por Carlos Rodrigues Lima
Pinto Monteiro "lamenta" entrevista de Cândida Almeida
Ex-procurador-geral da República também diz lamentar o afastamento da magistrada do DCIAP logo após ter terminado o seu mandato.
"Lamento a entrevista, como lamento que tenha sido afastada do lugar que ocupava pouco tempo depois de ter terminado o meu mandato como procurador-geral da República". Foi esta, em declarações ao DN, a reação de Fernando Pinto Monteiro, ex-procurador-geral da República, à entrevista de Cândida Almeida ao Diário Económico, na qual a antiga diretora do Departamento Central de Investigação e Acção Penal (DCIAP) se queixou de falta de apoio de Pinto Monteiro durante a investigação do processo Freeport.
Ao fim de doze anos à frente do Departamento Central de Investigação e Acção Penal (DCIAP), Cândia Almeida elegeu o caso BPN como um dos mais complexos da sua carreira. "Aquilo mexe-se na terra e sai minhoca por todo o sítio" e, por isso, "só com o reforço de meios e apoio institucional é que se pode fazer alguma coisa, porque mexe-se numa coisa e sai", declarou a procuradora-geral adjunta.
Ainda sobre os processos relacionados com o banco liderado por José Oliveira e Costa e, entretanto, nacionalizado em 2009, a antiga diretora do DCIAP disse ainda que os procuradores do DCIAP se depararam perante "um mundo daqueles que foi construído também com todo o à vontade, mas o à vontade científico e cirúrgico", por isso, "para desfazer isto tudo, demora". O que a levou a considerar injustas as críticas por causa da morosidade dos processos.
Na entrevista, Cândida Almeida admitiu ter sido apanhada de surpresa por não ter sido reconduzida no cargo de diretora do DCIAP (foi substituída pelo procurador Amadeu Guerra). E sobre o passado recente, queixou-se de não ter sido apoiada suficientemente pelo ex-Procurador-geral República, Pinto Monteiro, durante a fase de investigação do processo Freeport. "No que se refere ao DCIAP, nunca pressionou. Não me deu foi o apoio que eu achava que merecia. Essa, digamos, é a minha mágoa. Agora, pressionar, nunca. Nem ele queria saber conteúdos de processos, é preciso que se diga", refere na entrevista, em que diz ter-se sentido pressionada, sim, mas "pelos grandes interesses opacos e sem rosto, esse tal poder do crime organizado".
O processo Freeport, recorde-se, depois de suspeitas de tráfico de influências, corrupção e branqueamento de capitais, resultou numa acusação de tentativa de extorsão contra os arguidos Charles Smith e Manuel Pedro, ex-sócios numa consultora que trabalhou para os empresários ingleses responsáveis pelo projeto do outlet de Alcochete. Em julgamento, ambos foram absolvidos do crimes que lhes foi imputado pelo Ministério Público.
Diário de Notícias, 8 Agosto 2013
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