sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Futuro director da CIA diz que Estados Unidos usam drones para “salvar vidas”

John Brennan defende o uso secreto de aviões telecomandados pelo governo americano para atacar terroristas


DON BARTLETTI/LOS ANGELES TIMES/MCT

Numa audiência no Senado que foi interrompida por protestos na sala de activistas anti-guerra, John Brennan, o homem que nos últimos quatro anos esteve à frente da campanha secreta de drones (aviões telecomandados) usados pelo governo americano para atacar terroristas, disse que os Estados Unidos só empregam esses métodos para “salvar vidas e quando não existe outra escolha”.
Brennan, que desde 2009 é o principal conselheiro de Barack Obama para assuntos de contra-terrorismo, defendeu que o uso de drones pela actual administração tem sido “disciplinada” e “judiciosa”, notando que a opinião pública está equivocada sobre o assunto.
Ele disse que os protestos na sala – em que activistas seguraram cartazes onde se lia “Brennan = Criminoso de guerra”, entre outras frases – eram um exemplo de como “as pessoas estão a reagir a uma série de falsidades que circulam por aí”. Os drones só são usados contra alvos que planeiam atacar os Estados Unidos, nunca como um acto de punição, disse. “Nada poderia estar mais longe da verdade.”

Nomeado pelo presidente Barack Obama para dirigir a agência de espionagem CIA, John Brennan, 57 anos, compareceu perante um painel de senadores na quinta-feira à tarde numa audiência destinada a confirmar a sua nomeação. Se a sua escolha for aprovada, Brennan irá substituir David Petraeus, o ex-general que se demitiu da direcção da CIA em Novembro por causa de uma relação extra-conjugal. 
A audiência de quinta-feira – que continuará na terça-feira com outra audiência à porta fechada – destinava-se não só a examinar o envolvimento ou conhecimento pessoal de Brennan em matérias controversas, como o uso de tortura em interrogações no rescaldo dos ataques de 11 de Setembro, mas também as políticas de Obama na guerra contra o terrorismo. Brennan era um administrador da CIA quando as interrogações coercivas foram usadas, mas tem dito que não teve qualquer envolvimento no programa.  
Numa entrevista à CBS News em 2007, que foi repetidamente citada pelos senadores que ontem questionaram Brennan, ele afirmou que o uso de técnicas coercivas tinham produzido informação valiosa e poupado vidas. Mas Brennan disse que essa conclusão resultara da informação que lhe fora facultada na altura. Depois de ler um resumo do relatório (classificado) em que um grupo de senadores conclui que essas tácticas não foram eficazes, Brennan disse que, “neste momento” não sabe “qual é a verdade”.
Mas numa audiência que durou três horas e meia, Brennan recusou dizer sewaterboarding, uma táctica que consiste na simulação de afogamento, é tortura. “É repreensível e é algo que não deve ser feito”, disse. “Não sou um advogado para determinar se é ilegal ou não.”
Leon Panetta, que foi o primeiro director da CIA nomeado por Obama, não hesitou em referir-se ao waterboarding como tortura na sua audiência de confirmação. Há quatro anos, Brennan também emergiu como um potencial candidato a director da CIA, mas questões sobre o seu papel na agência quando a administração Bush aprovou o waterboarding e outras técnicas coercivas de interrogação minaram a sua nomeação. 
Na audiência de ontem, Susan Collins, uma senadora republicana do Maine, referiu-se às críticas de que os ataques de drones são contraproducentes porque vulnerabilizam a credibilidade dos Estados Unidos e ajudam a recrutar novos terroristas. “Essa é uma preocupação que devemos ter”, disse Brennan. Mas acrescentou que “pessoas que têm estado à mercê da Al-Qaeda nalgumas destas áreas têm saudado o trabalho dos Estados Unidos para remover o cancro da Al-Qaeda”.
Estima-se que 360 ataques terão sido efectuados durante a administração Obama, em contraste com os menos de 50 levados a cabo durante a administração anterior de George W. Bush. Não existe um número oficial dos ataques, dos países onde os ataques tiveram lugar, dos terroristas eliminados através dos ataques ou das vítimas civis causadas pelos ataques, porque a administração americana não reconhece publicamente a existência desta campanha. Os drones têm sido referidos como “a arma preferida de Obama”.
Público, 08-02-2013

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