terça-feira, 25 de julho de 2023

<>Mas não sabiam mesmo nada do Espírito Santo?

Francisco Louçã 

25 de Julho de 2014, 13:50

Por

BES 1

Um dos traços mais espantosos do dia de ontem foi o silêncio daquela avalanche de comentadores que, mesmo ao longo dos últimos dias, tinha vindo a manifestar confiança na estabilidade do Grupo, na capacidade de entendimento da Família e até na superior argúcia de Ricardo Salgado. Agora que as holdings do GES faliram e em plenas aventuras judiciais do ex-presidente do BES, a culpa foi evidentemente dos outros: os testes de stress do BCE não funcionaram, a troika não cuidou de estudar os bancos como devia, o Banco de Portugal faz o que podia coitado, mas admitir que há poderes financeiros que produzem lixo tóxico porque é assim que absorvem riqueza, isso nem se pode sequer imaginar.

Ao longo dos últimos quinze anos, pelo menos, tenho vindo a alertar para cada um dos sintomas desta epidemia. Todos estavam à vista desarmada. O relatório do Senado norte-americano sobre o BES Cayman e o BES Miami e a fortuna de Pinochet, não se sabia? Os trânsitos de dinheiros da Portucale ou dos submarinos, não estavam registados? O gigantesco dossier Escom, ninguém o conhecia? O dinheiro do Mensalão, onde é que aterrou? As comissões angolanas, não tinham dado aquele problemita no IRS? O dossier de Queiroz Pereira, não estava em cima da secretária? O testemunho do contabilista do polvo do Luxemburgo e de Miami, não foi lido por ninguém?

Foi porque sabia que disso falei ao longo dos anos. Avisando e procurando evitar vergonhas como a amnistia fiscal. A insistência não era justificada? Tanto que era que Ricardo Salgado mandou publicar em 2009 um comunicado em que, a propósito dos 4 milhões de euros de Pinochet nas contas do BES, me acusava de “estranha e patológica obsessão”. Repetiu essa acusação numa entrevista (veja o vídeo aqui). Esta frase de Salgado é uma das saborosas medalhas que me ficam para a vida.

Por isso, em afável homenagem aos comentadores que garantiam religiosamente a solidez do Espírito Santo, aqui deixo duas páginas de um livro simples, para jovens, que publiquei com Mariana Mortágua no início de 2013 (“Isto é um Assalto”, ilustração de Nuno Saraiva, edição da Bertrand, basta clicar na imagem para ver com maior resolução), que registava como andavam as coisas da Família

Fica então a pergunta: se qualquer pessoa podia perceber os riscos da Família, porque é que a justiça, o Banco de Portugal e os poderes nacionais ignoraram a evidência? Veja-se como procedeu Queiroz Pereira: quando entrou em guerra com Salgado, montou uma equipa de 16 pessoas, trabalharam um ano e juntaram provas sobre a marosca. Bastava rigor e vontade. Portugal não se protegeu da maior fraude financeira da sua história porque faltou rigor e vontade aos seus mandantes. E não é difícil perceber porquê, como expliquei aqui ainda ontem.

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