Nicolau Santos
O caso BPN continua a
queimar as mãos de muita gente. Tanto que, quando alguém
que esteve ligado ao banco vai para um lugar público e tem de divulgar o seu
curriculum, elimina cuidadosamente essa atividade do seu passado.
Foi isto que
fez Rui Machete, foi isto que fez Franquelim Alves, passando aos jornalistas um
atestado de incompetência e aos cidadãos um atestado de estupidez.
Não está em
causa a compra ou venda de ações de uma instituição bancária. Mas está em causa
saber 1) se toda a gente podia comprar ações do BPN; 2) se toda a gente que
comprou as viu recompradas pelo dobro ou pelo triplo do seu valor original; 3)
se esses ganhos assentavam na atividade normal do banco.
Ora para quem
não se lembra, o BPN não estava cotado em bolsa. Por isso, só comprava ações do
banco quem a administração convidava para tal. Foi assim com Cavaco Silva, que
comprou e vendeu ações do BPN tratando diretamente do assunto com o presidente
da instituição, Oliveira Costa.
Depois, a
compra de ações de ações pelo banco por valores muito superiores aos que as
tinha vendido não resultava do livre funcionamento do mercado - mas de uma
decisão da administração e, em particular, de Oliveira Costa.
Quer isto dizer
que o presidente do BPN beneficiou quem quis - e beneficiou seguramente os seus
amigos. Não por acaso, todos (ou a esmagadora maioria) os beneficiados com a
venda de ações altamente valorizadas ou com vultuosos empréstimos não
reembolsados são membros ou simpatizantes do PSD. E suponho que não é preciso
dizer os nomes.
Por isso, se
tudo fosse tão normal e transparente, Rui Machete não teria eliminado do seu
curriculum as funções que ocupou no BPN. Por isso, também não devia ter dito
que isto revelava a podridão da sociedade portuguesa.
É que se este
caso revela alguma coisa é a podridão com que altas figuras do PSD ligadas ao
Estado ganharam muito dinheiro com um banco fantasma que era liderado por uma
grupo de malfeitores.
E é esse
dinheiro fácil que está agora a ser pago, com língua de palmo, por todos os
contribuintes. Mais de 4 mil milhões de euros dos nossos impostos servem para
pagar as mais-valias e os empréstimos não reembolsados que o BPN concedeu.
Por isso, seria
de muito bom tom que todos os que lucraram com o BPN se calassem e que não nos
tentassem convencer que tudo foi limpo e transparente no dinheiro que ganharam.
É que, como de costume, os senhores privatizaram os lucros. E deixaram para os
contribuintes a socialização dos imensos prejuízos. Haja vergonha!
Expresso, 3 de Agosto de 2013
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