Das lonjuras da Coreia do Sul, o Presidente Cavaco Silva elogiou o Governador do Banco de Portugal, Carlos Costa, pelo seu desempenho na crise do BES. É o que o Presidente tem a dizer sobre o assunto: está tudo bem entregue.
Estranha forma de vida, pois Costa evitou durante quase um ano qualquer consequência da informação que tinha em mãos: Queiroz Pereira dera-lhe um dossier escaldante sobre Ricardo Salgado e o contabilista da operação do Grupo no Luxemburgo prestara depoimento garantindo que desde 2008 as contas não batiam certo. Mais, há dois anos que se sabia da comissão angolana que Salgado se esqueceu de declarar no IRS (não era isso bastante para a ação da supervisão?). Foi preciso o colapso dos pagamentos e a zanga da família para que o Governador afastasse a administração e declarasse agora que nem renovaria a licença bancária a Salgado – pelos factos de que tem conhecimento há um ano.
Carlos Costa, escolhido para o Banco de Portugal por Sócrates, tem um passado ilustre na banca, que conhece como ninguém: foi diretor geral do BCP, responsável pela área internacional (2000-2004), precisamente quando se dançava o tango das offshores. Testemunha nesse processo judicial, Costa não respondeu ao Ministério Público quando lhe foi perguntado se não tinha sabido de nada ou se era como um fiel de armazém, que se limitava a assinar a encomenda. Agora, como guarda-noturno da banca, também não viu o crime e, quando ouviu o alarme, tardou em agir.
É essa forma de competência que merece o elogio de Cavaco Silva. O fiel de armazém e o guarda noturno fizeram o seu papel e por isso chegamos aqui onde estamos: a maior crise bancária europeia de 2014.
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