Enquanto as bombas explodem em Gaza e os mísseis caseiros atravessam a fronteira, olhamos para as pessoas afadigadas a salvarem o que puderem. Crianças mortas na praia. Edifícios em escombros. Imagens de jogos de vídeo, dizem que são túneis a explodir. E não conhecemos as vítimas.
David Grossman, cujo filho, um soldado, morreu numa destas operações de invasão (então era no Líbano), escreveu um livro poderosíssimo, “Até ao Fim da Terra” (ed. D. Quixote, 2012). Conta-nos a angústia de uma mãe, Ora, quando fica a saber que o seu filho, Ofer, se realistou nas forças armadas de Israel a poucos dias de terminar a sua comissão, em vez de voltar para casa. Ela vai caminhar ao desvario e atravessa a pé a Galileia, com um amigo e antigo amante, Avram, que arranca à melancolia da sua vida.
Os dois arrastam-se pelas memórias e pela imensidão sem horizonte, à espera do que pode acontecer e adivinham que vai acontecer, como se o destino viesse da fundura da terra e os tivesse que atingir como um raio, a eles, logo a eles. Grossman e Ora, a sua personagem, esses conhecem a guerra que nunca tem tréguas, porque só o sofrimento sabe quem são as vítimas.
No meio da mortandade sem fim, só nestas páginas de angústia telúrica se pode reconhecer a vontade de tréguas. Eles são os que querem a paz, porque sabem os nomes dos caídos da guerra.
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