Cooperação. Vai deixar de ser obrigatória a
tradução dos documentos oficiais para que os tribunais de cada um dos países
possam proceder à captura de suspeitos procurados pela justiça.
A detenção de suspeitos portugueses em
Espanha ou de espanhóis em Portugal vai ficar mais simplificada. O acordo foi
celebrado entre os ministros da Justiça de ambos os países durante a Cimeira
Ibérica, que prevê, nomeadamente, o abandono da obrigatoriedade de se
traduzirem os mandados de detenção europeu (MDE) e outros documentos emitidos
pelos respetivos tribunais. A iniciativa visa agilizar os procedimentos na
captura de criminosos procurados na Península Ibérica. Com o acordo celebrado a
9 de maio, no Porto, não só deixam de ser traduzidos os MDE, como também as
cartas rogatórias, sendo certo que se tratava de barreiras burocráticas que
tomavam muito mais morosa a ação da justiça em ambos os países.
De acordo com fonte judicial, Espanha e
Portugal veem-se obrigados a intensificar a cooperação no combate ao crime na
medida em que cada vez mais são importantes portas de entrada de droga na
Europa, apesar da mudança drástica das rotas para a África Ocidental. A maior
parte dos estupefacientes entrados pela costa algarvia destina-se ao país
vizinho. Por outro lado, adiantou a mesma fonte, é cada vez mais comum surgirem
grupos organizados que sazonalmente atuam num dos lados dos territórios,
praticando furtos e roubos, refugiando-se logo em seguida no outro lado. Esta
mobilidade dificulta o trabalho das autoridades policiais.
No Sul, por exemplo, já se tornou famoso o
corredor Faro-Sevilha. Os grupos assaltam casas ao longo da costa algarvia e
vão refugiar-se naquela cidade espanhola. Aliás, foi ali que as autoridades
espanholas capturaram um dos fugitivos da prisão de Coimbra que cumpria pena
pela morte de uma agente da PSE
As preocupações colocam-se também no âmbito
dos furtos de arte sacra A maior parte dos objetos furtados em Portugal está a
ser localizada em Espanha e os grupos criminosos surgem cada vez mais
organizados e com recursos cada vez mais sofisticados. Por exemplo, com muita
facilidade são furtadas em Portugal estátuas de grande porte transportadas
depois para o país vizinho.
"Ambos os ministros acordaram que o
reforço desta cooperação poderá ser atingido através da dispensa de traduções –
até agora obrigatória, por virtude de nem Portugal nem Espanha não terem feito
a declaração prevista no n.° 2 do artigo 8.° da Decisão Quadro
2002/584/JAI/JAI, de 13/6, que aprovou o MDE – pelo que brevemente se procederá
às necessárias notificações de aceitação de documentos nas respetivas línguas
nacionais", explicou ao DN fonte oficial do Ministério da Justiça.
Neste âmbito da cooperação judiciária em
matéria penal, Portugal tinha também problemas na extradição de pessoas para
territórios fora da União Europeia (UE), via terrestre. Durante a mesma cimeira
foi também acordado "que Espanha iria providenciar no sentido acelerar o
necessário processo de autorização".
No mesmo contexto, "foi assinado um
memorando de entendimento entre o Ministério da Justiça da República Portuguesa
e o Ministério da Justiça do Reino da Espanha no domínio da medicina legal e
forense, que permitirá, nomeadamente, a troca de experiências e o
desenvolvimento e articulação de atividades conjuntas com terceiros Estados em
áreas ligadas à medicina forense e às grandes catástrofes de onde resultem
múltiplas vítimas", explicou a mesma fonte do Ministério da Justiça. A
cooperação judiciária entre Portugal e Espanha, recorde-se, foi um dos temas
mais aprofundados durante a Cimeira Ibérica.
DESPESAS
Custo com traduções
sobe quase 800%
O Ministério da Justiça (MJ), em 2010, gastou cerca de cem mil euros com tradutores e intérpretes. Em 2011, a fatura desses mesmos serviços atingiu quase os 800 mil euros. Uma subida que revela o aumento da criminalidade em Portugal levada a cabo por indivíduos estrangeiros que têm direito a serem acompanhados por intérpretes durante as diligências, assim como também os documentos que são juntos aos processos têm de ser traduzidos para português. Mas, segundo fonte judicial, o agravamento deve-se, sobretudo, à realização de megajulgamentos com indivíduos estrangeiros envolvendo muitos intérpretes e documentos de outros países. Entre perícias, traduções e intérpretes, em 2010 o MJ gastou cinco milhões de euros e em 2011 cerca de 3,5 milhões, dos quais deve ainda 118 mil euros.
O Ministério da Justiça (MJ), em 2010, gastou cerca de cem mil euros com tradutores e intérpretes. Em 2011, a fatura desses mesmos serviços atingiu quase os 800 mil euros. Uma subida que revela o aumento da criminalidade em Portugal levada a cabo por indivíduos estrangeiros que têm direito a serem acompanhados por intérpretes durante as diligências, assim como também os documentos que são juntos aos processos têm de ser traduzidos para português. Mas, segundo fonte judicial, o agravamento deve-se, sobretudo, à realização de megajulgamentos com indivíduos estrangeiros envolvendo muitos intérpretes e documentos de outros países. Entre perícias, traduções e intérpretes, em 2010 o MJ gastou cinco milhões de euros e em 2011 cerca de 3,5 milhões, dos quais deve ainda 118 mil euros.
Licínio Lima
Diário de Notícias de 15-05-2012
Sem comentários:
Enviar um comentário