O presidente da maior organização mundial da franco-maçonaria liberal considerou disparatada a proposta de os políticos serem obrigados a declarar se são maçons e a hipótese de os juizes nem sequer o poderem ser. António Reis mostrou-se ainda desagradado por José Moreno, grão-mestre da GLLP, ter dito que o GOL se mete em questões partidárias. Já o professor José Eduardo Franco acredita que “o poder da maçonaria é mais mítico do que real”
“Um disparate.” Foi desta forma que António Reis, ex-grão-mestre do Grande Oriente Lusitano (GOL), classificou a proposta de obrigar os políticos a declararem se são maçons e de proibir os juizes de pertencerem à maçonaria. O presidente da maior organização da franco-maçonaria liberal (CUPSAS) falava ontem no debate sobre “A Maçonaria em Portugal”, que fechou a Grande investigação que o DN realizou sobre o tema.
António Reis exigiu “direito à privacidade”, reagindo às propostas do deputado Carlos Abreu Amorim e do juiz António Martins reveladas no trabalho. No sábado, o vice-presidente da bancada do PSD defendeu no DN que os deputados devem ser obrigados a colocar no registo de interesses que pertencem à maçonaria. Mais longe foi o presidente da Associação Sindical dos Juizes Portugueses, que, no domingo, considerou “incompatível” que um juiz seja maçom (ver página 8).
O debate – moderado pelo director do Dinheiro Vivo, André Macedo – realizou-se no Auditório do DN, em Lisboa. Contou com diversos maçons e interessados na assistência e teve ainda como orador o historiador e ensaísta Eduardo Franco, que estudou instituições maçónicas no âmbito da obra Dicionário Histórico das Ordens e Instituições Afins em Portugal
A influência da maçonaria foi um dos assuntos consensuais entre os oradores. Eduardo Franco defendeu que o poder da organização é “mais mítico do que real”. Uma ideia corroborada por António Reis, que garantiu que, em matéria de influência, “a maçonaria tem mais fama do que proveito”. Sobre a relação entre política e maçonaria, o ex-grão-mestre do GOL aproveitou para se mostrar desagradado com as declarações do grão-mestre da Grande Loja Legal de Portugal (GLLP), José Moreno, que disse ontem em entrevista ao DN que uma das grandes diferenças entre a sua obediência e o GOL é que a GLLP não se mete em “questões partidárias”. Reis garante que “ambas as obediências são completamente independentes”, acrescentando que “o facto de existirem diversos socialistas no GOL, não significa que o PS controle a obediência”.
Segredos revelados
À excepção dos números avançados pelo DN no domingo, não existiam informações públicas sobre o valor das quotas do GOL. No entanto, ontem o ex-grão-mestre revelou aquele que é um dos muitos segredos da “ordem iniciática”. De acordo com António Reis, cada maçom contribui com cerca de 25 euros mensais para a obediência, o que multiplicado pelos mais de dois mil membros do GOL significa que as quotizações rendem 600 mil euros anuais.
Outro dos “segredos” revelados por António Reis refere-se a parte do inquérito de admissão feito aos “candidatos”, quando tentam entrar na maçonaria. “O que pensa do aborto ou da eutanásia são, normalmente, algumas das questões que constam do inquérito. E não há uma resposta politicamente correcta, a decisão tem por base uma boa argumentação”, desvenda o ex-deputado e fundador do PS. Lembrou ainda um requisito que o DN havia avançado na investigação: “Para alguém ser maçom tem de ter o cadastro limpo.” Admite, no entanto, que já existiram casos em que “a selecção falhou”, daí que defenda “critérios rigorosos de admissão na maçonaria”.
O ataque do PCP
Ao longo do debate, o professor José Eduardo Franco defendeu a ideia de que há propensão da sociedade para desenvolver “teorias da conspiração” relativamente à maçonaria. O mesmo foi partilhado por António Reis, que lembrou que algumas das desconfianças partem de teorias como Os Protocolos dos Sábios do Sião (mistificação anti-semita dos finais do século XIX), não deixando de dirigir farpas ao PCP. “Parece que até o próprio PCP dá credibilidade aos Protocolos de Sião, pois saiu um artigo no Avante! que dá cobertura às conspirações”, acusa. O maçom referia-se a um artigo publicado no início de Novembro no jornal oficial do PCP, assinado por Jorge Messias, intitulado de “A máquina da morte e da utopia”.
A relação com a Igreja
Quando o debate evoluiu para as relações entre maçonaria e Igreja Católica, o investigador Eduardo Franco admitiu que a aproximação entre ambas as entidades é dificultada pela “complexa estrutura da Igreja” e pelo facto de a Igreja defender que “o cristianismo é uma religião superior às outras”, o que não se coaduna com os princípios maçónicos da igualdade.
Já António Reis lembrou que no passado existiram maçons no clero. Aproveitou ainda para explicar o conflito gerado entre maçonaria e Igreja a propósito dos ritos maçónicos, aquando do funeral do ex-presidente do Tribunal Constitucional Luís Nunes de Almeida, que motivou críticas do cardeal-patriarca de Lisboa à maçonaria.
Reis lembrou que era vontade de Nunes de Almeida “que a sua cerimónia fúnebre decorresse no Palácio Maçónico, mas uma vez que era um funeral de Estado, o presidente da República quis que se realizasse na Basílica da Estrela”. Nesse sentido, “foi encontrada uma solução de consenso, em que se realizava uma cerimónia maçónica na basílica, antes do funeral de Estado”. O ex-dirigente do GOL garante que a Igreja autorizou o ritual, não compreendendo a reacção de D. José Policarpo.
António Reis exigiu “direito à privacidade”, reagindo às propostas do deputado Carlos Abreu Amorim e do juiz António Martins reveladas no trabalho. No sábado, o vice-presidente da bancada do PSD defendeu no DN que os deputados devem ser obrigados a colocar no registo de interesses que pertencem à maçonaria. Mais longe foi o presidente da Associação Sindical dos Juizes Portugueses, que, no domingo, considerou “incompatível” que um juiz seja maçom (ver página 8).
O debate – moderado pelo director do Dinheiro Vivo, André Macedo – realizou-se no Auditório do DN, em Lisboa. Contou com diversos maçons e interessados na assistência e teve ainda como orador o historiador e ensaísta Eduardo Franco, que estudou instituições maçónicas no âmbito da obra Dicionário Histórico das Ordens e Instituições Afins em Portugal
A influência da maçonaria foi um dos assuntos consensuais entre os oradores. Eduardo Franco defendeu que o poder da organização é “mais mítico do que real”. Uma ideia corroborada por António Reis, que garantiu que, em matéria de influência, “a maçonaria tem mais fama do que proveito”. Sobre a relação entre política e maçonaria, o ex-grão-mestre do GOL aproveitou para se mostrar desagradado com as declarações do grão-mestre da Grande Loja Legal de Portugal (GLLP), José Moreno, que disse ontem em entrevista ao DN que uma das grandes diferenças entre a sua obediência e o GOL é que a GLLP não se mete em “questões partidárias”. Reis garante que “ambas as obediências são completamente independentes”, acrescentando que “o facto de existirem diversos socialistas no GOL, não significa que o PS controle a obediência”.
Segredos revelados
À excepção dos números avançados pelo DN no domingo, não existiam informações públicas sobre o valor das quotas do GOL. No entanto, ontem o ex-grão-mestre revelou aquele que é um dos muitos segredos da “ordem iniciática”. De acordo com António Reis, cada maçom contribui com cerca de 25 euros mensais para a obediência, o que multiplicado pelos mais de dois mil membros do GOL significa que as quotizações rendem 600 mil euros anuais.
Outro dos “segredos” revelados por António Reis refere-se a parte do inquérito de admissão feito aos “candidatos”, quando tentam entrar na maçonaria. “O que pensa do aborto ou da eutanásia são, normalmente, algumas das questões que constam do inquérito. E não há uma resposta politicamente correcta, a decisão tem por base uma boa argumentação”, desvenda o ex-deputado e fundador do PS. Lembrou ainda um requisito que o DN havia avançado na investigação: “Para alguém ser maçom tem de ter o cadastro limpo.” Admite, no entanto, que já existiram casos em que “a selecção falhou”, daí que defenda “critérios rigorosos de admissão na maçonaria”.
O ataque do PCP
Ao longo do debate, o professor José Eduardo Franco defendeu a ideia de que há propensão da sociedade para desenvolver “teorias da conspiração” relativamente à maçonaria. O mesmo foi partilhado por António Reis, que lembrou que algumas das desconfianças partem de teorias como Os Protocolos dos Sábios do Sião (mistificação anti-semita dos finais do século XIX), não deixando de dirigir farpas ao PCP. “Parece que até o próprio PCP dá credibilidade aos Protocolos de Sião, pois saiu um artigo no Avante! que dá cobertura às conspirações”, acusa. O maçom referia-se a um artigo publicado no início de Novembro no jornal oficial do PCP, assinado por Jorge Messias, intitulado de “A máquina da morte e da utopia”.
A relação com a Igreja
Quando o debate evoluiu para as relações entre maçonaria e Igreja Católica, o investigador Eduardo Franco admitiu que a aproximação entre ambas as entidades é dificultada pela “complexa estrutura da Igreja” e pelo facto de a Igreja defender que “o cristianismo é uma religião superior às outras”, o que não se coaduna com os princípios maçónicos da igualdade.
Já António Reis lembrou que no passado existiram maçons no clero. Aproveitou ainda para explicar o conflito gerado entre maçonaria e Igreja a propósito dos ritos maçónicos, aquando do funeral do ex-presidente do Tribunal Constitucional Luís Nunes de Almeida, que motivou críticas do cardeal-patriarca de Lisboa à maçonaria.
Reis lembrou que era vontade de Nunes de Almeida “que a sua cerimónia fúnebre decorresse no Palácio Maçónico, mas uma vez que era um funeral de Estado, o presidente da República quis que se realizasse na Basílica da Estrela”. Nesse sentido, “foi encontrada uma solução de consenso, em que se realizava uma cerimónia maçónica na basílica, antes do funeral de Estado”. O ex-dirigente do GOL garante que a Igreja autorizou o ritual, não compreendendo a reacção de D. José Policarpo.
Rui Pedro Antunes
Diário de Notícias 2011-11-15
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