domingo, 27 de janeiro de 2013

A outra investigação prometida


por JOÃO MARCELINO

Este trabalho jornalístico sobre o Opus Dei estava prometido desde um outro que publicámos a propósito da maçonaria, a organização secreta rival, cuja influência nacional parece bastante superior, sobretudo no mundo dos negócios.
As comparações acabam por ser inevitáveis, desde logo ao nível da discrição, secretismo mesmo, dos seus membros e nos estranhos rituais.
A predominância da maçonaria, a regular e a outra, não significa que os membros do Opus Dei não estejam presentes em lugares de destaque na sociedade. No Parlamento há apenas um deputado do Opus Dei, contra várias dezenas da maçonaria. Porém, na história da democracia, a obra já teve dois presidentes da AR (Oliveira Dias e Mota Amaral).
O Opus Dei é conhecido no seio do próprio Vaticano por controlar as finanças. Em Portugal, é também na banca que se tem notado ao longo dos anos a sua influência, em instituições poderosas como o BCP (com Jardim Gonçalves e Paulo Teixeira Pinto, este último, hoje, já fora da obra) ou o BPI (através de Artur Alves Conde e Câmara Pestana, que recentemente até levou Artur Santos Silva a participar em ações do Opus Dei).
Outro dado curioso, nas Finanças e no Governo, é que desde António Guterres - que viveu numa residência da obra, embora não seja membro - não havia no Executivo alguém ligado ao Opus Dei (Bagão participou num retiro, mas ao contrário do que muitos pensam, nunca aderiu). Porém, a última minirremodelação governamental colocou um cooperador da obra no Governo: Manuel Rodrigues, secretário de Estado das Finanças, a área a que a organização parece ter estado sempre mais atenta.
Há, no entanto, gente ligada ao Opus Dei em vários sectores, desde o futebol (Nélson, antigo defesa direito do Sporting, e Trapattoni, ex-treinador campeão no Benfica e ex-selecionador italiano) até à justiça.
Neste trabalho, além de cruzarmos fontes e ouvirmos o maior número de pessoas, entrevistámos o líder do Opus Dei, fizemos uma pequena reportagem numa ação da obra, descobrimos livros portugueses proibidos num índex e ainda tentámos desvendar, tanto quanto foi possível, o património gerido, direta ou indiretamente, pelos membros do Opus Dei. São 50 milhões de euros, mas provavelmente o número peca por defeito.
Procurámos as informações. As conclusões ficam a cargo do leitor.
Diário de Notícias, 27-01-2013

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