sábado, 6 de julho de 2013

POUPEM-NOS, POR FAVOR!

Não merecíamos este espetáculo
Manuela Ferreira Leite
Será bom não esquecer que a maioria dos portugueses tem aceitado, com enorme compreensão, os sacrifícios que lhe têm sido pedidos e mesmo os que se têm manifestado publicamente, têm-no feito, salvo raríssimas exceções, de forma civilizada.
Também será de ter presente que a dureza das medidas que tem suportado, associadas à frustraçãodos resultados alcançados, são já de si fonte de desânimo no presente e de angústia quanto ao futuro. Pois, esta semana ainda fomos presenteados com acontecimentos para todos os gostos, alguns deles condimentados com pormenores vários que foram desde o insólito à vulgaridade, passando pelo surpreendente ao inexplicável, todos com o traço comum da irresponsabilidade.
O mais marcante, porque espoletou todos os que se seguiram, foi a demissão do ministro de Estado e das Finanças e a carta que divulgou dirigida ao primeiro-ministro. A este propósito, refira-se que parece ter pegado a moda de publicitar os estados de alma dos ministros demissionários o que, obviamente, não acontece por um desejo de transparência, mas para controlar a versão em que nos querem fazer acreditar.
Essa carta é um repositório de recados que vão desde a proclamada autoconfiança nos resultados obtidos quanto à recuperação da credibilidade nos mercados, o que é justo reconhecer, à atribuição de responsabilidades ao Tribunal Constitucional, até à incapacidade de liderança do primeiro-ministro. Mas o mais significativo foi a confissão de que a política em que piamente acreditou e que escrupulosamente seguiu falhou, afirmando mesmo que a queda da procura interna foi muito superior à que previu e que os custos do ajustamento no que se refere ao desemprego, nomeadamente o jovem, são muito graves.
Se este desabafo revela coragem, especialmente perante os que sempre chamaram a atenção para o erro do caminho que estava a ser seguido, também revela que somos um povo com pouca sorte.
Na verdade, é quando o ministro das Finanças toma consciência de que a política que estava a ser seguida, no sentido de eliminar tudo o que era considerado indesejável a um novo modelo de desenvolvimento, tem consequências trágicas que, em vez de a corrigir, desiste e abandona o lugar.
E quanto seria importante que o prestígio de Vítor Gaspar junto das instâncias internacionais e, nomeadamente, do ministro das Finanças alemão fosse utilizado para lhes explicar, com a sua voz autorizada e amiga, o erro que estamos a cometer! Só por má sina se perde esse contributo no momento-chave do processo de ajustamento.
Ficará a dúvida se a desistência do ministro foi por não reunir as condições para infletir a sua política, ou por não admitir a hipótese de a mudar.
Mas ficará a certeza de que a vertigem dos acontecimentos que marcaram esta semana deixaram um rasto de insegurança nos cidadãos que só pode ter contribuído para debilitar o já de si frágil ambiente social em que vivemos. Não merecíamos este espetáculo.
Expresso/Economia | Sábado, 06 Julho 2013

Sem comentários: