domingo, 23 de dezembro de 2012

Comissária europeia alerta para lóbis na justiça


Viviane Reding declara-se apoiante de Teixeira da Cruz. E quer Durão para mais um mandato em Bruxelas

"Portugal está num nível em que precisa de resolver os problemas e não procurar a perfeição absoluta" do seu sistema de justiça. Para isso é indispensável que os diferentes atores deste sector "ajudem a avançar e não sejam um travão" às reformas promovidas por "um Governo muito disponível e uma ministra muito capaz".

Palavra de comissária europeia.

Os comissários europeus costumam pautar a sua ação pelo recato e por um respeito quase religioso do politicamente correto, sobretudo quando chega a hora de comentar a situação nos diferentes países da União. Mas Viviane Reding, 6l anos, a luxemburguesa responsável pela pasta da Justiça, Direitos Fundamentais e Cidadania na equipa de Durão Barroso, tem fugido a esta regra em várias ocasiões. E não parece muito preocupada com a eventual repercussão das suas palavras quando questionada sobre o que está a ser feito em Portugal num domínio particularmente sensível e que também está abrangido pelo memorando de entendimento.

Em entrevista ao Expresso, a vice-presidente de Durão tece rasgados elogios ao trabalho de Paula Teixeira da Cruz e recomenda aos habitualmente críticos lóbis do sector que, em nome do "desenvolvimento de Portugal", deixem as suas objeções para outra altura, pois primeiro é preciso fazer e depois preocupar-se com os pormenores: "No fim, estas reformas podem não ser perfeitas em relação a um ou outro elemento, mas isso não é importante. Façam-nas! Façam

o sistema judicial funcionar, para que possa resolver os problemas. E quando isso estiver feito, então poderão afinar aqui e ali."

Para Reding, a justiça tem um contributo a dar para ajudar o país a superar a crise, pois "não se pode reconstruir uma economia forte, se não se tiver um sistema de justiça adequado."

Os problemas a resolver estão claramente identificados no memorando e para Reding a execução dos mesmos está a correr melhor do que o esperado. E dá como exemplo a lei sobre insolvências que, "em vez de empurrar empresas em dificuldades para a insolvência, tenta ajudá-las a sobreviver" e que "foi uma inspiração" para o que está a ser feito neste domínio ao nível europeu.

E, como não podia deixar de ser, a lentidão da justiça nacional também não escapa ao radar de Bruxelas: "Justiça atrasada é justiça negada e não há confiança na justiça se não se consegue obter justiça num prazo razoável." E aqui a ex-jornalista enaltece o trabalho do Ministério da Justiça na criação de uma task force de juizes para lidar com questões fiscais e na criação de tribunais especiais para casos de concorrência e de propriedade intelectual, elementos essenciais para resolver a acumulação de processos "que está a dificultar o desenvolvimento da indústria em Portugal."

Reding confirmou ainda que a Comissão Europeia tenciona apresentar "nos próximos meses" propostas legislativas para fazer face ao fenómeno das novas substâncias psicoativas, reconhecendo que o atual arsenal de leis "é um instrumento muito pesado", incapaz de lidar adequadamente com "a velocidade a que estas novas substâncias são inventadas." A comissária promete uma legislação "mais forte", mas sobretudo mais ágil: "prevejo até a possibilidade de impor medidas temporárias para retirar imediatamente essas substâncias do mercado."

Barroso mais cinco anos

Numa altura em que cumpre o terceiro mandato no executivo comunitário, o nome desta democrata-cristã tem sido ventilado como uma das possibilidades para suceder a Durão Barroso, quando este terminar o atual mandato, em 2014. Reding evita responder à questão, disserta sobre o futuro da construção europeia e o seu "sonho" — a criação dos Estados Unidos da Europa. "Temos um presidente muito bom, que é mais novo do que eu e ainda tem uma longa vida política pela frente", diz na única ocasião em que a postura hirta que mantém dá lugar a uma gargalhada. Perante a constatação de que a sua resposta não representou um "não", atira a batata quente para Barroso: "Seria uma boa ideia se o José Manuel continuasse como presidente e se ele me quiser como sua primeira vice-presidente, também continuarei." E se o José Manuel estiver a pensar em mudar de ares para Nova Iorque? "Ele ainda não me disse que gostava de ir embora."

Daniel do Rosário correspondente em Bruxelas
Expresso, 22-12-2012

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