A cada hora que passa, uma pessoa vai
para a cadeia. E a cada dia, o número de crimes com sentença aplicada sobe para
os 30. O sistema prisional está lotado como há muito não estava. Os dados do
Ministério da Justiça mostram que, em 2012, o número de condenados a cumprir
penas nas cadeias portuguesas ultrapassou os 13 mil.
E a 15 de Janeiro deste ano, o cenário
manteve-se inalterável: ao todo, entre detidos a tempo inteiro, condenados a
passar fins-de-semana ou alguns dias da semana e ainda presos preventivos, os
estabelecimentos prisionais portugueses albergam 13 671 reclusos. Em 2010 eram
apenas 11 613 e, no ano passado, 12 681. O número actual de reclusos é o mais
alto desde 2004.
Do total, 10 434 foram condenados a pena
de prisão efectiva e a tempo inteiro e 485 só vão passar uns dias à cadeia. A
estes números, juntam-se 2603 reclusos em prisão preventiva: 1917 aguardam
julgamento e 686 já só esperam o trânsito em julgado da sentença. Há ainda 149
detidos dados como inimputáveis. A capacidade do sistema prisional fica ainda
mais apertada se for tida em conta a lotação das cadeias de segurança elevada.
Ao contabilizar também os condenados por dias livres, a taxa de ocupação atinge
106,8%. No caso das cadeias de segurança média, há muito que essa fasquia foi
ultrapassada e a lotação já está nos 133,9%. A segurança, por seu turno, é
assegurada por 4444 guardas prisionais, o que significa que há um guarda para
cada três reclusos.
GUERRA DE SEXOS
Os homens ganham aos pontos às mulheres:
eles representam 94,5% da população prisional. Elas são 5,5% do universo total:
ou seja, 738. As reclusas não só cometem menos crimes, como são também são
condenadas por motivos diferentes. Num ranking comparativo entre os delitos
mais cometidos pelo sexo feminino e masculino, o tráfico de estupefacientes
lidera a tabela para ambos. Mas se o roubo é o segundo crime mais comum entre
os homens, o homicídio é o segundo crime que mais mulheres leva para a prisão.
Em comparação, matar só aparece no quinto lugar para homens. Por outro lado, se
os delitos rodoviários estão no quarto lugar do top 5 masculino, mas na tabela
feminina esta categoria nem sequer surge. Os roubos e os furtos simples
qualificados não têm sexo: estão entre os cinco crimes cometidos tanto por eles
como por elas.
Não fazendo a distinção entre sexos, 185%
dos reclusos foram condenados por tráfico de estupefacientes, seguidos de 14,4%
de condenados por roubo e de 12,4% de condenados por furto simples e
qualificado. As transgressões rodoviárias aparecem no quarto lugar da tabela
dos crimes mais comuns - 9,7%. Será preciso esperar apenas pelo quinto lugar do
ranking para encontrar o crime com a pena mais grave do ordenamento jurídico
português: 9,7% da população prisional foi condenada por homicídio. Os
condenados por incêndio aparecem em sexto lugar - (7,1%) - seguidos dos
reclusos condenados por ofensas à integridade física: apenas 3%. Existem ainda
246 detidos que estão na prisão por abuso sexual, 203 por violação e 177 por
violência doméstica (apenas quatro são mulheres).
OUTRAS SOLUÇÕES
O retrato do sistema prisional também se
faz em sentido ascendente no que respeita a trabalho comunitário ou a
vigilância electrónica. Se em 2008 11 818 pessoas cumpriram trabalho
comunitário, em 2012 esse número quase duplicou: 20 683 pessoas condenadas
pelos tribunais portugueses prestaram serviços à comunidade em substituição de
uma pena. E se, em 2010, apenas 508 pessoas estavam sujeitas a vigilância
electrónica, esse número subiu para 671 em 2011 e para 711 a 15 de Janeiro
deste ano. A medida permite poupar dinheiro aos cofres do Estado. Se um preso
custa 40 euros por dia, um detido em prisão domiciliária custa menos de metade:
16,35 euros por dia Ou 25,7 euros diários se estiver a ser vigiado por
suspeitas de violência doméstica. Ao todo, com os 13 671 reclusos das prisões
portuguesas, o Estado gasta nem mais nem menos que 546 mil euros por dia.
Sílvia Caneco,
Ionline, 28-02-2013
1 comentário:
Muito interessante a estatística! E no que concerne à criminalidade "de gabarito"? A da banca e chorudos negócios!
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