns
profissionais a aventar a possibilidade de passar a existir um controlo
informático. "Isto vai exigir que estejamos infinitamente mais atentos e
exigir dos nossos responsáveis directos que tenham atitude e protecção dos seus
jornalistas que neste caso não aconteceu", afirmava uma jornalista.
Recordando
que o acesso da polícia a imagens da RTP já ocorreu no passado, a jornalista
Diana Andringa contou que foi envolvida num caso desses, quando nos anos 1980 a
PJ acedeu a imagens de reportagens suas sobre a polémica da Dona Branca. Otília
Leitão, vice-presidente do Conselho Deontológico do Sindicato dos Jornalistas -
órgão que também está a analisar o caso -, realçou que a protecção do Estatuto
do Jornalista alargou a protecção das fontes a documentos como cassetes e
blocos de notas e que "falta regulamentar" a excepção ao sigilo
profissional consignada no Código de Processo Penal em situações de segurança
do Estado e crimes graves. "O jornalismo não é só a lei, mas um conjunto
de práticas de cultura profissional", avisou.
Depois
de ter prometido falar na sexta-feira passada, o ex-director de Informação Nuno
Santos dá hoje ao fim da manhã uma conferência de imprensa para falar sobre a
sua suspensão e processo disciplinar.
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