sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Comentário de Miguel Gaspar: O consenso social foi substituído por um braço-de-ferro

O consenso social acabou. Foi substituído por um braço-de-ferro. Um braço-de-ferro entre o primeiro-ministro e o país. 
A TSU não vale isso.

Entalado entre a entrevista incendiária de Manuela Ferreira Leite, a ameaça de uma moção de censura de António José Seguro e o clamor da sociedade civil contra o agravamento da austeridade, Passos Coelho disse ao que vinha logo nos primeiros minutos da entrevista à RTP: não recuo, não recuo, não recuo.

Por coragem? Por teimosia? Por estar amarrado à troika? 

Ou, pura e simplesmente, por não ter alternativa? 

Para Passos, recuar é cair no abismo.

Mas se Passos não recuar, é o país que cai no abismo.

Ora o primeiro-ministro fez uma escolha. Ele não falou para o país. Falou para os seus adversários políticos. Em particular para os que mais o ameaçam, os que estão dentro do seu partido e dentro do seu Governo. E para Belém.

Lembrou a Cavaco, a Ferreira Leite e aos seus deputados que o FMI terá que dar luz verde ao Orçamento e às medidas que ele e o ministro das Finanças anunciaram. Lembrou ao entretanto emudecido Paulo Portas que o próprio Paulo Portas deu o visto prévio à austeridade que agora não defende. Estão todos amarrados. 

Reconheceu que esta foi a mais difícil negociação que teve com a troika. Ou seja, que o alívio das metas do défice teve um preço muito alto. E que não há margem real para mudar nada no orçamento – só para “modelar”. Mas está isolado e fragilizado.

Não reconheceu que perdeu o país na declaração de há uma semana. Não o recuperou, de todo, esta noite. E sabe-o. Mas está a ser incapaz de medir as consequências disso.

O consenso social acabou. Foi substituído por um braço-de-ferro. Um braço-de-ferro entre o primeiro-ministro e o país. 

A TSU não vale isso.
Público 14.09.2012

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