por BAPTISTA-BASTOS
Tudo indica que o Grande Manitu das
finanças portuguesas não passa de uma fraude. O homem, tido e havido como um
génio sem par, não lhe acerta uma. De cada vez que se põe a prever, a projectar
números e concepções, sai tudo errado; pior: acontece o contrário, com a
consequência nefasta de afectar milhões de nós. Só agora, as indignações e os
vitupérios começaram a surgir. E posta em causa a competência de Vítor Gaspar.
Não se lhe exige que seja uma pitonisa de Delfos, dispondo de poderes
premonitórios quase divinos. Mas pede-se-lhe, unicamente, que faça bem o seu
trabalho: analise, compare, estatua as previsibilidades do mercado. A
experiência ideológica aplicada a Portugal, de que ele é um obediente
serventuário, conduz a um esvaziamento do próprio animus colectivo, resultado
de um empreendimento de sujeição baseado no medo, na violência e na
unilateralidade de pensamento.
No domingo, durante o programa Prós e
Contras, de Fátima Campos Ferreira, um dos melhores que vimos, o general
Loureiro dos Santos referiu que, nas Forças Armadas, um oficial superior que se
enganasse tanto e tantas vezes, já tinha sido despedido. Aliás, durante a
sessão, as críticas às definições e às decisões do Governo foram das mais
lúcidas interpretações que tenho ouvido acerca da maneira e do modo como
estamos a ser conduzidos e governados. Todo o poder encontra sempre uma
resistência, sobretudo quando actua admitindo não haver possibilidade de
escolha e de alternativa. As decisões são aceitas e tomadas em conjunto.
É, pois, preciso não esquecer de que a
desgraça que nos atinge estende-se, na sua imperiosa e grave crueldade, à culpa
de todos os membros do Executivo. Nenhum é inocente e cada um e todos terão de
ser punidos, para lá do que as urnas disserem. A correlação entre acção e indulgência,
que se tornou uma absurda normalidade, tem de ser interrompida, e os
governantes responsabilizados. Recordo que a França, após a Libertação, criou a
figura jurídica de "indignidade nacional" aplicável aos que haviam
tripudiado sobre "a honra da pátria e os direitos de cidadania."
O lado "punitivo e ideológico",
de que fala a eurodeputada socialista Elisa Ferreira, foi por eles criado e
desenvolvido com inclemência e zelo. Resgatar a tragédia aplicando-lhes o mesmo
remédio é uma tese que faz caminho, como resposta de justiça, nunca como
retaliação ou vingança. Justiça, pura e simplesmente
O que este Governo nos tem feito
representa a mais grave contraconduta social, política, cultural e humana
verificada em Portugal desde o salazarismo. O discurso oposicionista não pode,
somente, ser "diverso" e incidir, apenas, na "actualidade"
portuguesa. Os sicários deste projecto encontram-se espalhados transver-
salmente por todos os sectores da actividade europeia, mas não há batalhas inúteis,
nem lutas sem sofrimento.
Diário de Notícias, 27-02-2103
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