02 Dezembro 2012
Por: Fernanda Palma, Professora Catedrática de Direito
Penal
Escrevo num estado de alma de máxima tristeza pela
morte de minha mãe, a quem deverei sempre a determinação e a coragem de ser
gente. Como ela dizia, sobretudo nas horas mais difíceis, é preciso "fazer
das tripas coração". Mas a minha tristeza privada não é, neste frio
Outono, totalmente diversa da angústia coletiva em que muitas famílias se vão
arrastando.
Há um cheiro a morte,
a suicídio e a atentado contra a vida no ar de Portugal. Ainda esta semana
surgiu a notícia de que poderá haver novos cortes nas pensões – incluindo as
mais baixas – e nos salários. Anuncia-se, igualmente, a retração do serviço
nacional de saúde e o ensino está a deixar de ser tendencialmente gratuito,
contra o que prescreve a Constituição.
Pelos
rostos das pessoas perpassa o pessimismo. Os responsáveis políticos não
desenham quaisquer perspetivas de solução para as nossas vidas e para a crise
generalizada em que o país mergulhou. A "grande" discussão política
parece centrar-se na escolha do tipo de definhamento do Estado social com o
qual os cidadãos melhor se podem conformar.
Devem
ser sacrificadas as pessoas mais idosas ou mais jovens? Devem ser preteridos os
aposentados ou os desempregados? Vamos regressar à esperança de vida ou aos
níveis de analfabetismo de há quarenta anos? É preferível sobrecarregar com
sacrifícios os funcionários ou atingir todos os trabalhadores? Tudo se passa como
se não houvesse alternativa.
Em
‘Felizmente há Luar’, Sttau Monteiro baseou-se numa situação ocorrida em 1817,
que compreendeu uma tentativa de revolta liberal e o posterior enforcamento de
Gomes Freire de Andrade. O luar permitiria, segundo D. Miguel, que melhor se
visse a punição dos revoltosos. Mas para Matilde, personagem feminina, o luar
simbolizava o triunfo sobre a opressão.
Escrita
em 1961, esta peça de Sttau Monteiro só pôde ser encenada em Portugal depois da
revolução, porque o antigo regime a compreendeu, corretamente, como uma
denúncia da ditadura. Com efeito, a peça foi concebida como um hino de
esperança na libertação de uma sociedade oprimida. O luar que felizmente havia
era, contra tudo, o garante dessa esperança.
O
sol é o que nos resta, apelando à força de existir e de lutar por um futuro
justo e solidário. E por um futuro realmente nosso, que não seja determinado pelo
interesse dos que estão a ganhar dinheiro à custa das nossas dificuldades. O
sol é também a luz da racionalidade que nos mostra que este caminho é sombrio.
Felizmente ainda há sol em Portugal!
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