Público
- 25/03/2013 - 00:00
É recorrente a acusação pública sobre o fenómeno da
judicialização da política onde, em regra, estão no banco dos réus as magistraturas.
Falamos, naturalmente, de questões tão diversificadas como a investigação
criminal que envolve titulares de cargos políticos, a legítima iniciativa de
cidadãos que nos tribunais administrativos contestam por via cautelar decisões
políticas ou mesmo a intervenção do Tribunal Constitucional no exercício dos
seus poderes de fiscalização da constitucionalidade, sobretudo na dimensão
preventiva de leis controversas à luz do Estado de direito.
Os "acusadores" são, sobretudo, os que exercem poderes
de facto do alto de uma aparente intocabilidade mediática e que, com a
insinuação de que os tribunais estão a ir para caminhos que não são os seus,
pretendem apenas inibir a atuação judicial sobre aqueles que sempre se viram
como intocáveis.
Diz-se, por isso, em regra, "à justiça o que é da justiça,
à política o que é da política"! O discurso da judicialização da política
é, assim, um discurso manipulado e que serve apenas aqueles que deles se
queixam, porque por eles são ou podem ser afectados.
Para o cidadão, em regra, sobra sempre o juízo crítico sobre os
tribunais e o consequente desgaste da imagem pública da justiça. O episódio da
lei das incompatibilidades eleitorais é, claramente, mais uma pedra na
construção do desgaste sobre a actuação dos tribunais nos sistemas
democráticos.
Os autarcas "ex-presidentes" e futuros candidatos a
municípios diversos daqueles em que exerceram já funções e os seus adversários
políticos, certamente que verão nas decisões dos tribunais relativas à sua
elegibilidade ou inelegibilidade eleitoral um excelente motivo para verberar a
"incompetência", a "falta de cuidado" ou, quiçá, a
"juventude" dos juízes que decidiram da exclusão ou da não exclusão
de determinados candidatos das listas eleitorais.
Deixando, propositadamente, aos tribunais, o ónus de interpretar
uma lei que o legislador não quis clarificar e que a doutrina também não
reflectiu devidamente, remete-se para a justiça uma decisão que terá sempre um
reflexo político-partidário imediato. Os juízes, aplicando a lei, decidirão
sempre de forma livre e independente, ainda que de forma diversa, segundo a sua
consciência.
Num tempo onde a justiça deve ser objeto de outras preocupações,
os tribunais não podem ser empurrados para um jogo partidário que não lhes
pertence. Apenas cumprirão as leis e a Constituição.
Presidente da Ass. Sindical
dos Juízes Portugueses
1 comentário:
Concordo com o argumento mas entendo que o ruído à volta da questão prejudica a imagem da justiça. Que se investigue doa a quem doer, que os processos sigam para julgamento e que sejam proferidas as decisões. Se assim acontecer os portugueses reconciliar-se-ão com a justiça. Se não surgirem resultados não haverá discurso ou artigo de opinião que resulte.
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