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1. Compreendendo as palavras e posição de Aguiar-Branco quanto aos comentadores políticos, apenas se nos oferece dizer que a referência ao fato cinzento e gravata azul é profundamente redutora, nada abrangente nem de todo correcta. Aliás, não abarca nem contempla todos aqueles “faladores” e “opinantes” que hoje enxameiam e até “entopem” os media, atropelando-se uns aos outros. Ou às outras, já que não faltam senhoras que de igual modo se “entretêm” e se “divertem” em “opinações”, ”análises” e “comentários”, e não usam fato cinzento nem gravata azul.
Mas o mais curioso e relevante em tal “classe” nem será tanto a
vestimenta ou o aspecto exterior mas sim o facto de se perfilarem sempre como
umas figuras do tipo palavroso e verborreico com pretensões a “inteligentes”, a
bem informados, a analístas sentenciosos, a “intérpretes” de valia e a
infalíveis “oráculos”, uma “classe” que é hoje uma “praga” bem pior do que as
do Egipto e alastra pelas televisões e páginas de jornais e revistas. Mas o
cúmulo, mais insólito e bem pior, foi o “aparecimento” dos intitulados
“politólogos”, nomenclatura curiosa de novos “vendedores da banha da cobra” com
que nos vemos confrontados, sendo inquestionável que todo este mundo de
“falantes”, “opinadores”, comentadores, analistas, politólogos, etc., etc.
nasceu e medrou com as “abriladas” da revolução e uma disputa de afirmação por
parte da comunicação social. Uns media que vêm pagando “balúrdios” pelas
“patacoadas” vomitadas por tais figurões de fato ou vestido, desgravatados, com
barba ou ar “abrilesco” e revolucionário, e tudo isto de segunda a domingo já
que não há fim de semana e feriado que nos valham e os calem, sendo ainda de se
anotar e sublinhar os debates arregimentados e os esconsos e nada inocentes
“alinhamentos” mesmo de personagens das áreas do poder.
Aliás, não nos perturbam as cores dos fatos, das gravatas nem os
cortes e decotes dos vestidos e blusas, mas confessamos já não haver pachorra
para tais “aulas” de política de “paleio” chocho nem para os sorrisinhos ditos
inteligentes, insonsas piadas, baixas ironias, tiradas de pretenso humor,
arrojadas previ-sões e “agoiros” bolçados por tais figurões que se dizem
isentos mas que deixam escapar, a par de suas conhecidas cores e ideias, claras
dores de cotovelo, recalcadas ofensas pessoais e espírito de “vingança”. De que
aliás são exemplo muitas personagens da “família” político-governamental.
Ora toda esta “gentinha” já aborrece e incomoda, e bem mais que
os conhecidos “ homens do fraque”, pelo muito que vem “cobrando” dos
portugueses, perturbando e anulando mentalidades, inteligência, carácter e
sensatez e por querer “conduzir” e iludir o povo com enviesadas opiniões, aliás
de suspeitosas e dúbias valia e credibilidade.
á no entanto um tal JGF, de fato e gravata de cores anódinas
que, como comentador de TV, se vem perfilando como um homem sério, estudioso,
sabedor, responsável e claro nas análises e comentários, aliás em nítido
contraste com um outro opinador de sorrisinho irritante e minorca estatura,
aliás a deixar escapar sempre aleivosia, parcialidade e falta de isenção por
uma “abertura” nos dentinhos da frente.
E nem sequer nos pronunciamos sobre as “sentenças” de alguns
quanto à saída ou continuidade no governo de certas figuras, suas qualidades e
defeitos, e as “orientações“ de outros ao assumirem-se como “fazedores” de
casos e “orientado- res ” políticos. Alguns outros, a precisar de fraldas por
não conseguirem “aguentar as urinas”, como diz o povo, primam em revelar factos
e números segredados ou obtidos à socapa, perturbando o governo, acicatando
oposições e fazendo perigar a paz social.
Não se contestando a “dinossaura” Ferreira Leite por dizer que
“só existem democracias sólidas assentes numa classe média forte” e que a sua
destruição é uma “ameaça tremenda à democracia”, considerando a situação actual
“um perigo sé-rio” para isso, anota-se tão só que ainda não há muito dizia ser
conveniente suspender por algum tempo tal democracia. Sublinhando-se o seu
“renascimento democrático”, diz-se apenas que ela está para P. Coelho como o M.
Pinto para a Ministra da Justiça...
2. Louçã saiu, mas era “uma voz incómoda numa instituição onde
proliferam as competências silenciosas e domesticadas” (João Marcelino, cit. na
Lux n.º 653), para mais quando “o discurso dos responsáveis políticos,
sobretudo, atingiu o grau zero do descrédito” (José Gil, id.).
Aliás, já ninguém acredita nem respeita os políticos mas a
grande verdade é que “são eles os primeiros a desrespeitarem-se”, como disse J.
António Saraiva (id.) e nos revelam as imagens do parlamento. Uma instituição
que reclama profunda reforma, outra consciencialização, uma mais produtiva
acção e menos despesas para o Estado, sob pena de total descrédito e natural
autoaniquilação.
3. “Independência dos Juízes ameaçada pelos cortes”, titulava o
JN de 3.11.12, dando eco às palavras do presidente da A.S.J.P. ao dizer que os
cortes e as medidas de austeridade previstas no O.E.” podem atingir a
independência dos juízes”. Pensávamos que tal independência era algo de
inerente e intrínseco à função e natural consequência do carácter e formação
dos juízes, e nada ti-nha que ver com o vencimento, mas admite-se que seja
“doloroso” ter de se pôr termo a certos hábitos como fins de semana na neve,
passeios familiares e de camaradagem ao estrangeiro, carros de marca, etc.,
etc..
No entanto, e só por mera curiosidade, anotam-se os comentários
logo surgidos de que “os magistrados têm de viver com uma base material
suficiente para manter o estatuto” (Artur Costa, juiz conselheiro), “estão
menos motivados, mas o problema é de todos os funcionários públicos” (Luís
Sousa, politólogo) e “a independência é uma garantia de cidadão, não um direito
laboral ou privilégio de juízes”(M. Pinto, O.A).
Sendo já manifesto o descrédito de tal classe, há que dizer que
a independência, seriedade, carácter e integridade moral de uma função não
podem nunca estar à venda.
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