domingo, 30 de outubro de 2011

Presidente STJ defende extinção do Tribunal Constitucional

O presidente do Supremo Tribunal de Justiça, Noronha Nascimento, defendeu hoje a extinção do Tribunal Constitucional e a criação de uma Secção Constitucional dentro do tribunal que lidera. Decisão exige “coragem política”.
“Esse Supremo Tribunal teria, obviamente, uma secção Constitucional com forma diferente de recrutamento dos seus juízes, para obviar a casos similares aos que já várias vezes tivemos”, disse Noronha, citado pela Rádio Renascença. E continuou: “Qualquer questão de constitucionalidade seria previamente decidida na Secção Constitucional, antes do julgamento final da secção do Supremo ou da Relação competentes".
O presidente do Supremo realçou que “é preciso coragem política” para esta decisão e deixou ainda um recado aos políticos. “Se há décadas, o Direito, os tribunais e o juiz tinham como missão nuclear a defesa dos direitos de cidadania e personalidade, assistimos agora a uma distorção da sua matriz genética, pretendendo-se que o judiciário, os tribunais, decidam cada vez mais depressa, porque só assim a economia funcionará”, afirmou.
 Noronha Nascimento admitiu que alguns “institutos do direito são fundamentais em termos de regulação da economia”, mas alertou para o “pequeno papel” da justiça na resolução das crises, levantando reservas sobre o possível julgamento de decisores políticos por decisões económicas erradas.
 Os “políticos funcionam quase como mandatários da sociedade, porque são escolhidos”, sendo abrangidos por um princípio comum a todos os estados democráticos surgidos depois do século XVIII segundo o qual os titulares de cargos políticos não podem responder judicialmente, sublinhou. Noronha Nascimento admitiu, no entanto, que a questão se coloque em “situações muito específicas”.

Já o presidente da Associação Sindical dos Juízes Portugueses (ASJP), António Martins, desafiou os magistrados a “encarar seriamente a defesa dos direitos dos cidadãos e da cidadania, ainda que correndo o risco de ser acusados de ‘activismo judiciário’”. Questionando algumas das recentes decisões do Governo que põem em causa direitos em matéria laboral, o presidente da ASJP sustentou que a ‘ditadura da redução do défice’ tem vindo “a permitir o impensável - dos impostos retroactivos até ao confisco dos rendimentos de apenas algumas categorias de cidadãos”.  Num contexto de crise e em que o Estado dá “mau exemplo”, os magistrados devem ter em conta que “ser juiz não é apenas aplicar uma norma, implica apurar a sua conformidade” com “valores universais e constitucionais”, advertiu o juiz desembargador António Martins.
 Numa mensagem dirigida aos participantes deste encontro, o Presidente da República sublinhou que o momento actual do país interpela a jurisprudência a “adaptar a novos parâmetros e critérios de aplicação do direito a uma realidade em mudança”. Cavaco Silva referiu também que os “constrangimentos” colocados à justiça portuguesa a tornam num dos sectores nacionais em que “faz sentido, de modo mais intenso, a necessidade de uma reforma profunda”.

Lusa/Publico | 29-10-2011

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